Yasmin Raissa Araújo Martins tem uma daquelas histórias que se constroem sem pressa. Sua entrada na música foi marcada por silêncios, retornos e recomeços que, ao olhar hoje, parecem já ensaiados pelo destino. “Eu comecei a encarar a música como algo além de cantar no banheiro quando um amigo do meu pai me ouviu cantar aos 14 anos e me chamou para gravar um CD. Daí eu comecei a fazer aulas de canto para me preparar para essa gravação que nunca aconteceu.” A gravação não veio, mas a semente foi plantada. E só germinou dez anos depois, quando Yasmin, já aos 24, iniciou aulas regulares com a professora Hilkelia. Foi numa apresentação da escola de canto que um produtor a viu no palco e a convidou para abrir um show da banda Paralamas do Sucesso.
A partir daí, a caminhada ganhou forma. “Fiz contato com uma banda, ensaiamos e fizemos um show no Fest Bossa e Jazz, onde me apresentei como cantora revelação em 2016.” Nesse mesmo ano, outro convite: o produtor cultural Zé Dias a chamou para participar do espetáculo A Música Brasileira e o RN. “Me vi num palco com grandes nomes da música potiguar como Nara Costa, Dodora Cardoso, Jubileu Filho, Isac Galvão, dentre outros. Foi uma escola.”
Ainda em 2016, Yasmin se mudou para o Rio de Janeiro para estudar com Felipe Abreu, um dos mais respeitados professores de canto popular do Brasil. “Professor de grandes nomes, como Adriana Calcanhotto, Roberta Sá, Mariana Aydar etc. Foi incrível.” Ao retornar a Natal, passou no vestibular de música e passou a integrar o Madrigal da UFRN como primeira soprano. Daí para o teatro musical foi um passo: “participei de diversos espetáculos como Bye Bye, Natal e Um Presente de Natal.”
A relação com a música começou muito antes de qualquer aula ou apresentação. “Desde muito criança eu sentia um magnetismo muito grande pela música. Com 8, 9 anos eu era alucinada por Djavan, Chico Buarque, Caetano e todos esses grandes nomes da MPB. Trocava qualquer brinquedo por um CD.”
Era a criança de discman no colo e uma coleção de discos na mochila. “A escuta me fez gostar de cantar. Como eu ouvia bastante música, eu acho que desenvolvi uma certa facilidade em cantar. Porque cantar é imitar, não é? De tanto ouvir, você acaba aprendendo a emitir notas afinadas, desenvolve uma certa técnica vocal que você vai ali criando e vai dando certo aos poucos.” Na infância, ela e a irmã brincavam de cantar, com uma sendo jurada da outra. Um jogo inocente que afinou, sem saber, o ouvido que um dia encantaria plateias.
O primeiro palco foi decisivo. “Foi na apresentação da escola de Hilkelia. Eu era aluna e nunca tinha subido num palco. Cantei Canoa Canoa de Milton Nascimento. Foi lindo porque estava extremamente nervosa e fui aplaudida de pé. Esse show me abriu todas as portas que pude entrar até hoje.”
E é essa mistura de força interior e delicadeza que pulsa também em Nó Cego, música lançada em 2 de maio nas plataformas digitais. “Eu escrevi Nó Cego para todos os amores impossíveis, aquele sentimento que dá um nó na garganta, inquieta a alma, arrepia o coração. O amor é o sentimento mais genuíno e universal, amo cantar o amor possível ou impossível. Melhor ainda cantar o amor dançando um xote. Por isso um ritmo nordestino.”
A música nasceu da letra de Yasmin, enviada para o amigo Rafael Barbosa, que ajustou trechos e criou uma melodia encantadora. “Gravamos, eu e ele, no ano passado com Eduardo Taufic, com direção dele e Eduardo e de Ramon Gabriel, que também gravou a percussão da música.”
Entre suas influências, Yasmin cita nomes que moldaram gerações. “Poderia citar inúmeros, mas vamos de Elis Regina, Marisa Monte, Gal Costa, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Chico Buarque. Da nova geração, Mariana Aydar, Juliana Linhares, Daíra Saboia e Júlia Vargas.” Se tivesse que definir tudo isso em uma única palavra, Yasmin não hesita. “Destino.”
Música potiguar
Yasmin reconhece que tudo começou com um desafio interno. “Subir no palco era quase impossível para mim porque eu sou bastante tímida.” E os desafios externos não são menores. “Acho que a música potiguar não é valorizada, temos poucos espaços culturais, poucas leis de incentivo, pagam mal os músicos em geral. Precisamos urgentemente mudar esse cenário, pois o Rio Grande do Norte é riquíssimo, berço de grandes talentos.”
Ainda assim, acredita na força da arte feita no RN. “Vejo artistas incríveis que infelizmente precisam ir para outro estado para viver de música, uma lástima. Mas ainda temos muita resistência e muita gente boa tentando fazer a engrenagem girar.
Fonte: https://agorarn.com.br/ultimas/conheca-a-cantora-potiguar-yasmin-martins-e-sua-nova-cancao-no-cego/