Enchentes voltam a ameaçar Porto Alegre enquanto Melo só pensa em privatizar a DMAE

Comportas que impedem o avanço das àguas do Rio Guaíba na capital gaúcha seguem abertas e sem manutenção – Foto: Reprodução/X

As fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul ao longo desta semana geram um aumento no nível do Guaíba  e, com isso, as enchentes podem retornar à capital Porto Alegre. Segundo o MetSul, no final da tarde da última quinta (19), o Guaíba alcançou a marca de dois metros em um ponto de medição no Cais Central da Avenida Mauá, referência na medição de enchentes em Porto Alegre há 150 anos.

De acordo com a entidade, o aumento no Guaíba é resultado da chegada do volume de água vindo dos rios Jacuí e Taquari, o que pode ser agravado, neste sábado, pelos ventos na Lagoa dos Patos, que geram represamento e podem resultar em um aumento mais rápido do nível do Guaíba.

Ainda conforme a Defesa Civil de Porto Alegre, considerando a precipitação acumulada dos últimos dias em afluentes do Guaíba, a previsão é que o nível das águas cheguem próximo da cota de alerta no centro da cidade e atinja a cota de inundação no Extremo-Sul.

O órgão emitiu novo alerta climático para a possibilidade de acumulados de até 40mm na Capital nesta sexta-feira (20). Há, ainda, risco hidrológico e de deslizamentos para regiões ribeirinhas, especialmente no bairro Arquipélago.

SEM PREPARO

Mesmo depois de um ano, quando as águas que devastaram cidades do interior do Rio Grande do Sul inundaram Porto Alegre em níveis jamais vistos, o sistema de proteção contra enchentes da cidade falhou. Ao todo, 46 bairros ficaram inundados e mais de 157 mil pessoas foram atingidas. Um ano depois, a cidade segue vulnerável e moradores atingidos pedem para não serem esquecidos.

O sistema de proteção da cidade conta com 64 quilômetros de diques e muros, 23 casas de bombas de drenagem e 14 comportas. Sem manutenção, não foi capaz de conter os alagamentos. Agora, em 2025, o sistema não está funcionando. 

As casas de bombas seguem aguardando uma reforma definitiva. Quem passa ao lado da rodovia que serve como dique vê comportas quebradas ou caídas no chão. Outras comportas foram cimentadas, contra a recomendação de especialistas. A prefeitura afirma que investirá R$ 11 milhões em obras, mas por enquanto, pouca coisa saiu do papel.

Uma das medidas adotadas pelo prefeito Sebastião Melho (MDB) é o uso de sacos de areia que já podem ser vistos espalhados pelos armazéns do Cais Mauá, em Porto Alegre, na manhã desta sexta. Conforme a prefeitura da cidade, a medida é preventiva, e eles serão usados caso necessário.

Na enchente de 2024, os sacos foram utilizados para o fechamento das comportas. Chamados de “bags” e dispostos em fileiras, os sacos de areia pesam entre 800 kg e 1 tonelada. Foram colocados entre 50 e 80 deles para o fechamento das comportas 3 e 14 no ano passado.

O nível do Guaíba segue subindo, mas se mantém abaixo da cota de inundação, que é de 3 metros. Por volta das 9h, a água chegava a 2,24 metros na régua do Cais Mauá, na Capital.

SUCATEAMENTO DMAE

O vereador Oliboni (PT) denunciou em suas redes sociais os alagamentos e a ameaça do prefeito Sebastião Melo (MDB) para privatizar o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE).

A ação de privatizar é uma de suas promessas de campanha desde 2020 e se torna uma realidade cada vez mais próxima. Isso porque o projeto de lei 28/2025, que autoriza essa concessão parcial de serviços do DMAE, foi protocolado em maio, em reunião no salão nobre da Câmara dos Vereadores que contou com a presença de nomes como Melo e o diretor-presidente da autarquia, Bruno Vanuzzi, que é especialista em concessões e Parcerias Público Privadas (PPPs). 

“Mais de um ano após a enchente de maio e Porto Alegre continua alagando! Isso não é mais tragédia, é abandono. A prefeitura nada fez pra evitar. O governo Melo só pensa em entregar o DMAE pra iniciativa privada, enquanto o povo perde tudo pra chuva”.

O processo de sucateamento do Dmae não é novidade do mandato de Melo, e vem acontecendo de forma gradual. A extinção do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) foi um dos primeiros sinais. O repartimento deixou de existir em 2017, por denúncias de corrupção. A partir desse momento, as funções foram transferidas para o Dmae.

A queda da força de trabalho, uma das razões para a criação da CPI do Dmae, é outro indicativo: em 2015, eram 2.115 funcionários. Hoje são 1.448, número que inclui 58 antigos funcionários realocados do extinto DEP. Dos cargos do Dmae, há atualmente mais vagos do que ocupados: são mil posições preenchidas e 2.632 em aberto, de acordo com a edição mais recente dos Dados Gerais do Dmae, divulgados em 2023. Para o cargo de instalador hidrossanitário, por exemplo, apenas 99 das 450 vagas estão ocupadas. 

O investimento em água e esgoto começou a cair drasticamente durante o governo de Nelson Marchezan Júnior (PSDB), que governou Porto Alegre entre 2017 e 2021. Em março de 2023, uma auditoria do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul (TCE-RS), feita pela Diretoria de Controle e Fiscalização, apontou que o tucano precarizou a atuação do Dmae, causando prejuízos de no mínimo R$ 85 milhões, sendo R$ 37 milhões apenas entre 2017 e 2018, ao interferir para impedir a contratação de servidores necessários para os serviços de água e esgoto na capital gaúcha. 

Relatórios sobre o desempenho de Marchezan no Dmae começaram a ser divulgados pelo TCE-RS ainda durante seu mandato, feitos a partir de investigações devido a denúncias de que ele havia tirado a autonomia do órgão, o que resultou numa piora significativa dos serviços.

Fonte: https://horadopovo.com.br/enchentes-voltam-a-ameacar-porto-alegre-enquanto-melo-so-pensa-em-privatizar-a-dmae/