Ex-presidente do INSS negou existência de fraudes semanas antes de operação da PF

Menos de um mês antes da deflagração da Operação Sem Desconto pela Polícia Federal, o então presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Alessandro Stefanutto, garantiu ao Congresso Nacional que não havia indícios de fraudes envolvendo descontos aplicados em benefícios previdenciários. A afirmação foi feita em resposta formal a questionamentos de parlamentares preocupados com possíveis irregularidades.

No entanto, a operação realizada pela PF em abril revelou um esquema de proporções bilionárias, que teria causado um prejuízo estimado em R$ 8 bilhões aos cofres públicos. Cerca de 9 milhões de beneficiários foram atingidos por descontos indevidos aplicados sem autorização prévia, supostamente relacionados à prestação de serviços por associações e sindicatos.

Esses descontos foram viabilizados por meio de acordos de cooperação técnica firmados entre o INSS e entidades que, de acordo com a investigação, agiram de forma fraudulenta. As apurações apontam que os beneficiários sequer eram informados ou consultados antes de terem valores retirados de seus benefícios mensais.

Na ofensiva, a PF cumpriu 211 mandados de busca e apreensão em 13 estados e no Distrito Federal, além de seis mandados de prisão temporária. Entre os itens apreendidos estavam 141 joias, mais de 60 veículos de luxo e R$ 1,7 milhão em espécie, indicando o volume de recursos movimentados pelo grupo.

Um dos principais nomes ligados ao esquema é o de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, apontado como lobista e articulador de acordos entre entidades e o instituto. Entre as organizações investigadas estão a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec) e o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi/FS).

A revelação do esquema causou forte impacto político. Aliados do atual governo responsabilizaram a gestão anterior, que teria facilitado a proliferação dos convênios sob suspeita entre 2019 e 2022. O então ministro da Previdência, Carlos Lupi, afirmou ter recebido alertas sobre as irregularidades, mas alegou não ter conhecimento direto dos contratos. Em meio à crise, Lupi deixou o cargo em 2 de maio.

Outro ponto sensível revelado pela investigação é que, mesmo após a exigência de biometria facial para a liberação de descontos ter sido instituída em 2024 pela Dataprev, a direção do INSS flexibilizou esse controle, permitindo novos lançamentos sem validação total da identidade dos beneficiários.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/ex-presidente-do-inss-negou-existencia-de-fraudes-semanas-antes-de-operacao-da-pf/