Em meio à tentativa de reconectar-se com o eleitorado católico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou nesta segunda-feira (8) da inauguração do novo campus da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Campos dos Goytacazes, no norte do Rio de Janeiro, acompanhado do bispo diocesano da cidade, Dom Roberto Francisco Ferrería da Paz. A informação é do jornal O Globo, que destacou também as críticas do presidente ao ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL) durante a cerimônia, realizada em um tradicional reduto bolsonarista.
“Procurem a história de Campos e do Brasil e vejam quais foram os governantes que investiram na educação. Pesquisem e vocês vão perceber que teve gente que passou por esse país governando só para contar mentira e provocar”, disse Lula em tom direto, numa clara referência ao seu antecessor. A cidade fluminense deu 63% dos votos válidos a Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2022, contra 36,8% para Lula, tornando o local um dos principais palcos de apoio ao ex-presidente.
Ao lado do presidente, Dom Roberto Ferrería subiu ao palco e foi saudado com deferência pelo ministro da Educação, Camilo Santana. “Queria cumprimentar o bispo Ferrería. Eu já pedi a sua bênção”, afirmou Santana antes de Lula discursar. A presença do religioso simboliza mais um gesto do governo federal em direção à Igreja Católica. No mês anterior, Lula havia participado de um evento semelhante ao lado do então arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, onde chegou a rezar um Pai Nosso em público.
Esses acenos ocorrem em um momento em que o governo petista tenta conter a perda de apoio entre os católicos. Segundo levantamento do Instituto Datafolha, a aprovação de Lula entre os fiéis caiu de 42% para 28%, enquanto figuras ligadas à ala conservadora da Igreja, como o Frei Gilson, ganham espaço. Frei Gilson, apesar de nunca ter declarado apoio direto a Bolsonaro, tornou-se ícone entre os bolsonaristas com discursos contra o comunismo e mensagens moralistas. Em uma de suas lives mais notórias, apareceu cercado por bandeiras do Brasil pedindo a intercessão de Nossa Senhora contra “o flagelo do comunismo”.
A cerimônia em Campos foi marcada por tensões políticas e manifestações de oposição ao governo. Pichações com frases como “Fora, Lula” foram encontradas em muros próximos à universidade, e um cartaz com a mensagem “Campos está de luto” foi pendurado por manifestantes. O prefeito da cidade, Wladimir Garotinho (PSD), também enfrentou vaias do público presente. Filho do ex-governador Anthony Garotinho, Wladimir tem buscado manter certa distância do Planalto.
Apesar das reações negativas, o evento marcou o anúncio de importantes investimentos. Foram repassados R$ 74,4 milhões à UFF e anunciadas novas ações no setor educacional, como o edital da Rede Nacional de Cursinhos Populares (CPOP), voltado ao apoio de estudantes de baixa renda que se preparam para o vestibular. A iniciativa integra uma estratégia mais ampla do governo para recuperar sua popularidade em queda.
Segundo a pesquisa Genial/Quaest mais recente, 56% da população desaprova o governo Lula. A retomada de programas sociais e o investimento na educação aparecem como principais apostas do Planalto para mudar esse cenário. A agenda presidencial no Rio de Janeiro continua nesta terça-feira (9), com compromissos em Paracambi, na Baixada Fluminense, e em Resende, no Sul do estado.
Enquanto tenta avançar em territórios adversos, Lula aposta no diálogo com setores religiosos e no fortalecimento das universidades públicas como caminho para recuperar a confiança de parcelas do eleitorado — inclusive em cidades onde enfrenta forte resistência.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/em-campos-reduto-bolsonarista-lula-recebe-bispo-no-palco-e-ataca-ataca-ex-presidene-governou-so-para-contar-mentira/