Othon Bastos e o maestro Marcus Vinicius durante o debate “Memórias do Palco” – Foto: Clara Luna/CPC-UMES
O seminário “Memórias do Palco”, do CPC da UMES recebeu na última terça-feira (25), uma verdadeira lenda viva do teatro brasileiro. Em uma sessão totalmente lotada no Cine-Teatro Denoy de Oliveira, Othon Bastos abriu as cortinas do passado e ofereceu ao público verdadeiras preciosidades da sua trajetória e da construção da nossa dramaturgia.
A noite foi iniciada com a leitura encenada de um trecho de “Um Grito Parado no Ar” pela Cia. Paulicéia. Considerada uma das peças fundamentais do período de resistência à ditadura, a peça de Gianfrancesco Guarnieri, dirigida por Fernando Peixoto, foi um dos primeiros espetáculos a furar o cerco da censura e mostrar a realidade brasileira, representada pelas dificuldades de um grupo teatral ao tentar encenar uma peça.

Ao abrir sua fala, Othon relembrou sua primeira (e traumática), experiência com o teatro, ainda na escola, e que, segundo ele, o levou a tomar a decisão de se tornar um “dentista” e ficar bem longe dos palcos. Mas, a vida o levou de volta ao caminho da arte.
Othon destacou também o período de sua companhia de teatro, junto a sua esposa, Martha Overbeck, a Othon Bastos Produções Artísticas, que foi atuou durante um período muito sensível para a arte brasileira. Ao comentar sobre o trecho encenado pela Cia. Paulicéia, de “Um Grito Parado no Ar”, ele explicou que o objetivo era o de dar voz àqueles que eram sufocados pela ditadura.
“Percorremos o Brasil para dar voz àqueles que tinham um grito preso na garganta”, disse o ator.
Ao iniciar seu comentário, o maestro Marcus Vinicius, presidente da Associação de Músicos, Arranjadores e Regentes – AMAR-SOMBRÁS, relembrou seu primeiro trabalho junto a Othon, na encenação de “Calabar”, de Ruy Guerra e Chico Buarque, que havia sido proibida pela ditadura em 1973, e foi finalmente encenada em 1979. O musical contou com o arranjo de Marcus Vinicius e dali surgiu a amizade entre os dois.

O maestro enfatizou o papel dos atores que permaneceram no Brasil durante a ditadura, enquanto outros tantos tiveram que se exilar por conta da perseguição. Segundo Marcus, Othon teve papel fundamental neste período.
“É importante relembrar que a companhia do Othon foi responsável por sustentar o teatro de resistência no Brasil. Por isso eu saúdo este combatente que naquele momento falou: Vamos continuar”, destacou Marcus.
Ao longo da noite, Othon respondeu questionamentos do público presente e falou sobre a sua longa e brilhante história nas artes brasileiras. Desde o início da sua carreira, na construção do Teatro Vila Velha, inaugurado na Bahia em 1964, além de sua atuação no cinema.
Othon relembrou como se deu a construção de Corisco, em “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha. Segundo ele, o diretor “comprou seu passe”, às vésperas da estreia de “Eles Não Usam Black-Tie”, no Teatro de Arena, por o equivalente a 36 reais.
Glauber Rocha, principal nome do Cinema Novo, recebeu as contribuições de Othon para a formação do personagem icônico. “Não queria fazer um Corisco como eram retratados os cangaceiros à época. Ele tinha ser inquieto, tinha que pular, correr…”, destacou o ator, responsável por uma das atuações mais brilhantes do nosso cinema.

A íntegra do seminário “Memórias do Palco: Abre a cortina do passado” será disponibilizada em breve pelo CPC-UMES no canal do Cine-Teatro Denoy de Oliveira.
O projeto segue por mais duas semanas no Cine-Teatro com debates que contarão com Cecília Boal (02 de julho) e Renato Borghi (09 de julho), sempre às 19 horas. Para reserva de ingresso, entre em contato com a equipe do CPC-UMES pelas redes sociais.
Fonte: https://horadopovo.com.br/othon-bastos-relembra-a-resistencia-do-teatro-na-ditadura-dar-voz-a-quem-tinha-um-grito-preso-na-garganta/