Com 27 anos de existência, a Certisign se especializou inicialmente na emissão de certificados digitais, chegando ao consumidor final mais rápido do que nas empresas. No entanto, há dois anos que a companhia decidiu tomar um rumo diferente, ou melhor, mais amplo, desenvolvendo tecnologia para assinatura de documentos de forma digital e ainda soluções de identificação, como reconhecimento facial e biometria para outras organizações.
As novas soluções trouxeram novas demandas de estratégia e foi neste cenário que Julio Duram chegou na companhia como novo CTO. A missão era reestruturar a Certisign do ponto de vista de gestão de produto e tecnologia, para que ela pudesse criar outros serviços e ofertas, crescendo sua base B2B. “Nós tínhamos uma deficiência muito grande na geração, estruturação e governança dos nossos dados”, contou o executivo.
Há passos lentos, mas constantes, o executivo iniciou sua mudança implementando uma nova metodologia de trabalho. A primeira etapa foi, junto com um novo quadro de diretoria, separar a empresa em três áreas diferentes, sendo elas, certificados, assinaturas e identificação. A última voltada especialmente para o mercado B2B e com necessidade de expansão devido ao uso massivo de inteligência artificial e machine learning.
O segundo passo foi criar uma plataforma habilitadora que unisse os times de tecnologia e negócio, separando as áreas por produto e não mais por função. “Hoje nós temos quatro plataformas e o time de tecnologia está debaixo dessas quatro plataformas.”
Na nova configuração, cada plataforma possui um gestor de produto, um de tecnologia e um de negócio, os três com autonomia para definir o hold dos produtos, tanto anual quanto trimestral. Cada área possui também um desenvolvedor, um arquiteto, um profissional de cibersegurança, um de infraestrutura e assim por diante. A ideia era criar uma estrutura onde os times focassem em alcançar uma meta do serviço como um todo e não apenas nas entregas do dia a dia.
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A decisão vem um pouco da necessidade da empresa e um pouco do passado de Duram, que já atuou como CPO em empresas como a Catho e a Via Varejo SA. Até hoje, o executivo afirma ter um pé em cada lado e gostar de olhar para os produtos dos lugares onde trabalha. “Se você pensar num triângulo onde você tem a tecnologia de um lado, o negócio do outro e o cliente do outro, o que une essas três coisas e está no centro é o produto.”
A perspectiva, segundo o CTO, ajuda a focar no que realmente importa: o cliente. Para ele, o mundo da tecnologia pode facilmente desviar a atenção das empresas do propósito do negócio. “Vão ter vezes que duas pessoas a mais na central de atendimento vão ser mais efetivas que uma solução de IA, por exemplo. Então, não é a tecnologia pela tecnologia, é a tecnologia aplicada ao problema, mas o problema vem primeiro.”
Outra marca forte de sua gestão é a autorresponsabilidade. O CTO afirma gostar de criar sistemas aonde a autonomia reina entre os times. “A pessoa que agarra o problema e não a tarefa funciona melhor aqui dentro”. Para fortalecer esta visão Julio também implementou um modelo de avaliação no qual os funcionários são recompensados pelas entregas auto planejadas.
“A cada ciclo de três meses eles montam um plano e os sprints são de 15 dias para cada time desses. A equipe que escolhe o que vai fazer, desde que tenha impacto no negócio. E a gente faz 0 ou 1. Se ele entregar 99% do combinado é zero, se entregar 100% é um e a meta é ter o maior nível de assertividade possível até o fim do ano”, explica.
De acordo com Duram, demorou algum tempo até que os funcionários se adaptassem à nova metodologia. No entanto, após dois anos operando nesse sistema, já é possível ver os avanços. No começo do ano passado, a diretoria precisou alterar cerca de 5% das priorizações propostas pelas áreas de negócio. Ao refazer o processo no começo deste ano, nenhum ajuste foi necessário.
Com as equipes voltadas para as áreas de negócio, foi mais simples criar então novas estruturas e reorganizar a gestão de dados da empresa. Agora, com a casa arrumada, o CTO espera começar a colher os frutos desenvolvendo novas soluções para a área de identificação e investindo mais na experiência do cliente, como um todo.
Para isso, a Certisign está investindo em formas de apoiar seus desenvolvedores, com a criação de uma área focada na experiência dos devs e buscando trazer mais ferramentas que melhorem a produtividade por meio de IA, com softwares de vibe coding, por exemplo. A empresa também ampliou seus investimentos em UX, criando uma divisão especializada no tema e lançando uma novo site e e-commerce.
Apesar dos novos investimentos, para Duram, foi o passo a passo dentro de casa e a visão de como fortalecer sua base interna que fará com o que as próximas etapas possam acontecer. “Independentemente de hype, eu tenho a tentação de dar solução para muitos problemas que talvez não existam. E é isso que eu quero estimular aqui dentro, que quem tem o problema na mão, entenda como as novas tecnologias podem ajudar a resolver.”
Fonte: https://itforum.com.br/noticias/certisign-metodologia-tecnologia/