O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Norte (Faern) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/RN), José Álvares Vieira, afirma que o Estado só voltará a crescer se houver um pacto de Estado voltado ao desenvolvimento, com menos burocracia e mais liberdade para quem produz. Segundo ele, o excesso de regulamentações está travando investimentos, desestimulando produtores e empurrando oportunidades para estados vizinhos como Paraíba e Ceará.
“O Rio Grande do Norte precisa se desregulamentar. Da forma que está sendo administrado por órgãos de controle, não avançaremos. O Estado tem que ser parceiro de quem trabalha, e não sufocar a produção”, declarou, ao criticar o que chama de aparato estatal arrecadatório. Segundo ele, o RN deveria orientar, não apenas punir, e precisa urgentemente reduzir entraves ao crédito rural, ao licenciamento e à circulação de mercadorias.
Vieira avalia que, embora o RN tenha avançado na irrigação e possua segurança hídrica superior à de vizinhos como Paraíba e Ceará, enfrenta riscos sérios. “O inverno de 2025 é muito irregular. A safra de cana de 2024 foi recorde, com mais de 4 milhões de toneladas colhidas. Mas a safra seguinte já deve cair. A cultura já sente os efeitos da falta de chuvas regulares”.
A cana ocupa cerca de 80 mil hectares e envolve aproximadamente mil produtores. Segundo Vieira, esse número pode não crescer devido à sobrecarga das usinas. Já a carcinicultura perdeu o protagonismo nacional para o Ceará, sobretudo pela lentidão no licenciamento. “O RN produziu 35 mil toneladas de camarão no último ano, com 480 produtores em cerca de 8 mil hectares. Poderíamos crescer 10% em 2025, mas a burocracia nos impede”.
Na pecuária de corte e leite, Vieira afirma que há avanços tímidos, muito ligados à regularidade do inverno. Na apicultura, critica a desorganização da cadeia produtiva e a burocracia. Ele diz que o Estado precisa ajudar os pequenos frigoríficos do interior a funcionarem com padrão sanitário adequado. “Hoje ainda há abate sob árvores. Isso compromete a saúde da população”.
Ele cita como prioridade a expansão da irrigação, setor em que o RN é referência nacional, com técnicas como gotejamento e microaspersão. “Com irrigação, a gente planta e colhe. Com sequeiro, não há garantia de produção. O governo precisa ter programas permanentes para isso”, defendeu.
O Senar/RN, braço educacional da Faern, atende hoje quase cinco mil produtores em 161 dos 167 municípios do Estado, com assistência técnica e cursos. Só em 2024, foram quase 400 cursos em áreas como tratorista, inseminação, colheita e pedreiro rural.
O Senar também mantém 10 polos de educação técnica com 600 alunos matriculados nos cursos de zootecnia, agricultura, fruticultura e agronegócio. “É preciso mão de obra qualificada para operar os equipamentos modernos usados hoje nas lavouras”.
A instituição criou ainda o programa “Saúde no Campo”, que acompanha 450 famílias rurais com técnicos de enfermagem, em articulação com municípios e com suporte de telemedicina. Outro projeto, o “Bem Viver”, realiza exames preventivos, palestras, ações de autoestima e atividades recreativas com famílias do campo. “As pessoas no meio rural precisam de saúde, educação e renda para não saírem do campo”.
Vieira demonstrou preocupação com a falta de sucessão rural e com um possível “apagão de mão de obra”, impulsionado pelo apego aos programas sociais. “Não pode haver só porta de entrada. As pessoas precisam ver na atividade rural uma oportunidade de crescer. Ninguém vai ficar por saudosismo”.
Sobre infraestrutura, Vieira é direto: “A classe política deu as costas para o mar”. Para ele, o Porto de Natal, antes referência nacional na exportação de frutas, parou de operar contêineres por falta de investimento e de gestão. “O porto sequer tem guindaste. Sem privatização ou concessão, não há futuro. Estamos perdendo para a Paraíba e o Ceará”.
Além do porto, aponta as estradas como gargalos que aumentam o frete, danificam produtos e encarecem a produção. “É um impacto direto na qualidade da fruta. O Estado tem mais de quatro mil quilômetros de rodovias e pouco se faz em manutenção.” A Faern também aposta na retomada do transporte aéreo de frutas via aeroporto de São Gonçalo do Amarante, que pode ser estratégico para escoamento da produção.
Vieira criticou ainda as dificuldades enfrentadas pelos produtores para acessar crédito rural junto aos bancos. “A burocracia é tanta que os produtores estão fugindo. É mais fácil financiar um carro numa concessionária do que um trator para plantar. O tempo da lavoura é diferente do tempo do banco”.
Ele afirma que a Faern vem cobrando mudanças aos governos e aos bancos. “A resposta de sempre é que a lei não permite. Mas se a lei atrapalha quem trabalha, tem que mudar a lei”.
Sobre o governo federal, Vieira foi enfático. “Não tem simpatia pelo agro. Desmontou o Ministério da Agricultura, a Embrapa está sem investimento. E é o setor que mais gera PIB e superávit comercial. Isso é ideológico”.
Para o presidente da Faern, o futuro da produção rural depende de desburocratização, qualificação e tecnologia. “O que o RN precisa é de um pacto de Estado, não de governo. Um compromisso com o desenvolvimento em todas as áreas: turismo, indústria, agricultura. O resto a sociedade faz sozinha”.
Fonte: https://agorarn.com.br/ultimas/pacto-estado-desenvolvimento-diz-faern/