No mês de fevereiro, o chef Gerard Barberan, à frente do grupo Bottega Bernacca, do restaurante japonês Kuro e do bar Shiro, todos em São Paulo, viajou ao Japão para um evento super especial com Fernanda Ferrer, sua companheira e responsável pelo marketing e hospitalidade dos empreendimentos do casal. Lá, ele cozinhou em seu lugar predileto na cidade de Hiroshima: no Kobito, um Izakaya comandado pelo casal Aya e Seishi. O menu do jantar teve o objetivo de harmonizar massas e saquês.
Foram quatro pratos preparados com ingredientes selecionados no Toyosu Market, o maior mercado atacadista de peixes e frutos do mar do mundo, localizado em Tóquio – a cerca de 800km de Hiroshima. O turista não tem acesso a esta parte do mercado, sendo a venda destes produtos aberta apenas para restaurantes, mercados e profissionais da área. “Fizemos contato com um pequeno vendedor do mercado e nos atenderam amavelmente. Compramos todos os insumos em uma quinta-feira e eles chegaram em Hiroshima no domingo”, conta o chef.
Com o kurama ebi (camarão), murasaki uni (ouriço do mar) e yari ika (lula) em mãos, por exemplo, um spaghetti allo scoglio foi reinterpretado capturando a essência do mar. A tradição italiana também foi abraçada com um toque local com o preparo de um risoto al pomodoro, feito com arroz Shobara orgânico de Hiroshima. Esses e outros passos da noite tiveram como ponto de ligação a paixão pela comida e a amizade entre os chefs.
Um dos restaurantes do grupo Bottega Bernacca é dedicado à culinária japonesa. O chef abriu e assumiu o Kuro em um pequeno e moderno salão nos Jardins, em São Paulo, em 2018. Ele ressalta que o que antes era curiosidade virou obrigação. Muita pesquisa, leitura e vivências durante estes anos contribuíram e ainda contribuem para o andamento do negócio.
Nestes dias no país, o chef fez mais uma grande imersão. Com o olhar sempre atento, busca entender como os estabelecimentos funcionam, desde execução de prato até toda a parte de hospitalidade – dos tradicionais aos modernos. Na mala, ele e Fernanda voltaram com experiências inesquecíveis que fizeram questão de compartilhar com a CNN Viagem & Gastronomia. Confira uma lista dos lugares preferidos do casal em Hiroshima e Tóquio:
Hiroshima
Apesar de Hiroshima carregar no nome a tristeza de um passado que ficou marcado por ter sido o primeiro alvo da bomba atômica, a cidade carrega muitos lugares interessantes para serem visitados com muita história e boa gastronomia. Para chegar lá, o turista pode pegar um voo saindo de Tóquio (que durará aproximadamente 1h30), um trem-bala (cerca de 4h) ou ir carro e ônibus em uma viagem que pode demorar em torno de 9h.
Uma vez em Hiroshima, experimentar o prato típico do local, o Okonomiyaki, é algo imperdível para colocar em sua lista, segundo o chef. A origem da receita começou no período pré-guerra como um prato chamado issen yoshoku, composto por pasta de farinha cozida com cebola, camarão seco e condimento. Era visto como uma espécie de lanche que podia ser consumido casualmente em confeitarias e similares da cidade. Pós-guerra passou a ser visto como uma refeição, quando ingredientes mais sólidos, como trigo, repolho, ovos, frutos do mar, macarrão de trigo sarraceno, passaram a ser adicionados.
Ele indica o Okonomimura, um edifício repleto de restaurantes especializados neste prato, para ser visitado.
Okonomimura: 13 Shintenchi, Naka Ward, Hiroshima, 730-0034, Japan/Tel.: +81 82-241-2210/Mais informações pelo site.
O chef indica o Sushi Matsu para aqueles que buscam um omakase com ótimo custo benefício. “Eles utilizam bastante a konro (tipo de churrasqueira japonesa) em seus preparos e priorizam ingredientes locais”, explica.
