Uma investigação do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) sobre crimes eleitorais em Santa Quitéria, no interior do estado, levou à descoberta de uma mansão usada por líderes do Comando Vermelho (CV) na Rocinha, no Rio de Janeiro. Do imóvel, segundo os investigadores, partiam ordens para ações criminosas, incluindo ataques a empresas de internet na região metropolitana de Fortaleza e ameaças durante a campanha eleitoral municipal. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
A mansão funcionava como uma espécie de “home office do crime”, onde chefes cearenses do CV, foragidos, comandavam remotamente ações da facção no Nordeste. O esquema foi desmantelado no último dia 31 de maio, após uma operação que cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão na comunidade carioca.
As investigações revelaram que o grupo estava por trás de uma tentativa de interferência na eleição municipal de 2024 em Santa Quitéria. De acordo com o Ministério Público, membros da facção teriam sido enviados ao município para ameaçar eleitores do candidato de oposição e apoiar a reeleição do então prefeito Braguinha (PSB). Entre os presos está um integrante do CV oriundo da Rocinha, capturado em 5 de outubro, véspera da eleição. A apreensão do seu celular permitiu à Promotoria mapear toda a rede de atuação, inclusive o comando à distância a partir do Rio.
Mensagens extraídas do aparelho indicam que ordens diretas para intimidação de eleitores e servidores da Justiça Eleitoral partiram da mansão. Entre as instruções estavam frases como “Casas que tiver fotos do Tomas podem comprar spray e picha (sic)”, “carro pode quebrar os vidros”, “problema de quem for votar nele” e “quando forem picha não pode botar o nome do Braga não ok (sic)”.
Com base nas provas, Braguinha teve o mandato cassado pela Justiça Eleitoral em 7 de maio. A defesa do prefeito, liderada pelo advogado Fernandes Neto, afirmou ter recebido a decisão com tranquilidade e que recorrerá às instâncias superiores. “A defesa mantém plena confiança na Justiça Eleitoral e acredita, com firmeza, na improcedência das acusações”, declarou em nota. A equipe jurídica nega qualquer vínculo entre o prefeito e o crime organizado.
Segundo o promotor Adriano Saraiva, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), as investigações já estavam em estágio avançado, mas se aprofundaram com a delação de um membro do CV. O colaborador relatou o pagamento de R$ 1,5 milhão em espécie a Anastácio Paiva Pereira, conhecido como Doze ou Paulinho Maluco, apontado como líder do CV na região norte do Ceará. Dois servidores da Prefeitura de Santa Quitéria teriam transportado o dinheiro em um Mitsubishi Eclipse Evolution, de Fortaleza até a Rocinha, em julho de 2024.
O veículo foi apreendido em dezembro do mesmo ano, durante uma operação conjunta das autoridades cearenses e fluminenses, realizada na mesma mansão onde estavam líderes da facção, entre eles Zé Maria, o ZM, suspeito de coordenar ataques a provedores de internet no Ceará. A operação resultou na apreensão de celulares e outros materiais que embasaram novas ofensivas.
Em 3 de junho, uma nova operação foi deflagrada, reunindo 80 agentes e cumprindo 29 mandados de prisão e 14 de busca e apreensão na Rocinha. Foram recolhidos drogas, armas e itens avaliados em cerca de R$ 1,5 milhão. Apesar do porte da operação, apenas uma pessoa foi presa. Estima-se que cerca de 400 criminosos tenham fugido para uma área de mata.
No Ceará, outra frente de atuação envolveu a Secretaria de Administração Penitenciária. A extração de dados de celulares encontrados em unidades prisionais revelou comunicações diretas com a cúpula da facção no Rio. Esse material resultou na Operação Evolutio, em Fortaleza, que prendeu cinco integrantes do CV, incluindo operadores financeiros.
“As pessoas que estão aqui no Ceará hoje são lideranças sem nenhuma relevância, e isso vai ser confirmado quando fizermos a extração dos celulares apreendidos no sábado e na Operação Evolutio”, afirmou o promotor Adriano Saraiva.
Ainda de acordo com a Promotoria, a permanência dos líderes cearenses na Rocinha começou a incomodar a cúpula do Comando Vermelho local, chefiada por Johnny Bravo. Os custos da estadia estariam causando prejuízo a outras operações da facção na comunidade.
“Há mais de dois anos não se fazia uma operação na Rocinha com essa envergadura, com essa união das instituições no combate ao crime organizado. A importância é mostrar para eles que eles não estão inacessíveis. Porque eles estavam no Rio justamente por essa dificuldade de ter acesso a eles”, concluiu o promotor.
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