Lupi anuncia saída do Ministério da Previdência em meio a desgaste por fraudes bilionárias no INSS

Conforme antecipado, em primeira mão, pelo repórter Ricardo Bruno, editor do Agenda do Poder, o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, acaba de anunciar que pediu demissão nesta sexta-feira (2), em meio ao agravamento da crise provocada pela descoberta de um esquema bilionário de descontos irregulares em aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Lupi estava no cargo desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deixa o posto sem ter sido formalmente citado nas investigações, mas sob forte desgaste político.

“Faço questão de destacar que todas as apurações foram apoiadas, desde o início, por todas as áreas da Previdência, por mim e pelos órgãos de controle do governo Lula”, afirmou Lupi ao anunciar sua saída. Ele ressaltou que seu nome “não foi citado em nenhum momento nas investigações em curso”.

A crise teve início após a deflagração de uma operação conjunta da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU), no dia 23 de abril, que revelou irregularidades na cobrança de mensalidades associativas sem autorização de aposentados e pensionistas. Entre 2019 e 2024, esses descontos somaram R$ 6,3 bilhões, embora ainda não se saiba quanto foi efetivamente desviado.

Embora o ex-ministro não esteja entre os investigados, interlocutores do Palácio do Planalto apontaram que sua permanência no cargo se tornou insustentável após revelações de que ele não teria tomado providências efetivas para estancar as fraudes, mesmo após alertas internos. Em entrevista ao jornal O Globo, no último domingo, Lupi reconheceu que houve demora em agir e revelou que sabia do aumento anormal nos descontos. “Eu sabia o que estava acontecendo, das denúncias. […] Comecei a me irritar pela demora. Só que o tempo no governo não é o tempo de uma empresa privada”, disse.

A oposição na Câmara já protocolou requerimento para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigue o caso, ampliando a pressão sobre o governo. Além disso, Lula retirou de Lupi o poder de indicar o presidente do INSS e nomeou Gilberto Waller Júnior, procurador de carreira do órgão e ex-corregedor-geral, para o cargo. Ele substitui Alessandro Stefanutto, indicado por Lupi e afastado judicialmente após a operação.

Durante a semana, o governo tentou minimizar a repercussão do escândalo. A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou que não havia elementos contra Lupi: “O presidente é sempre muito cauteloso em relação à presunção de inocência. Então, se não tem nada que o envolve, não tem motivo para ser afastado”, declarou.

A permanência de Lupi vinha sendo sustentada também por fatores políticos. Ele é presidente licenciado do PDT, partido aliado de Lula desde o segundo turno das eleições de 2022, com uma bancada de 17 deputados na Câmara. Havia temor de que sua saída levasse a legenda a deixar a base do governo. Nesta semana, o líder do PDT na Câmara, Mário Heringer (MG), chegou a declarar que a demissão poderia comprometer o apoio da sigla ao Planalto.

A crise teve impacto até nas celebrações do Dia do Trabalhador. Lula não compareceu ao evento em São Paulo, substituído pelos ministros Luiz Marinho (Trabalho) e Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), que tentaram conter os danos com declarações públicas em defesa de Lupi.

A operação da PF e CGU revelou que entidades sindicais e associativas vinham aplicando descontos nos benefícios previdenciários sem o consentimento dos segurados, como se eles tivessem se associado voluntariamente — o que, segundo os investigadores, não ocorreu. Após a operação, o governo anunciou a suspensão de todos os convênios que permitiam esse tipo de desconto.

A situação de Carlos Lupi, embora não envolva responsabilização direta até o momento, evidencia o impacto político de crises administrativas e a dificuldade do governo em blindar aliados diante de escândalos. Sua saída representa uma tentativa do Planalto de estancar o desgaste em um momento de fragilidade no Congresso, onde a base aliada já enfrenta dificuldades para aprovar pautas prioritárias.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/lupi-anuncia-saida-do-ministerio-da-previdencia-em-meio-a-desgaste-por-fraudes-bilionarias-no-inss/