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O Ministério Público de São Paulo apresentou denúncia contra 18 policiais militares por suposto envolvimento na execução do empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, ocorrido em novembro de 2024 no Aeroporto de Guarulhos. Gritzbach havia firmado acordo de colaboração premiada e revelado informações sobre integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e da Polícia Civil.
Três dos denunciados são apontados como executores do crime, enquanto outros 14 atuavam na segurança particular de Gritzbach, prática que, apesar de comum na corporação, infringe normas disciplinares da Polícia Militar. Um último PM foi denunciado por falsidade ideológica e prevaricação, por ter, segundo a apuração, manipulado escalas para encobrir ausências de um colega envolvido com a escolta.
A denúncia, oficializada na última sexta-feira (9), inclui um nome a mais do que o relatório anterior da Corregedoria da PM, envolvendo um membro da escolta que já estava sob investigação, mas ainda não havia sido formalmente acusado.
O caso está sendo analisado pela Justiça Militar de São Paulo, que tem 15 dias para decidir se aceita ou rejeita a acusação, ou se exige novas diligências. O processo tramita sob sigilo, e todos os acusados permanecem detidos há meses. Paralelamente, os envolvidos também respondem a ações na Justiça comum.
Entre os acusados estão o cabo Denis Antonio Martins e o soldado Ruan Silva Rodrigues, suspeitos de terem disparado contra o empresário. O tenente Fernando Genauro da Silva, do 23º Batalhão da PM na capital, é apontado como o motorista do veículo utilizado pelos atiradores.
Apesar de a investigação não ter encontrado provas diretas de participação da escolta no assassinato, as autoridades acreditam que os policiais tinham conhecimento do histórico criminoso do delator e de suas ligações com o PCC. À época da execução, Gritzbach era réu por envolvimento em um homicídio que negava ter cometido, mas havia admitido em delação premiada que auxiliava a facção na lavagem de dinheiro.
Com base nessas ligações, a Promotoria e a Corregedoria da PM concluíram que os envolvidos também integravam a organização criminosa. A defesa, no entanto, contesta essa versão. O advogado Guilherme Flauzino, que representa parte dos escoltas, afirmou que seus clientes “não prestavam serviço a nenhum criminoso” e que a acusação é infundada. A defesa de Genauro também negou envolvimento dele no caso, alegando que ele sequer estava presente no dia do crime.
A denúncia por falsidade ideológica e prevaricação recai sobre um tenente acusado de fraudar documentos internos para justificar a ausência de um soldado durante uma viagem com Gritzbach a Maceió. A dispensa formal de serviço desse militar não teria sido aprovada, segundo a apuração.
Ligação com o crime organizado
A Polícia Civil acredita que a execução de Gritzbach foi ordenada por Emílio Carlos Gongorra de Castilho, conhecido como “Cigarreira”, suposto integrante do PCC. Ele teria agido em retaliação à morte de Anselmo Becheli Santa Fausta, o “Cara Preta”, e seu motorista Antônio Corona Neto (“Sem Sangue”), ocorrida em 2021. Gritzbach era suspeito de envolvimento nesse crime, embora sempre tenha negado qualquer participação, alegando ser vítima de armação entre policiais e criminosos.
Em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil em outubro de 2023, Gritzbach acusou Castilho de liderar um plano para incriminá-lo. O assassinato de “Cara Preta” ocorreu no Tatuapé, zona leste da capital, no fim de dezembro de 2021.
Castilho está foragido. Em fevereiro, investigações apontaram que ele estaria escondido na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. Outro suspeito foragido é Kauê do Amaral Coelho, acusado de atuar como olheiro no aeroporto no momento da execução. Ele teria indicado o alvo aos atiradores e é considerado um elo entre traficantes cariocas e o grupo que financiou sua fuga para o Rio.
Kauê é sobrinho de Diego do Amaral Coelho, o “Didi”, também investigado por envolvimento no planejamento do crime. A participação de ambos teria sido motivada por desconfianças sobre o paradeiro de valores supostamente desviados por Gritzbach, que teriam sido convertidos em criptomoedas.
A investigação aponta que Gritzbach chegou a ser julgado por um “tribunal do crime” do PCC, mas teria escapado da execução ao convencer os líderes de sua inocência. Essa decisão teria gerado descontentamento dentro da facção, levando à contratação de policiais militares para eliminá-lo.
Com informações do ICL Notícias