Mobilização pela reestatização da Cedae cresce em meio a demissões e falta d’água no Rio

Às vias de lançar mais um plano de demissão voluntária (PDV) e deixar centenas de trabalhadores sem emprego, a Cedae [Companhia de Água e Esgoto do Estado do Rio de Janeiro], foi alvo de um grande protesto nesta quinta-feira (26).

Durante o ato foram denunciados os problemas decorrentes da privatização da companhia, como a falta de água e as altas tarifas praticadas pela empresa. Representantes de diversos setores da Cedae, dos movimentos sociais e de comunidades afetadas pela escassez de água, reiteraram, na ocasião, a importância do saneamento público e de qualidade.

Os participantes ressaltaram que a água é um direito humano essencial e, portanto, é urgente um serviço público que satisfaça as necessidades da população. As várias intervenções citaram os desafios enfrentados por comunidades devido à precarização dos serviços após as privatizações, incluindo relatos de falta de acesso à água potável e o aumento das tarifas.

Os movimentos sociais ressaltaram que a privatização não apenas afetou a qualidade dos serviços, mas também agravou a desigualdade social, deixando as populações mais vulneráveis em uma posição de dependência do mercado no que diz respeito ao acesso a um recurso essencial, como a água.

Em Niterói, na sexta-feira (27) – três dias após a Cedae informar à população que o Imunana-Laranjal, sistema que abastece à cidade, operava com volume total, – a “nova” foi de que o fornecimento para Niterói seria reduzido porque o sistema passou a operar com 89% de sua capacidade. A justificativa: a estiagem. 

“Com isso, o abastecimento está reduzido para os municípios de São Gonçalo, Niterói, Itaboraí [água bruta], parte de Maricá [Inoã e Itaipuaçu] e a Ilha de Paquetá – áreas atendidas pelas concessionárias Águas do Rio e Águas de Niterói”, afirmou a Cedae em nota, sem esclarecer, porém, o que representa ‘abastecimento reduzido’, de acordo com o “A Seguir”. 

“Quando a produção de água diminui, a distribuição de água também é reduzida. Para mais informações sobre as áreas afetadas, entre em contato com a concessionária Águas de Niterói, responsável pela rede distribuidora, que poderá informar sobre manobras para redirecionamento do abastecimento”. 

A alegação da empresa é a seca que afeta o estado do Rio de Janeiro. Questionada pelo veículo sobre o atual nível dos rios, a Cedae informou que “não é o órgão responsável pelo monitoramento dos rios e mananciais”. A orientação é para que os consumidores otimizem o uso da água “durante o período de redução”, de forma equilibrada, adiando tarefas não essenciais que demandem grande consumo”.

O período de estiagem – e o seu prolongamento – naturalmente impacta no volume dos reservatórios, mas o fato é que os moradores de Niterói já sofrem com a falta de água há alguns meses, bem antes do período de seca. “As interrupções ou baixa na pressão da água têm sido constantes”, disse ao Extra em abril o consumidor Domingos Ricardo. 

“Abro protocolos toda semana. Quando entrei em contato hoje, fui informado que o abastecimento estava cortado e, logo após isso, o atendimento foi interrompido”, completou o morador. 

Ao jornal, a Águas de Niterói, que atua na distribuição [a captação é feita pela Cedae], justificou que a nova interrupção do serviço era pontual devido a um novo problema de contaminação da estação de tratamento Imunana-Laranjal. Sobre a queixa do morador, a empresa não respondeu. 

FALTA D’ÁGUA 

Moradores de diversos bairros da Zona Norte do Rio de Janeiro também enfrentaram, mais uma vez, a interrupção do abastecimento. Na manhã desta quarta-feira [25], um novo vazamento em Bonsucesso agravou a situação, afetando também Higienópolis, Olaria, Ramos e a comunidade Parque União. 

Desde que foi privatizada, em abril de 2021, a Cedae tem deixado, repetidamente, milhares de moradores do Rio e da Baixada Fluminense conviver com a falta frequente de água nas torneiras. Até escolas e postos de saúde têm sido afetados.” Antes, com a Cedae, a gente não tinha problema. Nunca faltou água. Mas, agora, com essa nova empresa, virou uma desgraça”, critica a aposentada Maria do Carmo Santana, moradora de São João do Meriti, na região. 

Segundo ela, mal a nova concessionária Águas do Rio assumiu o serviço, as contas aumentaram e o fornecimento piorou. “A maior parte do tempo, não temos água. Nesta semana, por exemplo, não vai água desde domingo passado. E detalhe: o valor da conta dobrou”, afirmou. A reclamação é de fevereiro de 2024. 

As queixas sobre a disparada no valor da tarifa são muitas e frequentes. A gente não aguenta. “A gente tem que gastar dinheiro comprando água pra poder beber”, disse à época a desempregada Amanda Viana, também moradora da Baixada Fluminense. “Se paga, tem que ter a água. Mas a empresa vem quando quer. Tá terrível sem água. Como se tivesse numa guerra”.

DEMISSÕES 

Sem compromisso em entregar um serviço de qualidade à população – e não satisfeita com os lucros obtidos com as salgadas tarifas – a Cedae avança na perspectiva de aumentar, cada vez mais, os seus lucros. Até o final do ano, a companhia vai apresentar mais um plano de demissão voluntária (PDV). A nova “iniciativa” visa enxugar custos e estimular o interesse de potenciais investidores no futuro próximo, disse à Reuters o presidente da companhia, Aguinaldo Ballon.

O novo PDV deve suprimir cerca de 900 postos de trabalho e vai impulsionar o programa de desligamento promovido no ano passado que não atingiu as metas defendidas pela empresa.” Estamos falando de uma economia de 10 milhões [de reais por] mês, ou seja, 120 milhões ao ano fora os gastos com gratificações, bonificações e encargos”, disse Ballon. 

A Cedae conta atualmente com cerca de 3 mil empregados e uma folha de pagamento de 30 milhões de reais. A expectativa é que, com o corte de empregos, a companhia supere em 2024 os cerca de 480 milhões de reais obtidos em 2023. Ou seja, às custas do desemprego e das tarifas exorbitantes impostas à população. Já a qualidade do serviço, bem… “A Cedae tem investimentos a fazer e precisa se financiar”, declarou seu presidente. 

Fonte: https://horadopovo.com.br/mobilizacao-pela-reestatizacao-da-cedae-cresce-em-meio-a-demissoes-e-falta-dagua-no-rio/