A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, acaba de amargar sua 3ª derrota seguida nas disputas internas da Rede Sustentabilidade, partido que ela ajudou a erguer em 2013 com a promessa de renovar a política brasileira. No 6º Congresso Nacional da legenda, realizado em Brasília, o grupo “Rede pela Base”, liderado por aliados da ex-senadora Heloísa Helena, saiu amplamente vitorioso: levou 76% dos votos dos delegados.
Marina, símbolo da ala governista e atual representante da legenda no primeiro escalão do governo Lula, viu sua chapa, “Rede Vive”, alcançar apenas 24%. O resultado foi mais do que uma derrota numérica — foi um sinal claro da guinada interna do partido em direção a uma postura mais crítica ao Planalto.
Com a vitória da chapa oposicionista, os novos porta-vozes da Rede (cargo equivalente ao de presidente em outras siglas) serão Paulo Lamac, secretário de Relações Institucionais de Belo Horizonte, e Iaraci Dias, militante histórica do partido — seguindo a regra de paridade de gênero da sigla.
O embate político: foi precedido por uma disputa judicial. Aliados de Marina tentaram suspender o pleito na Justiça, apontando supostas irregularidades na escolha de delegados em diversos estados. A tentativa, no entanto, foi barrada na quinta-feira (10), horas antes da abertura oficial do evento.
A tensão transbordou em estados como Bahia, Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Na Bahia, o racha ficou explícito: duas convenções paralelas aconteceram simultaneamente, uma delas com direito a protestos contra Marina — que, aliás, nem sequer estava presente.
Esse confronto entre Marina Silva e Heloísa Helena não é novo, mas atingiu um novo patamar desde 2022. De um lado, Marina tenta equilibrar a pauta ambiental com a responsabilidade fiscal e a inserção no jogo político institucional. De outro, Heloísa defende um ecossocialismo aguerrido, que não teme confrontar o sistema capitalista e cobra distanciamento crítico em relação ao governo do PT — partido do qual foi expulsa em 2003, após votar contra a reforma da Previdência.
Durante o congresso, os militantes não esconderam o clima de embate ideológico. A vitória da chapa de Heloísa foi celebrada com o grito: “A Rede que eu quero não votou no Aécio” — uma lembrança direta do apoio dado por Marina a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno de 2014, episódio que ainda provoca atrito dentro do partido.
Apesar da derrota, Marina fez questão de participar do encerramento do congresso e adotou um discurso conciliador. “Democracia é isso: temos que discutir. A Rede é um ecossistema, tem lugar para todo mundo. Por isso, lutamos tanto para criar a Rede”, afirmou, tentando costurar a reconciliação interna.
A ministra também reafirmou os valores fundadores da sigla: “O partido é Rede Vive, é Pela Base. As bases são os princípios e os valores da Rede. Viva a democracia”. A nova direção, segundo o estatuto, será composta de forma proporcional, o que garante espaço para as duas correntes na cúpula partidária.
Além da disputa eleitoral, o congresso também aprovou moções políticas, entre elas uma de apoio ao deputado Glauber Braga (Psol-RJ), e contou com a presença de diversas lideranças do campo progressista, como Túlio Gadêlha, deputados estaduais de Minas Gerais e do Espírito Santo, o prefeito Txai Costa, entre outros nomes que tentam manter viva a chama da utopia política da Rede.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/na-rede-sustentabilidade-marina-silva-volta-a-ser-minoria/