“Afastamento de diretores em São Paulo é uma ação contra a educação pública”, critica Cláudio Fonseca

Manifestação na EMEF Ibrahim Nobre pela permanência do diretor – Foto: Reprodução/Facebook

“Estamos diante de um embate ideológico”, disse o presidente do Sinpeem, ressaltando que esta é “uma ação articulada da direita conservadora”

Cláudio Fonseca, presidente do Sinpeem (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo), declarou durante a Plenária da Coeduc (Coordenação das Entidades Sindicais Específicas da Educação Municipal de São Paulo), formada pelo Sedin, Sinpeem e Sinesp, realizada nesta terça-feira (27), que o afastamento de 25 diretores de escolas municipais pela gestão Ricardo Nunes (MDB) é parte de uma articulação ideológica mais ampla. Segundo ele, “não é uma ação somente do governo Municipal – o que seria por si só suficiente para fazer a que estamos fazendo”.

Para Cláudio, a decisão de afastar os gestores escolares sob o pretexto de mau desempenho no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) é, na verdade, uma política coordenada entre a gestão municipal e o governo estadual. “O Governo do Estado anunciou a mesma medida para a rede estadual: o afastamento de diretores para supostamente fazer curso de atualização, de formação, para poder responder àquilo que eles entenderam que é o ‘fracasso’ escolar quanto aos indicadores de aprendizagem dos alunos”, afirmou.

Ele denuncia que essa ação representa um ataque direto à escola pública e à gestão democrática: “É articulado, é política da direita conservadora, dos bolsonaristas, no Estado e no Município. Isso não está descasado e merece a resistência, a luta, no tamanho que deve ser feita”. O sindicalista conclui: “Não é uma ação contra o diretor/ à diretora, é uma ação contra à educação pública, contra a gestão pública, contra a escola sob gestão do Estado, contra a gestão democrática da unidade escolar”.

AFASTAMENTO

A medida da Secretaria Municipal de Educação (SME), imposta na última sexta-feira (23), gerou forte reação entre profissionais da educação, sindicatos, acadêmicos, parlamentares e membros da comunidade escolar. Pelo menos três professores já se recusaram a assumir as vagas deixadas pelos gestores removidos. Os afastados serão obrigados a participar de um curso de “requalificação” até o fim do ano letivo, o que vem sendo criticado como uma punição disfarçada de formação.

Os novos diretores seriam indicados pelas Diretorias Regionais de Ensino, mas a resistência entre os profissionais tem crescido. A Faculdade de Educação da USP publicou uma moção de repúdio na segunda-feira (26), criticando a falta de transparência e destacando que muitas das escolas atingidas são reconhecidas por seu trabalho pedagógico de excelência.

“Algumas dessas escolas são premiadas justamente pelo tipo de gestão desenvolvida e o trabalho de seus diretores como de toda a equipe pedagógica é amplamente reconhecido não só por seus territórios, como pela comunidade científica e dentro da rede municipal”, diz o documento.

A moção também denuncia a forma covarde como Nunes vem atuando, destacando a omissão dos nomes dos diretores no Diário Oficial do Município de 22 de maio, que menciona apenas a decisão, sem citar os profissionais afastados — o que, segundo os docentes “é parte do processo de opressão em curso”.

PROTESTOS

As manifestações contrárias à medida vêm se espalhando por diferentes regiões da cidade. Só na segunda-feira (26), protestos ocorreram na EMEF Espaço de Bitita (zona norte), EMEF Ibrahim Nobre (zona oeste) e na EMEF Vinícius de Moraes (zona leste), onde a entrada foi bloqueada por manifestantes em sinal de repúdio.

O deputado estadual Antonio Donato (PT), que esteve presente na manifestação da EMEF Espaço de Bitita, criticou duramente o uso do Ideb como justificativa para os afastamentos. “A gente sabe que o que está em jogo não é o que eles alegam, que é resultado de Ideb porque Ideb é uma mera desculpa”, afirmou. “Ele é usado como instrumento de punição e de responsabilização das escolas pelas mazelas sociais que vão repercutir no resultado das crianças e jovens mais pobres. É disso que se trata”, declarou Donato.

Vereador Eliseu Gabriel junto ao diretor da EMEF Espaço de Bitita, Cláudio Marques – Foto: Reprodução

“Nessa escola, metade dos alunos são imigrantes ou refugiados de países em guerra, além daqueles que vivem nas vilas Reencontro, criadas para abrigar famílias em situação de vulnerabilidade”, destacou o vereador Eliseu Gabriel (PSB), que também participou do ato.

“Sou testemunha do emocionante trabalho de ensino e acolhimento realizado com aquelas crianças e jovens! É completamente equivocada e ilegal a decisão da Prefeitura de afastar diretores de escolas concursados”, ressaltou.

O vereador criticou ainda a forma utilizada para afastar os diretores. “A base para isso é uma discutível nota de Português do IDEB, sem levar em conta as condições sociais dos alunos e suas diferentes realidades. Apelo ao Sr. Prefeito para que não leve adiante essa absurda intervenção na escola pública de nossa cidade!”, disse.

Em meio ao cenário de injustiça, ganha força a ideia de que a medida da prefeitura tem como verdadeiro pano de fundo a repressão às escolas que aderiram à greve dos servidores municipais entre abril e maio — e não, como alega a gestão, o desempenho nos índices educacionais.

As deputadas federais Sâmia Bomfim e Luciene Cavalcante (PSOL) e o vereador Hélio Rodrigues (PT) também estiveram na manifestação em apoio ao diretor Cláudio Marques. 

Sâmia disse que “o Ricardo Nunes está utilizando o método da ditadura, que é de intervenção nos espaços escolares”. “O [Jair] Bolsonaro tinha feito isso também com os institutos federais, substituindo os diretores escolhidos pela comunidade para botar gente dele. E não é uma coincidência que seja nas escolas que estavam na greve de servidores. Então ele está fazendo uma intervenção política com objetivo de retaliar, mas também de privatizar, o que vai contra o princípio da gestão democrática e vai contra os interesses públicos”, disse a deputada.

Luciene Cavalcante, por sua vez, ressaltou que a gestão municipal está usando uma convocação para afastar os diretores. “É muito violento e criminoso o que o Ricardo Nunes está fazendo com a educação pública aqui da cidade de São Paulo e o Espaço de Bitita. Não tem legalidade para se colocar o interventor aqui dentro. Ele [Ricardo Nunes] só pode afastar depois de um processo administrativo com amplo direito de defesa”, defendeu a deputada.

Em nota, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – Campus São Paulo, que fica ao lado do Espaço Bitita, também repudiou o afastamento. “A atuação da escola, profundamente enraizada no território do Canindé/Pari, é referência por seu compromisso pedagógico e pelo papel social que exerce na defesa da comunidade, na promoção de uma educação antirracista, inclusiva, equitativa e emancipadora por meio da defesa e promoção dos direitos humanos”, diz a nota assinada pelo diretor-geral Wellington Pereira, que também esteve no ato.

Fonte: https://horadopovo.com.br/afastamento-de-diretores-em-sao-paulo-e-uma-acao-contra-a-educacao-publica-critica-claudio-fonseca/