Uma ofensiva digital iniciada pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) desencadeou uma crise de imagem no governo Lula, obrigando o Palácio do Planalto a reagir com uma estratégia emergencial nas redes sociais.
De acordo com reportagem do jornal O Globo, o estopim foi um vídeo de seis minutos em que Nikolas acusa o governo petista de protagonizar “o maior escândalo de corrupção da história do país”, referindo-se às fraudes envolvendo descontos irregulares em aposentadorias do INSS. A publicação já ultrapassava 130 milhões de visualizações até a noite de quinta-feira (8), apenas no perfil oficial do parlamentar no Instagram.
A resposta do governo foi desenhada em uma reunião de crise na última quarta-feira (7), que contou com ministros de peso como Sidônio Palmeira (Comunicação Social), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Vinicius Carvalho (Controladoria-Geral da União) e Wolney Queiroz (Previdência Social), além de lideranças governistas como Guilherme Boulos (PSOL-SP), Lindbergh Farias (PT-RJ) e os petistas Reginaldo Lopes e Rogério Correia, ambos de Minas Gerais. O diagnóstico do encontro foi claro: o impacto digital do vídeo exigia uma reação imediata e coordenada.
A repercussão do caso nas redes já superou, segundo levantamento da consultoria Bites, o volume de interações registrado durante a crise do Pix enfrentada pelo governo no início de 2025. O levantamento revelou também que a publicação de Nikolas provocou um novo pico de menções ao escândalo do INSS, ampliando a pressão sobre o Planalto em pleno ano pré-eleitoral.
Na tentativa de retomar a narrativa, parlamentares e ministros publicaram vídeos rebatendo as acusações. O senador Lindbergh Farias, vice-líder do governo no Congresso, afirmou: “Vamos jogar luz nessa história. O escândalo começa em 2019. A CGU notificou o INSS, mas nada foi feito. Quem era o ministro? Paulo Guedes. Quem era o secretário de Previdência? O hoje senador Rogério Marinho”. Ele destacou ainda que a apuração sobre o esquema foi intensificada durante o atual governo. Apesar do esforço, o vídeo de Lindbergh somava até a noite de quinta apenas 348 mil visualizações – menos de 0,3% do alcance da publicação de Nikolas.
O ministro Vinicius Carvalho (CGU) também se manifestou: “Essas associações de fachada começaram a surgir em 2017, com aprofundamento das fraudes a partir de 2019. Foi uma ação do nosso governo que desvendou esse esquema e começou a proteger aposentados e pensionistas”. Sua declaração foi compartilhada por Gleisi Hoffmann, mas teve ainda menor tração: 112 mil visualizações.
A oposição, por sua vez, aposta que o escândalo — que já resultou na demissão do ministro Carlos Lupi da Previdência e na troca da presidência do INSS — deverá afetar diretamente a popularidade de Lula. Reservadamente, aliados de Jair Bolsonaro avaliam que a crise pode se tornar um divisor de águas para as eleições de 2026, alimentando a tese de que o governo Lula não está conseguindo controlar sua comunicação perante os ataques digitais da nova direita.
Em sua fala pública mais incisiva sobre o episódio, Vinicius Carvalho fez um alerta sobre o uso político das redes: “Não é hora de espalhar medo ou mentira. É grave usar truques de contexto para enganar o povo e politizar um tema tão relevante como o combate à corrupção.”
A batalha digital entre governo e oposição escancara a centralidade das redes sociais no debate político contemporâneo — e expõe a vulnerabilidade do Planalto frente a influenciadores digitais com enorme capacidade de viralização. Se o “efeito Nikolas” conseguirá desgastar a imagem de Lula a ponto de influenciar as urnas em 2026, ainda é cedo para dizer. Mas o alerta já está aceso no núcleo duro do governo.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/governo-lula-reage-a-video-viral-de-nikolas-ferreira-sobre-inss-que-chega-a-130-milhoes-de-visualizacoes/