“Indústria da construção pode contribuir muito mais com o desenvolvimento nacional”, diz Altamiro, da CONTRICOM

Altamiro Perdoná, presidente da CONTRICOM, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria da Construção e do Mobiliário. Foto: Arquivo CONTRICOM

Dirigente da maior Confederação de trabalhadores do setor aponta os entraves à reindustrialização e coloca-se à disposição para participar do “pacto” em defesa da indústria brasileira

Em entrevista exclusiva ao HP, o dirigente sindical Altamiro Perdoná, presidente da CONTRICOM, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria da Construção e do Mobiliário, abordou o tema da reindustrialização do País, destacando o papel “histórico e decisivo” do setor na economia nacional.

Segundo Altamiro, “embora a indústria da construção não tenha sofrido os mesmos retrocessos de outros setores da indústria brasileira, o fato é que poderíamos contribuir muito mais com o desenvolvimento nacional”.

Altamiro lembrou que a participação da indústria da construção no PIB nacional caiu de 7% no ano 2000 para 3,3% em 2020. “Foi uma queda vertiginosa em apenas 20 anos”, assinalou, para lembrar que “nosso segmento da indústria, tanto a indústria da construção, como a da madeira e a de mármores e granitos, não parou na pandemia”.

Ainda de acordo com Altamiro, “a política neoliberal implantada no país há décadas atingiu principalmente a indústria em geral, pois a prioridade dos governos, com raras exceções, foi promover o agronegócio e fortalecer os setores primários da economia, voltados à exportação e não ao mercado interno”.

“Mesmo nesse quadro”, acrescentou, “a indústria da construção e seus ramos correlatos continuaram dando uma contribuição importante para o desenvolvimento país, com preservação de empregos”, mas advertiu: “o setor poderia estar em outro nível de desenvolvimento se os governos tivessem investido em grandes obras de infraestrutura, como acontece em muitos países desenvolvidos como a China”.

Altamiro assinalou que “o peso da construção na economia nacional, hoje, se deve muito mais às obras do setor imobiliário, o que é importante, principalmente a construção de moradias para as famílias de baixa renda, como prevê o programa Minha Casa, Minha Vida, no entanto, em um país continental como o nosso, poderíamos estar construindo mais ferrovias, estruturas ferroviárias para trens de média e alta velocidade, mais rodovias, mais pontes, mas não é isso que vemos nos últimos governos, nem mesmo no atual em que depositamos e continuamos depositando muita esperança”.

Questionado sobre as razões dessa realidade, o dirigente lembrou que “sem um grande investimento por parte do governo, isso é impossível”, acrescentando que “o empresário investe na construção de residências, centros comerciais e outras edificações, com financiamento público, porque sabe que vai ter garantido o seu lucro de volta, mas mesmo nesse segmento imobiliário, por causa dos juros muito altos, a lucratividade tem caído, como também os custos para o consumidor final, o que acontece até mesmo em programas subsidiados como Minha Casa, Minha Vida”.

“Enquanto continuar esses juros absurdos e o governo continuar gastando rios de dinheiro com a sua dívida, não sobrará dinheiro para grandes investimentos, aliás, o governo terá dificuldade até mesmo para bancar o compromisso que assumiu no programa Nova Indústria Brasil, recentemente lançado”, afirmou Altamiro, lembrando que “enquanto persistir essa política de déficit zero, não vai sobrar dinheiro para esses grandes investimentos que o Brasil precisa”.

Sobre a proposta da CONTTAF (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte Aquaviário e Aéreo) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM) de um pacto nacional pela industrialização do País, com bandeiras comuns, Altamiro pontuou:

“Logo no início do meu mandato, a direção da CONTRICOM procurou a CNI (Confederação Nacional da Indústria), através de seu braço no setor da construção, a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), propondo exatamente isso, uma pauta comum para fortalecer as empresas do setor e valorizar os trabalhadores. Chegamos a fazer algumas reuniões nesse sentido, mas, o fato é que em muitos lugares a representação empresarial não reconhece a importância de fortalecer os sindicatos, as federações e a própria confederação, pois ainda existe uma mentalidade atrasada que foi criada desde a malfada reforma trabalhista do Temer de 2017”.

“Aqui mesmo em Santa Catarina, onde presido a Federação da categoria, é uma luta constante e diária com a representação patronal, nós sempre estamos à disposição para defender o fortalecimento das empresas, mas o fato é que muitos do outro lado do balcão não querem reconhecer nossos direitos, e olha que essa representação patronal, através do Sistema S, que sempre defendemos, continua recebendo muito dinheiro, mas que nem sempre é voltado, por exemplo, para valorizar os trabalhadores”, argumentou.

Nesse ponto, Altamiro lembrou da “necessidade urgente de qualificar e requalificar os trabalhadores do setor da construção, da madeira, de mármores e granitos, etc.., pois as empresas estão começando a trazer novas máquinas e novas tecnologias, e se não houver uma política pública que se preocupe com isso, o desemprego no setor pode se agravar muito. Mas, veja você que nós, hoje, não recuperamos nem mesmo a fiscalização do trabalho, então, nós estamos ainda na fase de recuperar o que é o beabá para garantir um emprego digno e seguro. Aqui em Santa Catarina, por exemplo, o Ministério do Trabalho não recuperou nem mesmo sua condição para fiscalizar os problemas e irregularidades que afetam a segurança e a saúde do trabalhador que ainda constatamos nos canteiros de obras e demais locais de trabalho”, acrescentou.

E acrescentou: “Apesar disso tudo, a CONTRICOM está à disposição das demais confederações dos trabalhadores da indústria e das organizações empresariais para discutir esse pacto, pois nosso interesse é que não haja mais retrocesso na indústria e que sejam respeitadas as conquistas e os direitos dos trabalhadores, e vejam também a importância dos sindicatos de trabalhadores serem fortes para poder negociar, o que não acontece desde os ataques dessa reforma de Temer contra os sindicatos”.

Fonte: https://horadopovo.com.br/industria-da-construcao-pode-contribuir-muito-mais-com-o-desenvolvimento-nacional-diz-altamiro-da-contricom/