Semeadores da terra – Revista Cult

Mhamed Yazid e Fanon representando o Governo Provisório da República Argelina (GPRA) na Conferência Interafricana de Leopoldville, organizada pelo então primeiroministro do Congo, Patrice Lumumba, em 1960 (Fanon Archives/Imec)


“O mundo deles é quadrado, eles moram em casas que parecem caixas, trabalham dentro de outras caixas, e para irem de uma caixa à outra, entram em caixas que andam. Eles veem tudo separado, porque são o Povo das Caixas.”
(frase de um pajé do povo Kaingang, recolhida por Lúcia Fernanda Kaingang)

Essa fala de nosso ancião me lembra uma passagem de Os condenados da terra, de Fanon, quando diz que o mundo colonial é um mundo de compartimentos. Encontramos diversas confluências, para usar um termo caro a Mestre Bispo, entre perspectivas fanonianas e indígenas. Neste ensaio, trarei apenas algumas dentre as muitas possíveis, enfatizando aquelas que abordam o tema da “natureza”.
Essa compartimentalização do mundo colonial vai desde as noções racializadas de mente e corpo – relação na qual a pessoa branca seria correspondente à mente, enquanto pessoas não brancas corresponderiam a corpo – até a própria relação binária entre natureza e cultura, selvagem e civilizado, humano e animal, conforme Deivison Faustino.
Nisso, se o que distingue o humano dos demais bichos é a capacidade de pensar, há uma correlação na qual pessoas negras e indígenas seriam menos humanas por sua suposta incapacidade de pensar. Se pensamos menos, só o que nos sobraria é o corpo.
A partir do momento em que o branco é tomado como representante universal do humano, o subtexto é de que “quem não for branco não é tão humano assim”, ainda segundo Faustino. Se compreendemos a violência do racismo como assente na desumanização, é indissociável desse movim

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Fonte: https://revistacult.uol.com.br/home/semeadores-da-terra/