Prefeitura de Porto Alegre reprime moradores e demole casas no bairro Sarandi

Policiais foram enviados para reprimir manifestantes em Sarandi – Foto: Reprodução

Moradores do bairro Sarandi foram agredidos pela Guarda Municipal de Porto Alegre (RS) ao tentar retirar seus pertences de residências que a Prefeitura decidiu demolir compulsoriamente. Os moradores, que foram acometidos pelas enchentes que assolam o Estado, sofreram disparos de bala de borracha e spray de pimenta.

Ruas da região seguem com casas submersas há 27 dias. Após o rompimento do dique, diversas famílias ficaram ilhadas. Uma balsa foi improvisada por moradores que precisam se locomover.

Na última quarta-feira (29), moradores reclamaram que a água bombeada para fora da região está voltando justamente pelo buraco de 10 metros na estrutura que deveria proteger a população das cheias.

A Prefeitura de Porto Alegre afirma que precisa retirar 37 famílias e destruir as casas onde elas vivem para reconstruir o dique rompido. A Guarda Municipal foi acionada pelo município, e houve confusão com os moradores.

“Eles querem dar um valor, e não sabemos se vai encontrar uma casa com esse valor”, comenta Marcio Silva dos Santos, porteiro e morador do bairro.

Em 29 de abril, um período de chuvas intensas teve início na Região dos Vales do Rio Grande do Sul. Nos dias que seguiram, as enchentes e os transtornos atingiram a Região Metropolitana, Vale do Taquari e Sul do estado. Ao todo, 169 pessoas morreram e 2 milhões foram afetadas.

“É preciso fazer essa reconstituição de maneira urgente, enquanto estamos com o tempo seco. Existem algumas ocupações irregulares que foram feitas ao longo dos anos, que foram feitas sobre o dique, inclusive cavando ele”, afirma o procurador-geral adjunto de Porto Alegre, Nelson Marisco.

O município afirma que pode pagar benefícios para que as pessoas deixem a região, mas alguns moradores dizem que a quantia proposta não é suficiente.

PROTESTO

Mais de 50 moradores do bairro Sarandi se reuniram no início da noite da quarta, no cruzamento das avenidas Assis Brasil e Sertório, para protestar contra a falta de medidas da Prefeitura de Porto Alegre para minimizar os efeitos da inundação. A principal reivindicação do ato foi o conserto imediato do dique rompido durante as enchentes e a drenagem das regiões que permanecem alagadas.

Cantando palavras de ordem como “Não foi tragédia, foi negligência, trabalhador também perde a paciência”, os manifestantes bloquearam o trânsito do cruzamento em locais alternados a partir das 17h30.

“Hoje, faz exatamente 26 dias que nós estamos sem casa, sem vida, sem dignidade. Ninguém mais tem mais nada. Onde a gente mora, a gente perdeu tudo, casa, trabalho, tudo, tudo, tudo. E o nosso bairro, a nossa vila, está simplesmente esquecida pelo nosso governo. Ninguém está fazendo nada por nós, há 26 dias”, diz Tatiane Rodrigues, moradora da Vila Asa Branca.

“Nós somos todos trabalhadores, as crianças sem colégio. No Centro, abaixou, e nós aqui no Sarandi? Tem coisa errada, né? Esqueceram do bairro, esqueceram das vilas”, complementa Mailon Ribeiro, também morador da Asa Branca.

Duplamente afetada, a professora Fernanda Barth teve a casa, na Vila Elizabeth, alagada, bem como o local onde trabalha, a escola municipal João Goulart. “A gente se reuniu de uma forma pacífica e a nossa reivindicação maior seria para que esse dique realmente fossem consertado. Não só uma medida paliativa, como ‘tapar’ um buraco, mas que eles realmente fossem, pro futuro não acontecer isso. Além disso, também as casas de bombas devem ser reestruturadas. Gostaria que não houvesse negligência de nos deixar quase um mês fora de casa, porque todo mundo está sofrendo, o emocional está abalado, a gente não tem mais estrutura”, diz.

 “A gente fica à mercê dessa situação e não tem o que fazer, tem que esperar a água baixar. Então, que essa água seja drenada, que as bombas sejam anfíbias, que as bombas sejam móveis, enfim, que alguma solução se tenha para o problema”, complementa.

Presente com efetivo no local, a Brigada Militar ajudou a organizar o ato, garantindo que apenas parte do cruzamento estivesse bloqueado a cada momento.

Fonte: https://horadopovo.com.br/prefeitura-de-porto-alegre-reprime-moradores-e-demole-casas-no-bairro-sarandi/