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A confirmação do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil provocou a suspensão das exportações de frango e derivados para ao menos nove destinos internacionais. O foco foi registrado em Montenegro, no Rio Grande do Sul, e já afeta diretamente as relações comerciais do país, maior exportador mundial de carne de frango.
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), países como Chile, Argentina, Uruguai, México e Coreia do Sul suspenderam completamente as importações de aves brasileiras. Já nações como China, União Europeia, Canadá e África do Sul não receberam mais certificações de exportação do Brasil, conforme exigido por acordos sanitários vigentes.
Com cerca de 64 mil habitantes, Montenegro fica a 60 km de Porto Alegre e foi o epicentro do surto. Lá, cerca de 17 mil aves morreram em uma granja voltada à produção de ovos férteis — parte pelo vírus H5N1 e o restante abatida para conter a disseminação da doença.
Apesar do impacto, países como Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Filipinas adotaram restrições mais brandas, com embargo apenas aos produtos provenientes do município afetado. Essa abordagem de regionalização permite que outras regiões brasileiras mantenham as exportações normalmente.
Governo investiga novo possível foco de gripe aviária
O governo brasileiro decretou estado de emergência zoossanitária na região e intensificou a vigilância sanitária. No raio de 10 km ao redor da granja contaminada, propriedades estão sendo vistoriadas em ritmo acelerado. Das 510 localidades mapeadas, 238 já foram inspecionadas.
Além disso, um possível novo foco está sendo investigado em Aguiarnópolis (TO), onde uma análise preliminar identificou presença do vírus Influenza A. No entanto, há baixa probabilidade de se tratar de um caso de alta patogenicidade, segundo o Mapa. As amostras foram enviadas ao laboratório federal em Campinas (SP).
RS amplia resposta e decreta emergência em 12 municípios
Enquanto isso, o Rio Grande do Sul decretou estado de emergência em saúde animal por 60 dias em 12 municípios, incluindo Esteio, Canoas, Gravataí e Novo Hamburgo. A medida permite maior agilidade em aquisições e resposta institucional.
O decreto foi motivado não apenas pelo foco em Montenegro, mas também pela detecção do vírus em aves silvestres de um zoológico em Sapucaia do Sul.
Desafios para o agronegócio e riscos sanitários
Até o registro atual, o Brasil era o único grande exportador mundial de frango livre de casos comerciais de gripe aviária. A nova realidade impõe desafios para manter a reputação sanitária do país no mercado global, especialmente num cenário em que surtos podem comprometer a segurança alimentar e a economia de diversas regiões.
O H5N1, altamente letal para aves, é uma variante do vírus influenza que já provocou surtos em vários continentes. Sua transmissão é rápida, especialmente em granjas com alta densidade populacional.
Em 2023 e 2024, o surto de gripe aviária H5N1 foi um teste real para a capacidade de resposta do país a doenças zoonóticas. Mas o governo brasileiro reagiu rápido para proteger a indústria avícola. Porém, recentemente revelou falhas preocupantes na coordenação com a saúde pública e o meio ambiente.
Especialistas alertam para os riscos do “spillover zoonótico”, quando vírus saltam de animais para humanos.
O maior risco ocorre quando essas aves entram em contato com criações domésticas e/ou comerciais, disseminando o vírus entre galinhas, patos e outras espécies de criação.
Com sua vasta biodiversidade e produção agropecuária intensiva, o Brasil está entre os países mais vulneráveis a esse tipo de ameaça. A gripe aviária, nesse contexto, é também um alerta para a importância da integração entre saúde animal, humana e ambiental — o chamado conceito “One Health”.
Fonte: https://iclnoticias.com.br/economia/gripe-aviaria-destinos-suspenderam/