General que entregou Bolsonaro abre os depoimentos de testemunhas da trama golpista

Foto:  Wikimedia Commons –

Primeiro a depor ao STF na condição de testemunha é o ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes

O Supremo Tribunal Federal (STF) dará início, nesta segunda-feira (19), à fase de depoimentos das testemunhas da ação penal que investiga a tentativa de golpe de Estado articulada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados. O primeiro a prestar depoimento é uma figura central: o general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, que confirmou ter sido pressionado por Bolsonaro ao golpe após as eleições de 2022.

Freire Gomes tornou-se a peça-chave da acusação desde que relatou à Polícia Federal (PF), ainda no início das investigações, que Bolsonaro apresentou a ele e a outros comandantes militares a chamada “minuta do golpe”, documento que previa intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Pressão no Alvorada

O depoimento prestado por Freire Gomes à PF revelou que, em dezembro de 2022, Bolsonaro convocou uma reunião no Palácio da Alvorada com os chefes das Forças Armadas. Na ocasião, teria apresentado pessoalmente a minuta golpista – documento idêntico ao encontrado na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, também réu no processo.

Segundo o general, ele e o então comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, rejeitaram de forma veemente a proposta. No entanto, o então chefe da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, teria demonstrado disposição em colaborar com a tentativa de ruptura democrática. “Acredita, pelo que se recorda, que o almirante Garnier teria se colocado à disposição do presidente da República”, consta no depoimento à PF.

Bolsonaro tenta suspender depoimentos

A defesa de Jair Bolsonaro tentou, sem sucesso, adiar o início das audiências, alegando não ter tido tempo suficiente para acessar o volume de provas reunidas pela Polícia Federal — cerca de 40 terabytes de dados. Em petição enviada ao ministro Alexandre de Moraes, os advogados argumentaram que o tempo necessário para baixar os arquivos comprometeria o direito à ampla defesa.

O pedido foi indeferido. Moraes advertiu que testemunhas com prerrogativas, como parlamentares e governadores, não podem adiar indefinidamente seus depoimentos. A Primeira Turma do STF estabeleceu o intervalo entre 19 de maio e 2 de junho para a oitiva das 82 testemunhas previstas, entre as quais estão figuras-chave como Valdemar Costa Neto, Eduardo Pazuello e Tarcísio de Freitas – todos indicados por Bolsonaro.

Os depoimentos

As audiências seguem durante as próximas duas semanas, com depoimentos realizados por videoconferência e conduzidos por juízes auxiliares do gabinete de Alexandre de Moraes. As sessões são acompanhadas pelas defesas dos réus e representantes da PGR, mas a gravação de áudio ou vídeo está proibida.

A expectativa recai, ainda esta semana, sobre o depoimento do brigadeiro Carlos Baptista Júnior, que estava em viagem e deve depor na quarta-feira (21). Testemunhas indicadas pela defesa de Bolsonaro, como o governador Tarcísio de Freitas e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, estão agendadas para o dia 30.

Fonte: https://revistaforum.com.br/politica/2025/5/19/general-que-entregou-bolsonaro-abre-os-depoimentos-de-testemunhas-da-trama-golpista-179536.html