A frase “Eu odeio pobre” dita por um pastor durante uma conferência em Foz do Iguaçu (PR) gerou revolta nas redes sociais. O vídeo mostra Nicoletti, líder da Igreja Recomeçar, declarando ódio aos pobres, distorcendo a imagem de Jesus Cristo e atacando o presidente Lula com ofensas. A fala completa deixa claro o teor da pregação: “Eu odeio pobre. E eu vou dizer que Jesus nunca foi pobre. E se você falaram isso, mentiram. Porque o pobre não é tão pobre financeiramente, ele é vítima de alguém que o fez ficar pobre. Ele sempre entende que o mundo deve para ele, e a culpa é de quem tem mais.”
Gravado no dia 25 de maio, no Rafain Palace Hotel, o discurso segue com mais absurdos: “Todo ladrão tem o discurso de ajuda ao pobre. Só que não é só o ‘nove dedos’, não. Tem um monte de cristão ladrão dentro da igreja, que rouba no altar e critica a corrupção lá fora, mas que é corrupto dentro da igreja.” A declaração carrega preconceito de classe, agressões à fé cristã e um ataque direto ao presidente da República.
As redes reagiram com indignação. Em uma publicação do pastor ao lado de crianças africanas durante uma missão, internautas não pouparam críticas. Comentários como “Querendo gerar comoção”, “Para alguém que falou que Jesus não gostava de pobre, tá fingindo bem”, e insultos como “mercador da fé” e “filhote de Belzebu” tomaram conta do perfil. Ainda assim, houve quem o defendesse.
Diante da pressão, Nicoletti tentou recuar. Disse que tudo foi tirado de contexto e alegou: “O que eu sempre digo — e reforço há anos — é que odeio a pobreza, não o pobre. A pobreza é um sistema opressor que limita vidas, mata sonhos e mantém pessoas presas à escassez.” Tentou ainda justificar a fala ofensiva contra Lula como uma “expressão pessoal de indignação diante de fatos públicos”, e pediu desculpas: “Peço desculpas. Essa fala não reflete a posição institucional da Igreja Recomeçar, que respeita a autoridade civil e defende o diálogo construtivo, mesmo quando há divergências políticas.”
A tentativa de reposicionar o discurso veio acompanhada de críticas ao assistencialismo. “Não me referi a ações legítimas de assistência ou justiça social, mas à esmola que apenas perpetua a dependência, sem promover a transformação. Quando a ajuda não liberta, ela escraviza. A Bíblia ensina a socorrer o necessitado, mas também a capacitar. Eu entendo que ajuda emergencial é necessária, e a igreja inclusiva realiza ações sociais, mas venceu com expansão da mente, não com dependência.”
Ao tentar justificar a ideia de que “Jesus nunca foi pobre”, o pastor citou elementos bíblicos fora de contexto para alegar que Cristo vivia com provisão: “Não quero dizer que Jesus era rico nos moldes modernos, mas sim que Ele nunca foi escravizado pelas deficiências — e essa é a herança que acredita que os filhos de Deus podem ter.”
Nicoletti se apresenta como alguém que superou a pobreza: nascido em 1981 em um vilarejo simples no interior do Paraná, afirma ter vivido fome e escassez. “Conheci a fome. Passei vergonha por não ter o que vestir. Senti na pele o que é limitado financeiramente.” Mas ao invés de empatia, escolheu o julgamento e o desprezo por quem vive a mesma realidade que ele um dia enfrentou.
No fim, ele tenta suavizar o estrago dizendo que a missão da igreja vai além do espiritual: “A igreja deve atuar de forma espiritual, social e prática. Ela deve pregar tristeza, salvação, liberação e, ao mesmo tempo, capacitar pessoas para romper ciclos de escassez, viver com dignidade, gerar recursos e transformar ambientes.”
Fonte: https://horadopovo.com.br/fala-de-pastor-que-diz-que-odeia-pobre-gera-revolta-nas-redes-sociais/