Professor relembra juventude com Papa Francisco: “me ensinou sobre humanidade”

Foto: Tânia Rego / Agência Brasil –

Omar Mario Albonoz, professor de Espanhol da Universidade Estadual do Piauí, relembra com admiração o período em que conviveu de perto com Jorge Bergoglio, muito antes deste se tornar o Papa Francisco

A notícia da morte do Papa Francisco reacendeu lembranças guardadas há mais de quatro décadas por um docente da Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Omar Mario Albonoz, professor de Letras Espanhol na instituição, não conheceu o Papa através da televisão nem dos livros, mas de vivências espirituais em Buenos Aires, quando Jorge Mario Bergoglio ainda era apenas o padre jesuíta responsável por formar novos religiosos.

“Conheci o Papa Francisco ainda quando ele não era Papa, no ano de 1981, na Companhia de Jesus em San Miguel. Eu tinha 23 anos e ingressei para ser jesuíta. Ele era o Superior do Colégio Máximo, onde estudávamos Filosofia e Teologia. Uma pessoa muito presente na comunidade e muito próxima”, relembra Omar.

Durante esse tempo, os dois compartilharam o mesmo teto e também rotinas de estudos, orações e visitas a comunidades periféricas da capital argentina.

Omar Mario Albonoz, professor de Letras Espanhol na Uespi - (Reprodução/Instagram)

“Todos os fins de semana, nós íamos visitar os bairros da periferia. Eram locais com pessoas carentes, necessitadas, enfrentando situações de injustiça, muitas vezes passando fome e vivendo dificuldades humanas. Tudo isso me ajudou também a compreender melhor aquilo que está no Evangelho, o chamado de Jesus para evangelizar os pobres”.

Omar Mario AlbonozProfessor (foto ao lado)

Para o professor, a marca mais profunda deixada pelo Papa Francisco foi sobretudo humana. “Ele me ajudou muito no meu crescimento como ser humano e dentro da vida religiosa”, lembra.

Osmar conta que, durante seu processo de estudos, enfrentou períodos em feridas da infância e da adolescência – que precisavam ser compreendidas e integradas – começavam a emergir. Nesses momentos, o então padre Jorge Mario Bergoglio foi quem o escutou com atenção e acolheu suas dores.

“Várias vezes, foi ele quem me escutou e me ajudou a ir superando essas feridas na minha vida. Uma de suas frases que me acompanham até hoje foi: ‘Ajuda-te e Deus te ajudará’, ou seja, que sempre devemos fazer a nossa parte (confiar nas nossas capacidades), porém atribuindo sempre tudo a Deus e nunca a nós mesmos”.

Omar Mario AlbonozProfessor

Quando, em 2013, o nome de Bergoglio foi anunciado no Conclave, Omar lembra de ter sido tomado por uma sensação difícil de explicar. Ele conta que chegou a pensar que o padre latino-americano poderia ser escolhido, mas não achava que isso realmente aconteceria. Não por falta de preparo de Jorge, mas porque a Igreja sempre escolheu Papas europeus.

“Quando ele foi escolhido, me lembrei dessas palavras de Jesus: ‘o Espírito sopra onde quer e como quer’”, comenta o professor.

Mais de uma década depois, e agora após a morte do primeiro Papa latino-americano da história, o professor acredita que o legado de Francisco permanecerá vivo muito além do Vaticano.

“Ele deixa um legado muito fecundo para a Igreja e para o mundo. Não esqueçamos que ele foi um líder espiritual e como líder nos deixa a mensagem de sempre estarmos abertos aos demais, de sempre incluir, sempre acolher, de estar perto dos pobres e excluídos, respeitando as diferenças e sabendo trabalhar pela unidade”, afirma.

Omar foi ordenado padre em 1990 e seguiu atuando na vida religiosa por uma década. Com o tempo, sentiu o chamado para um novo caminho: a educação. Deixou o sacerdócio no ano 2000 e, desde então, se dedica à docência, uma trajetória que, segundo ele, carrega valores aprendidos ainda nos tempos do seminário.

Para o professor, o Papa Francisco foi “um homem de Deus e um homem profundamente humano”. E é essa humanidade, vivida nos pequenos gestos e na escuta silenciosa, que hoje se transforma em memória e referência para o mundo todo.

Fonte:  https://portalodia.com/noticias/piaui/professor-no-piaui-relembra-juventude-com-papa-francisco-me-ensinou-sobre-humanidade-436970.html