Foto: Luara Baggi/ASCOM-MCTI
Objetivo apresentado na 13ª Reunião de Ministros de CTI visa ampliar a soberania tecnológica dos países em desenvolvimento
Os BRICS celebram uma década de cooperação estratégica em Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI), com o anúncio de novas adesões ao seu protocolo de entendimento, a apresentação do Plano de Ação para Inovação 2025–2030 e uma proposta inédita de conexão digital independente: a construção de um cabo submarino do Sul Global, nesta quarta-feira (25). A iniciativa foi discutida durante a 13ª Reunião de Ministros de CTI, realizada no Palácio Itamaraty sob a liderança do Brasil, que ocupa a presidência do bloco neste ano.
Durante o encontro, representantes dos 11 países membros — incluindo os mais recentes integrantes, como Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã — e de nações parceiras, como Cuba, Nigéria e Tailândia, saudaram o início do processo de adesão ao Memorando de Entendimento (MdE) de CTI do BRICS, firmado originalmente em 2015.
A ministra brasileira da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, reforçou a importância do momento: “A nossa atual arquitetura de governança do BRICS para ciência, tecnologia e inovação, é certamente a mais extensa e dinâmica de todas as cooperações desse agrupamento, é um espelho do que somos e do que queremos”.
Além do balanço dos avanços, o evento também sinalizou uma mudança de escala na cooperação internacional com a proposta de um projeto estratégico: a criação de uma infraestrutura digital própria para o Sul Global.
“A infraestrutura de cabos submarinos por onde circulam os dados está fortemente concentrada no Norte Global. Por isso, uma das propostas que constará na carta é justamente a realização de um estudo de viabilidade para a implementação de um cabo submarino do Sul Global”, explicou Luciana Santos.
A proposta mira ampliar a soberania tecnológica dos países em desenvolvimento e reduzir a dependência das grandes potências do hemisfério norte. O sistema será voltado para pesquisa, inovação e uso produtivo, ligando diretamente redes de universidades e centros de desenvolvimento dos países BRICS.
A ministra destacou que, no contexto de transformações geopolíticas e tecnológicas, o domínio de dados é crucial para a soberania dos países: “O maior desafio hoje é a corrida pelo domínio tecnológico. E, para isso, nós precisamos, e muito, de dados. Vivemos em um contexto em que a revolução tecnológica depende fortemente da nossa capacidade de acesso e uso de dados para a tomada de decisões”.
PLANO BRICS 2025-2030
O Plano de Ação para Inovação do BRICS 2025–2030, aprovado pelos países-membros, estabelece como foco as tecnologias emergentes, como inteligência artificial e tecnologias quânticas, além de inovação industrial, sempre com atenção à sustentabilidade e à reindustrialização. A proposta foi construída com base nas contribuições do Grupo de Trabalho sobre Parceria em Ciência, Tecnologia, Inovação e Empreendedorismo, que se reuniu em junho no Rio de Janeiro.
Ao longo desses 10 anos de cooperação, o BRICS mobilizou mais de 1.500 projetos de pesquisa, financiando mais de 150 deles em áreas como oceanos, astronomia, energias renováveis, ciência dos materiais, biotecnologia e computação avançada.
“Estamos caminhando para o lançamento da 7ª Chamada de projetos. Mais que isso, estamos exportando nosso conhecimento e expertises nessas chamadas conhecidas como ‘regulares’ para a formatação, junto às agências de inovação de nossos países, que animará nossas comunidades de startups, incubadoras, aceleradoras e todo o ecossistema de inovação”, anunciou Luciana Santos.
A ministra também antecipou que o Brasil pretende lançar uma chamada “flagship”, com projetos de maior envergadura e impacto estratégico.
NOVAS PERSPECTIVAS
O crescimento do bloco e a abertura para novos membros reforçam a vocação do BRICS como plataforma aberta e viva. “É um momento histórico para o BRICS. O Memorando de Entendimento reflete nosso compromisso compartilhado com uma cooperação expandida. O BRICS é uma plataforma viva, aberta, que evolui com novas parcerias. Os desafios globais exigem novas perspectivas, e o BRICS está mais forte e inclusivo do que nunca”, afirmou a ministra da África do Sul, Nomalungelo Gina.
A embaixadora tailandesa Kundhinee Aksornwong também destacou o potencial transformador da iniciativa: “Nosso compromisso é avançar em CT&I para um futuro mais sustentável e seguro. Vamos continuar a construir pontes com os países do BRICS”. Já o embaixador cubano Adolfo Curbelo Castellanos reforçou a importância de respeitar as soberanias nacionais e ampliar a colaboração científica em benefício comum.
Luciana Santos encerrou a sessão com um apelo ao multilateralismo: “A expansão do BRICS para 11 países demanda a renovação do espírito de colaboração e respeito mútuo. Diante do que vivemos nos dias de hoje, tenho a convicção de que lutar pelo multilateralismo é lutar pela sobrevivência de cada um de nós, de nosso planeta. Não há solução para os nossos problemas sem articulação e cooperação internacional.”
Até o fim de 2025, o Brasil organizará cerca de 12 atividades, entre elas o Fórum de Jovens Cientistas e o Prêmio Jovem Inovador. A Índia assumirá a presidência em 2026, dando sequência a um movimento que busca consolidar o protagonismo do Sul Global na construção de soluções científicas sustentáveis e inclusivas.
Fonte: https://horadopovo.com.br/brics-celebra-10-anos-de-cooperacao-em-cti-com-proposta-de-cabo-de-conexao-submarino/