Fila do INSS bate recorde, pressiona gastos e leva governo a pagar bônus para acelerar concessões

A fila de espera por benefícios no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) atingiu níveis recordes no início de 2025, escancarando uma crise de gestão e infraestrutura que pressiona as contas públicas e provoca desgaste para o governo federal. Dados oficiais mostram que, em abril, havia 2,678 milhões de pedidos pendentes de análise para aposentadorias, pensões, auxílios por incapacidade, licença-maternidade e benefícios assistenciais. O número representa um aumento de 91% em relação ao mesmo mês de 2024, quando o estoque era de 1,4 milhão.

O pico foi registrado em março, com 2,707 milhões de requerimentos represados. A maior parte da fila diz respeito a benefícios por incapacidade (48%), seguida por benefícios assistenciais (24%) e aposentadorias (17%).

O impacto financeiro da lentidão preocupa. Estimativas da XP Investimentos apontam que o pagamento de atrasados para cerca de 1,3 milhão de beneficiários poderá custar até R$ 6 bilhões. Se mantido esse ritmo ao longo de 12 meses, o custo poderia alcançar R$ 27 bilhões. Contudo, como nem todos os pedidos são aprovados, a expectativa de gasto líquido gira em torno de R$ 14 bilhões em 2025.

Segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado, parte do aumento da fila pode ser atribuída às greves dos médicos peritos ocorridas entre agosto de 2024 e abril deste ano. A paralisação gerou um acúmulo de laudos e perícias pendentes, prejudicando a concessão de benefícios. Apesar disso, abril registrou uma leve melhora: o número de análises realizadas (1,072 milhão) superou o de novos requerimentos (1,062 milhão), o que levou a uma pequena redução da fila em relação a março.

A IFI também alerta que a despesa previdenciária de 2025 pode ultrapassar em R$ 16 bilhões o valor previsto no Orçamento, estimado em R$ 1,015 trilhão. A projeção se baseia no ritmo acelerado de concessões registrado até dezembro de 2024.

Ex-presidente do INSS e ex-ministro do Planejamento, o advogado Valdir Moysés Simão aponta que uma mudança estratégica no modelo de concessão de auxílio-doença contribuiu para o atual gargalo. A ideia era reduzir a dependência de perícias presenciais com o uso do sistema Atestmed, que permite o envio de atestados médicos digitalmente. Contudo, o volume de pedidos cresceu além da capacidade de controle do instituto.

“O INSS concedeu muitos benefícios sem necessariamente observar se o segurado tinha de fato direito, e nos últimos meses houve um esforço da entidade para fazer uma revisão disso. A grande fila que temos hoje é em relação ao afastamento por doença”, explicou Simão. Ele ainda destacou que, quando a espera por perícia ultrapassa 60 dias, o trabalhador pode receber o benefício mesmo que já tenha se recuperado, o que gera perdas bilionárias ao sistema.

Para Carlos Vinicius Lopes, dirigente do Sindisprev-Rio (Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social do Estado do Rio de Janeiro), o maior entrave é a carência de servidores. “Os sistemas da Dataprev não estão atendendo a demanda”, afirmou. Ele também relembrou duas greves ocorridas em 2024: a dos servidores administrativos, com duração de cerca de 80 dias e adesão de 20% da categoria, e a dos peritos médicos, que se estendeu por mais de 230 dias. “A greve deles foi diferenciada, porque a maioria trabalhou, mas fazia menos perícias do que o necessário. Essa, sim, teve impacto na fila.”

Diante do cenário crítico, o governo publicou nesta semana uma portaria estabelecendo o pagamento de bônus a servidores para destravar a fila. Segundo o documento, os funcionários poderão receber até R$ 17,1 mil por tarefas extras de análise de aposentadorias, pensões e revisão do Benefício de Prestação Continuada (BPC). O pagamento será de R$ 68 por tarefa adicional, mas condicionado ao cumprimento da meta mensal de produtividade de cada servidor. Só quem alcançar esse patamar poderá aderir ao programa de incentivo.

A medida é uma tentativa emergencial de destravar um sistema à beira do colapso, enquanto a fila do INSS segue como um dos maiores desafios administrativos e fiscais do governo federal em 2025.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/fila-do-inss-bate-recorde-pressiona-gastos-e-leva-governo-a-pagar-bonus-para-acelerar-concessoes/