O menu fechado sai por pessoa por volta de 12.500 mil ienes (cerca de R$ 416 reais por pessoa). O chef ressalta que a mesma experiência pode sofrer alteração de preço de acordo com os insumos do dia – que sofrem variação de valor – e das iguarias servidas. A casa foi fundada há dois anos e trabalha com produto local, vindo de pequenos pescadores da região.
Outro ponto importante que ele destaca é que no Japão alguns estabelecimentos mais novos acabam tendo um valor menor. Por lá, a tradição conta muito, então, quando um restaurante abre as portas, ele quer primeiro ser reconhecido. “A cultura do esforço e reconhecimento à base do tempo é muito forte. No começo, eles acabam trocando seis por meia dúzia com a intenção de ganhar um cliente. É uma inversão de outras culturas que já abrem visando o lucro”, aponta.
Sushi Matsu: 〒732-0828 Hiroshima, Minami Ward, Kyobashicho, 8−11−101, Japão/Instagram
Para passar uma noite tipicamente japonesa, com direito a kimono e tudo, a recomendação do casal é se hospedar ao menos uma noite no Sekitei, um ryokan tradicional japonês. O local, cercado de montanhas, conta com um lindo jardim com fonte de água termal e acomodações confortáveis para relaxar. No site do hotel, é possível encontrar planos de hospedagem que partem de um dia, com direito a almoços/jantares e programação para o hóspede desfrutar de toda a experiência de suas dependências – a diária custa cerca de R$ 5.000.
“É um sonho para qualquer pessoa que viaja ao Japão. Ele está em frente à Miyajima. Não é muito barato, mas vale a pena a experiência. Você tem todos os serviços exclusivos dentro do quarto, com uma pessoa servindo todas as refeições. Com direito a ofurô no quarto, kimono e aqueles chinelos de madeira, você se sente em outra época, experimentando os rituais japoneses”, enfatiza.
Sekitei: 3 Chome-5-27 Miyahamaonsen, Hatsukaichi, Hiroshima 739-0454, Japão/Mais informações pelo site
Outro ponto que o chef traz como recomendação em sua lista é a Kintaikyo Bridge, uma ponte histórica em formato de arcos de madeira (são cinco arcos). Ela fica localizada na cidade de Iwakuni, na província de Yamaguchi, e oferece uma linda vista do Castelo da cidade – há opção também de fazer uma excursão até ele.
Atravessando o rio Nishiki, ela foi originalmente construída em 1673, sendo arrastada por um tufão em 1950. Três anos depois ela foi reconstruída com base em seu projeto original. Para chegar até lá, o turista pode partir de trem de Hiroshima das estações Yamaguchi e Fukuoka nas linhas JR e desembarcar na estação Iwakuni – mais informações sobre o acesso podem ser encontradas neste link.
Miyajima, uma pequena ilha turística na baía de Hiroshima, também tem seu lugar reservado nas indicações de lugares imperdíveis do chef. Famosa pelo seu portão flutuante Torii, do Santuário Itsukushima, ela oferece belas paisagens e lojas de souvenires “Além da chance de ver veados selvagens que circulam livremente”, comenta.
Tóquio
A cidade de Tóquio impressionou o chef e Fernanda Ferrer pelo seu tamanho e limpeza. “Você vê gente por todo o canto, mas tem muito silêncio. Não é caótico. Tem trânsito, metrô lotado como qualquer grande cidade, mas é um lugar moderno e organizado. É iluminada e vibrante”, ressalta o Gerard que faz também questão de ressaltar que no Japão a pontualidade não é opcional, é obrigatória. Para todos os restaurantes da lista, a reserva é obrigatória.
Lá, o casal foi atrás principalmente dos balcões visando sobretudo a qualidade de produtos. Os preços acabam sendo altos, mas são avaliados por eles por terem um bom custo-benefício diante do que é servido.
