Após dar vida a Yuki, uma mulher de negócios, em “Volta Por Cima”, Jacqueline Sato, 35, se despede da trama de Claudia Souto no próximo sábado (26), com um saldo mais que positivo, uma vez que o folhetim marcou sua virada simbólica na luta por representações menos caricatas e mais profundas de mulheres nipo-brasileiras na dramaturgia nacional.
No folhetim, sua personagem, diferente das figuras coadjuvantes e etnicamente estigmatizadas, é uma mulher contemplada pela multiplicidade, ou seja, é atravessada pelas pressões do mundo contemporâneo, contradições da vida adulta e afetos que a tornam indiscutivelmente real. “Ela não é moldada pelo exotismo, tampouco pela função didática de representar uma ancestralidade isolada do presente. É corpo vivo da cidade, é mulher comum, e, por isso, política”, conta à CNN.
“Fazer a Yuki foi, para mim, um lugar de desafio e liberdade. Sempre busquei papéis que me instigassem e revelassem versatilidade como atriz. Em muitas ocasiões anteriores na minha carreira, precisei analisar se a personagem reforçaria algum estereótipo, e fazer escolhas conscientes de abrir diálogo quando havia necessidade, ou me abster de realizar algum trabalho que reforçasse preconceitos”, acrescenta.
Com Yuki, no entanto, a história foi completamente diferente. “Desde a primeira conversa com a autora e o diretor, ela prometia ser uma mulher multifacetada, complexa, e se revelou sendo ainda mais do que eu poderia imaginar. Yuki é assistente administrativa, eficiente, mas cheia de inseguranças, ama a pessoa errada, depois se permite abrir o coração de novo para uma outra pessoa, que também não é boa pra ela, volta atrás, discute, fala sua verdade, é doce e forte, estratégica e sensível, uma persona cheia de versões de si mesma e muito autêntica em cada uma delas. Ela é mais uma brasileira lidando com os paradoxos do agora”.
Para Sato, ser vista dentro da pluralidade em papéis importantes, sendo uma atriz de ascendência asiática, ainda é uma conquista. “Muitas vezes, as personagens nipo-brasileiras só entram na trama em papéis com pouca relevância narrativa, e quase sempre passam grande parte do tempo justificando uma ancestralidade que precisa ser explicada o tempo inteiro. Como se o Brasil não fosse, ele mesmo, esse entrelaçamento de identidades de múltiplas raízes”, comenta.
Construção de Yuki foi um processo íntimo de reconfiguração, diz Jacqueline
Ainda à CNN, Jacqueline explica que o processo de construção da sua personagem também caminhou para um movimento íntimo de reconfiguração. “Yuki me fez entender o quanto mulheres fortes, independentes e inteligentes, também podem cair em relacionamentos abusivos gravíssimos, e por mais consciência que tenham, terem dificuldade nesse caminho cíclico de superação e cura”.

“Fora que foi uma personagem que não foi panfletária em nenhuma causa, mas ainda assim fortaleceu muitas, através da sua existência bem construída na trama. Desde a pauta sobre relacionamentos abusivos, cárcere privado, feminicídio, à questão da representatividade de pessoas amarelas, muitas pessoas vinham me agradecer por eu estar contando aquela história daquela forma, e o quanto era importante ver isso na TV. Mulheres diversas que se identificavam com as dores da Yuki, e mulheres amarelas que ficavam felizes de ver alguém parecida com elas ocupando esse espaço desta forma. É uma personagem com uma identidade bem marcante que conseguiu sensibilizar muita gente“, adiciona.
“O fato dela existir da forma como existe nessa narrativa, colabora para a reconfiguração do imaginário coletivo a respeito de mulheres racializadas com os muitos preconceitos que fazem parte disso, e a respeito de mulheres em situação de abuso, e toda a influência que o patriarcado tem nessa dinâmica. E isso é libertador”, concluiu.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/jacqueline-sato-se-despede-de-volta-por-cima-virada-simbolica/