É com uma intensidade musical característica que a banda potiguar Far From Alaska retorna, neste mês de março, com o álbum inédito “3”. E é, também sem perder a essência da banda, que as 12 faixas do disco fazem o ouvinte mergulhar e se sentir afundar – no melhor dos sentidos – no oceano do Far From Alaska, parecendo que a cada música, uma nova profundidade é atingida.
Esse novo álbum vem num momento de novas águas para os integrantes da banda: ele representa um período pouco antes do hiato que o Far From Alaska irá entrar. Isso significa também que é hora de novas aventuras para os membros da banda, que deixam para os fãs aquela expectativa positiva pelos novos projetos, com um gostinho de saudade e de espera pela volta.
Emmily Barreto (vocais), Cris Botarelli (Steel Guitar, Sintetizador e vocais) e Rafael Brasil (guitarra) são os nomes por trás dessa história cheia de beleza e paixão pela música. Eles prometem, no “3”, uma variedade de ritmos até mesmo improváveis e entrega, com maestria, um som que agrada a todos os gostos, passando pela batida forte do rock brasileiro assim como a melodia dançante do pop e do off-beat do reggae.
No novo disco, a música explora o pop eletrônico, com momentos de guitarra fortes, mas também não economizam no sintetizador, nas batidas fortes que nascem com os recursos digitais utilizados na produção.
Uma das músicas conta com um feat com Lenine, que traz uma voz mais grave em diálogo com os agudos da vocalista Emmily Barreto, junto de uma batida mística e misteriosa, mas cheia de sentimento. Outras colaborações do disco, com Medulla e Pato Banton trazem um rock e um reggae mais característico, respectivamente.
Voltando às conversas sobre intensidade: ao contrário do que muita gente pode pensar, o Far From Alaska não é ligado somente ao gênero musical do rock. Na verdade, o que eles querem mesmo é navegar entre os mais diversos ritmos e melodias, fazendo uma mistura incrível e inesperada. Quem fala mais sobre isso é o guitarrista Rafael Brasil que revela, em entrevista à Cultue, que mesmo com o hiato da banda, os fãs podem esperar muitos projetos e iniciativas solo de todos os integrantes.
Revista Cultue – O novo álbum, o “3”, chega nesse momento marcante para vocês. O que ele representa?
Rafael Brasil – Esse novo álbum demorou bastante para sair, foi um álbum que a gente começou a pensar nele na pandemia. A gente sempre foi uma banda muito analógica, a gente sempre fazia [música] com todo mundo junto, no estúdio. E quando veio a pandemia, a gente não pôde mais se encontrar, não pôde mais se ver. E também no mesmo momento, o baterista da gente estava saindo da banda.
Nós éramos cinco pessoas aí em Natal, e a gente veio pra São Paulo com cinco integrantes também, mas o baixista saiu, e na pandemia o “batera” saiu. A gente decidiu continuar só nós três, mas com esse desafio de fazer um disco à distância.
E eu e a Cris, a gente começou a estudar coisas de áudio digital e fazer as coisas no computador, que era uma coisa que a gente odiava. A gente nunca se gravava e mandava coisas um pro outro, era sempre fazer junto mesmo.
A pandemia meio que fez a gente começar a estudar o áudio, assim, de modo digital e fazer as coisas com um sintetizador, com instrumentos virtuais e tudo mais, e se gravar. Com a saída do baterista, a gente, que gosta muito de pop, muito de música eletrônica, começou a experimentar.
Isso resultou nesse disco. Ele, como eu falei, foi feito muito devagar. Foi esse processo da gente aprender. E aí, trazer amigos juntos que já trabalhavam com música eletrônica e tudo mais. Então, foi um disco feito muito devagarinho. E a gente experimentando tudo que pôde.
Cultue – Quanto tempo vocês ficaram na produção desse álbum?
Rafael – A gente começou a fazer ele lá por 2020. Porém, não foram esses quatro anos, cinco anos de produção. Na verdade, depois da pandemia tudo ficou meio maluco. A gente começou a fazer outras coisas e não deu 100% de atenção [à banda]. Eu acho que trabalho mesmo no disco deve ser, no máximo, seis meses juntando todos esses anos, sabe? Começamos em 2020, tá saindo agora em 2025, mas muito porque a vida mudou bastante. Quando a gente se mudou para São Paulo lá em 2014, todo mundo era focado 100%. A banda ainda tem 13 anos. E aí, no pós pandemia todo mundo meio que deu um tempo e começou a fazer outras bandas, outras coisas.
Cultue – E a sonoridade desse novo álbum traz uma novidade aos ouvidos de quem já escuta Far From Alaska?
Rafael – Esse método de fazer a música digitalmente, com bateria eletrônica, é um mundo à parte. Você tem lá milhões de sintetizadores que você pode usar. Você pode fazer mil coisas, não tem a limitação do físico, onde a gente tem aquele timbre e vai fazer uma coisa com aquela linha natural.
Você pode tudo fazer digital, então, o que começa a ser diferente é muito daí, só em ser bateria eletrônica, só em ser um disco eletrônico, é completamente diferente das coisas que a gente fez.
A gente é uma banda que não tem muito medo de fazer o que vier. Tanto que nesse disco tem reggae, tem música pop e lentinha. Tem música doideira, videogame, futurista, misturada com forró. A gente não tem medo mesmo de fazer o que faz. E como o digital é muito aberto, a gente deixou mesmo assim: o que veio, veio. É o nosso terceiro disco e a gente meio que criou o “3” para tudo. A gente dividiu ele em três partes de três músicas. Então, a gente lançou o 3.1, com três músicas, que tem uma vibe. Depois a gente lançou o 3.2 com mais três músicas, que tem uma outra vibe. Lançamos o 3.3 com três músicas, com outra vibe. E aí agora saiu o disco com três músicas inéditas.