Eles contam que os modelos dos restaurantes de lá são bem parecidos. De 4 a 6 entradinhas, de 10 a 16 sushis, indicados sempre por conhecidos ou frutos de pesquisa por listas renomadas.
Restaurantes
Segundo as indicações do chef, o Sushidokoro Takehara, em Tóquio, oferece um omakase com excelente custo-benefício e um ambiente acolhedor. Apesar de ser um pouco afastado do centro turístico, ele considera que vale a pena a visita. O comandante do local é um chef de 25 anos.
Por 25 mil ienes (aproximadamente R$ 833 reais), Barberan analisa esta como uma das melhores refeições de toda a viagem
“Desde a simpatia no atendimento ao padrão impecável do sushi, o local cobra e entrega um grande produto com qualidade. Come-se bem e você se sente acolhido. São 6 lugares no balcão principal e quatro ao do lado. O chef trabalha sozinho durante o atendimento”, explica o chef, que já conhecia o local da primeira vez que foi ao Japão e repetiu a dose. Ele fez a reserva direto pelo Instagram do restaurante.
Sushidokoro Takehara: 150-0013 Tokyo, Shibuya City, Ebisu, 3 Chome−30−12 Mercury Ebisu 3F/Instagram
Para o chef, o Ajuuta é notável por seu incrível omakase com harmonização de vinhos e saquês, atendimento amigável, dois sommeliers que falam inglês e localização conveniente (próximo à estação de Shibuya). Além disso, fica ao lado do bar favorito do casal, o Bellwood.
“É um espaço mais elegante. São oito pessoas por noite e dois sommeliers, um de cada lado do chef, fazendo a harmonização com vinho branco, saquê e vinho tinto para os 8 clientes da noite. É um pouco mais caro, mas entrega. Avalio como um ótimo custo-benefício principalmente pela harmonização.”, ressalta. O jantar, junto com a harmonização, custou cerca de 44 mil ienes (cerca de R$ 1450).
“É muito agradável poder disfrutar da cozinha do chef e entender a grande possibilidade de harmonização que tem jogo entre acidez, gordura e dulçor com vinho e saquê”, completa.
Ajuuta: B1F, 1-5-11 Tsukiji, Chuo-ku, Tokyo, 104-0045, Japão/Instagram
Para quem sente falta de uma boa massa italiana, o Primo Passo é a escolha ideal em Tóquio. Esse restaurante oferece um omakase que equilibra perfeitamente ingredientes japoneses e italianos, sob o comando de um chef que trabalhou no três estrelas Michelin Quattro Passi, em Nápoles. Atendendo 7 pessoas por horário no balcão, o jantar dura cerca de três horas e tem uma comida impecável, segundo o casal.
“Tínhamos o interesse de ver como o japonês raciocina a cozinha italiana. O chef, de 31 anos, morou durante quatro anos no sul Itália e entregou um menu sozinho de aproximadamente 12 pratos, com ouriços, peixes, carnes e iguarias por todo o canto. Foi um pouco demorado, acaba cansando um pouco, mas o sommelier foi muito atencioso e deu mais coisas para gente provar, explicando tudo o que era perguntado”, enfatiza.
O valor do jantar por pessoa foi de aproximadamente 16 mil ienes (cerca de R$ 532,55), com opção de harmonização de cerca de 9 mil (aproximadamente R$ 300).
Primo Passo: B1F, 1-5-11 Tsukiji, Chuo-ku, Tokyo, 104-0045, Japão/Sem Instagram
Bares:
Um dos bares preferidos dos dois é o The Bellwod. No andar superior, está o BW Cave, um izacaya que serve Martinis no tap (torneiras) e Highballs. Este último foi recém-inaugurado é mais descolado e moderno. “Tem um estilo underground. Casaria muito bem em uma esquina da Vila Madalena, por exemplo. O do andar inferior é mais autoral e elegante”, completa.
