Foto: Ton Molina/STF –
Desencadeamento do golpe dos ricaços para “sangrar” Lula estaria ligado ao avanço da investigação determinada por Dino, que já teria detectado suspeitas de corrupção em emendas de 80 parlamentares, entre eles gente “graúda” do Centrão e do bolsonarismo
Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), lideram um movimento para enfraquecer o governo Lula mirando as eleições de 2026. O estopim da crise é o avanço da investigação da Polícia Federal (PF), ordenada pelo ministro Flávio Dino (STF), sobre supostas irregularidades em 5.449 emendas parlamentares, que totalizam R$ 4,2 bilhões e foram assinadas por 17 líderes partidários sem aprovação dos colegiados.
A PF já teria uma lista com cerca de 80 parlamentares e lideranças suspeitos de envolvimento em corrupção ligada a essas emendas, intensificando o pânico entre congressistas que atuaram com o orçamento secreto — mecanismo criado no governo Bolsonaro, com articulação do então ministro da Casa Civil Ciro Nogueira e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Nogueira, junto com Antônio Rueda, presidente do União Brasil, tem articulado uma frente com Republicanos e MDB, formando hoje a maior bancada da Câmara. Em 24 de junho, esses líderes se reuniram com Marcos Pereira (Republicanos) e Baleia Rossi (MDB) antes de Hugo Motta pautar um projeto do bolsonarista Zucco (PL-RS) que revogou mudanças de Lula no IOF — aprovado às pressas nas duas Casas Legislativas.
STF reage e PF avança
Na sexta-feira (27), Dino rebateu no STF as acusações de interferência do Judiciário no Legislativo, destacando que o Congresso pode alterar normas constitucionais, mas enquanto vigentes, o Supremo tem o dever de cumpri-las. Enquanto isso, a PF deflagrou a 4ª fase da operação Overclean, apurando um esquema de corrupção envolvendo o deputado Félix Mendonça (PDT-BA) e prefeitos da Bahia.
A PF também tem atuado contra aliados do governo, como o ex-ministro Juscelino Filho (União Brasil), exonerado após suspeitas de desvio de verbas via emendas destinadas ao município de Vitorino Freire (MA), então governado por sua irmã.
Segundo apuração da Revista Fórum, a investigação atinge nomes de peso do PP (Nogueira e Lira), do União Brasil (Rueda) e do MDB, este último articulador do sistema de emendas desde o governo Temer.
Berzoini: Congresso virou balcão de negócios
Em entrevista, o ex-deputado e ex-ministro Ricardo Berzoini afirmou que emendas parlamentares podem gerar “cashback” de até 40%, sustentando campanhas de reeleição com até R$ 80 milhões por gabinete. Ele criticou o atual modelo, afirmando que o Congresso virou uma “holding” de gabinetes que operam com verbas públicas, muitas vezes em parceria com empreiteiras e fornecedores municipais.
Berzoini defende o fim das emendas e lembrou que combateu a emenda impositiva ainda em 2013 e 2014, por considerar que ela distorce a relação entre os poderes. Para ele, a hipertrofia do Legislativo se consolidou após o impeachment de Dilma Rousseff, impulsionado por Eduardo Cunha, que hoje ainda atuaria na política através da filha deputada.
Cenário de barganhas e enfraquecimento institucional
Berzoini criticou o presidente da Câmara, Hugo Motta, por nomear Coronel Chrisóstomo (PL-RO) como relator da revogação do IOF, como forma de provocação, e considerou o presidente do Senado, Alcolumbre, como operador de lógica semelhante. Segundo ele, parlamentares que se opõem aos presidentes da Câmara ou Senado são punidos com o bloqueio de verbas.
O ex-ministro finalizou dizendo que o Congresso virou um “balcão de negócios”, relembrando episódios como a compra de votos na reeleição de FHC e o impeachment de Dilma, e defendeu que centrais sindicais e sociedade civil pressionem pelo fim das emendas.