O número 3 acompanhou o processo inteiro. Estamos só nós três na banda, eu e as duas meninas. [O disco] É muito diferente, porque ele é eletrônico. E como a gente é meio maluco de deixar sair o que vem mesmo, é isso. O primeiro disco foi muito rock, o segundo a gente já começou a experimentar mais coisas. Foi o [álbum] que a gente fez quando foi para os Estados Unidos. E esse agora, mais ainda. E o próximo nós vamos fazer outra coisa diferente.
A gente brinca que vai fazer um disco grunge. Só nós três. Ou então entrar de cabeça no pop mesmo, fazer uma coisa mais leve, porque eu acho que é o caminho que a gente está ouvindo mais e gostando mais.
Cultue – Vocês não ficam fixados num só gênero musical, vocês estão ali passeando por esses outros lugares também?
Rafael – A gente nem gosta muito disso. Inclusive incomodava. Quando a gente apareceu, em 2012, a galera falava que a gente era stone rock, então a gente se incomodava um pouco com esse rock, com esse título. Porque a gente nem escuta essas bandas [de rock]. Entendo que a culpa foi nossa porque é um disco pesado de rock, mas a gente nunca curtiu ser uma banda de uma coisa só.
Cultue – Sobre essa decisão de entrar em um hiato depois do álbum, como foi que isso veio? Podemos esperar novos projetos solo?
Rafael – Total, sim, especificamente as meninas [Cris e Emmily], elas entraram na Ego Kill Talent que é uma outra banda que está fazendo várias coisas bem legais, abrindo vários shows internacionais. Tem possibilidade de carreira lá fora e precisa dessa atenção.
Desde a pandemia a gente está fazendo outras coisas. E meio que está nesse momento mesmo. Acho que está sendo necessário. Elas estão indo fazer esse lance com o Ego Kill Talent. Eu estou, por outro lado, aqui, com dois projetos novos. Um com a minha namorada, chamado Tigre Triste, que é bem legal com as canções lentinhas de amor. Voz e violão. Vai evoluir para outras coisas, mas eu estou curtindo fazer coisas que eu nunca fiz.
E tem também o Swave, que é uma banda suave, de “roquinho simples”, que está rolando bem também. Estamos fazendo essas paradas, estamos focados em fazer outras coisas. Eu acho que é até natural depois de muito tempo juntos, mas não é o fim, não. É, de fato, uma pausa. Vamos fazer outras coisas e depois voltar com as novas obras.
Cultue – O pessoal de Natal pode esperar estar incluído nesses novos projetos também? Rafael – Com certeza, a gente ama Natal, sempre está por aí por causa da família. Eu tenho um filho que mora aí e a gente sempre está aí nas férias do fim do ano. Inclusive, nesse fim de ano eu estava aí com o Tigre Triste. A gente fez um show, fizemos uma turnê pelo Nordeste. Natal sempre está presente. Não tem como, a gente ama. Mas com certeza, com os outros projetos, a gente vai passar por aí.
Cultue – Para você, no Far From Alaska, qual foi o momento mais marcante?
Rafael – Far From Alaska foi uma banda que levou a gente para lugares que a gente nem imaginava mesmo. Porque a gente é uma banda de rock que canta em inglês em Natal. Tudo era muito distante. Às vezes, quando eu era moleque, era uma coisa muito gigante e agente veio para cá [São Paulo] e fez tudo isso. E mais ainda além.
Porque o segundo disco a gente gravou nos Estados Unidos, essa viagem, por exemplo, foi meio que um sonho. A gente passou um mês gravando o disco com a Sylvia Massy, que é uma mulher absurda do áudio mundial. Ela trabalhou com bandas gigantes e trampou com o Red Hot Chili Peppers, um monte de gente gigante da música mundial. É inimaginável a gente pensar em fazer isso.
A gente fez turnê na Europa, foi algumas vezes para fora do Brasil. Rodou o Brasil quase inteiro, faltou pouquíssimas capitais que a gente foi. Então, foram coisas alcançadas que muita banda sonha. A gente é muito grato e honrado porque o Far From Alaska foi maluco. Teve um começo devastador para tudo. Inclusive, a gente teve que sair de todas as nossas bandas de Natal na época. Foi atropelando tudo e acontecendo muita coisa muito rápido. Como em nenhuma outra banda das nossas vidas já aconteceu. Então, o Far From Alaska é um exemplo muito fora da curva.
Eu destacaria esse disco Unlikely, o segundo que a gente gravou e um show no Download Festival na França, que a gente tocou no palco principal. É esse festival gringo foda, no palco onde a gente tocou com System of a Down, Green day, que foi um showzaço. A turnê da Europa também, muita coisa massa. A gente é muito feliz assim como banda.
Cultue – Se pudesse definir toda essa trajetória em uma palavra ou em uma frase, como é que você definiria?
Rafael – Unlikely. É o nome do nosso segundo disco, que significa improvável, em inglês. Eu acho que é tudo muito doido as coisas que acontecem. E a gente só curte esses acidentes malucos. A gente vai deixando rolar, acho que é tudo muito improvável. Acho que é essa a palavra. A gente está deixando de presente um discão muito massa que a gente gosta muito. Então, eu diria para a galera ir matando a saudade ouvindo muito esse disco, mostrando para os amigos. Essas coisas são muito importantes. É muito importante a banda estar presente no fone da galera. Tomara que em breve a gente volte para fazer shows e faça um disco novo.
Fonte: https://agorarn.com.br/ultimas/banda-far-from-alaska-lanca-novo-album/