The Bellwood: 41-31 Udagawacho, Shibuya City, Tokyo, Chiba, 150 0042/Instagram
Outra indicação é o The SG Club, que possui outro bar no andar inferior com coquetelaria e drinques autorais. São três andares. Em um deles funciona um “cigar club”, um ambiente mais aberto onde as pessoas fumam charuto e tem um pequeno bar. O SG é uma pegada mais tropical do sudeste asiático, com drinques mais frescos e menos rebuscados. Ainda há um outro bar, em outro andar, com uma coquetelaria autoral mais elegante, com inspiração japonesa.
The SG Club: 1 Chome-7-8 Jinnan, Shibuya City, Tokyo, Japan/Instagram
Se você quiser ouvir um pouco de português, o Trench Bar, do brasileiro e descendente japonês Rogério Madruga, é uma boa opção. Um bar tranquilo, com coquetelaria autoral. Todos os bares têm algo para petiscar.
O Trench Bar: 1F, 1-5-8 Ebisu-Nishi, Shibuya-ku, Tokyo, 150-0021/Instagram
Para os aficionados por café, a visita ao Koffee Mameya Kakeru é obrigatória. Esse estabelecimento requer reserva e oferece uma experiência única de degustação de cafés e coquetéis à base da bebida.
Koffee Mameya Kakeru: 2 Chome-16-14 Hirano, Koto City, Tokyo 135-0023, Japão/Instagram
Compras e passeio
A Kappabashi Street, no bairro de Asakusa, é um paraíso para os entusiastas da culinária, com uma variedade de lojas de facas e utensílios de cozinha. Turística, lojas grudadas uma das outras. É lá que o chef compra itens para seus restaurantes, como taças, pratos e copos. É sempre um bom lugar para um passeio.
O Templo Senso-ji, também em Asakusa, é o templo budista mais antigo de Tóquio e está cercado por lojinhas que vendem comidas e lembrancinhas típicas. Uma vez em Tóquio, uma passada por lá é quase obrigatória. Construído em 628 d.C, o Templo Sensoji foi reconstruído quase 20 vezes no decorrer da história e tem diferentes dependências para serem visitadas, como o seu salão e portão principais.
Templo Senso-ji: 2-3-1 Asakusa, Taito-ku, Tóquio, 111-0032/Mais informações pelo site.
Um dos principais bairros comerciais de Tóquio, o Ginza reúne as principais lojas de marcas de luxo, bares e restaurantes. O chef indica as lojas de whisky e de outros destilado japoneses, enquanto Fernanda aponta como imperdível para as mulheres a Shiseido Store, uma loja de cosméticos.
Para um câmbio vantajoso, eles indicam o Ninja Money Exchange, em Shinjuku. Já para a conexão de celular, a sugestão é o E-SIM da Airalo, uma excelente escolha para quem precisa de internet móvel durante a viagem.
Sobre Gerard Barberan
Da Catalunha foi para Ibiza, onde viveu por 12 anos e realizou a abertura do Cipriani Ibiza, em 2012 – no mesmo ano trabalhou como junior sous chef do Cipriani Abu Dhabi. E foi lá, na animada ilha espanhola no Mar Mediterrâneo, que conheceu Davide Bernacca, empresário que o trouxe para São Paulo em 2016.
Em solo brasileiro, fez a abertura da casa Bottega Bernacca Due e retornou a São Paulo em 2018 para abrir o Kuro, que serve culinária japonesa num pequeno e moderno salão nos Jardins.
Após mais andanças, como a abertura do Las Piedras em Punta Del Leste, foi somente em 2019 que o chef fincou raízes no Brasil e decidiu fazer de São Paulo sua morada. À frente das Bottegas Bernacca e da operação do Kuro, Barberan também realiza consultorias e mistura com maestria seus conhecimentos da cozinha espanhola junto da italiana e japonesa.
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Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/viagemegastronomia/insiders/os-imperdiveis-de-toquio-e-hiroshima-no-japao-para-incluir-no-seu-roteiro/