Profissionais destacam avanço de quadrinhos no RN

Não existe limite para a criatividade. Quando se trata da imaginação, é possível criar um mundo em que tudo é possível: carros voadores, grandes civilizações fora da Terra, super-heróis, uma turma de amigos em um bairro imaginário. Tudo vira história e todas elas podem ir para a ponta do lápis para que outras pessoas compartilhem de sensações, ideias e de um mundo diferente que poderia ser real.

É assim que funcionam as histórias histórias em quadrinhos. Conhecidas também como HQs ou até gibis, elas acompanham um público amplo pela diversidade de temas, personagens e possibilidades de acontecimentos em uma folha de papel. Assim, surge uma profissão que trabalha com o real e o irreal, aqueles que são donos de traços muito específicos que dão exclusividade para suas obras: os quadrinistas.

Em alguns casos, a conexão entre o quadrinho e o quadrinista vem desde pequeno, como é o caso de Renato de Medeiros, ou melhor, Jotinha. O profissional, que também é professor de filosofia, explica que o desenho sempre esteve presente na sua vida, mas gostava mesmo era de escrever. Com o tempo, e atrelado a escrita de algumas histórias, os desenhos vieram como forma de complementar a obra, por falta de profissionais no meio. “A partir daí, eu comecei a fazer tiras. Quase todo mundo começa fazendo tiras de quadrinho, e charges também”.

Hoje em dia, Jotinha é um dos principais nomes do Rio Grande do Norte ao falar de quadrinhos sobre terror e ficção científica, mas já percebe uma diversificação na busca de outros temas. “É um nicho que o Brasil sempre teve a tradição de trabalhar. Eu acho que é o melhor que existe para fazer. Mas hoje em dia, a gente está tendo uma diversificação maior. Por exemplo, eu já noto que as pessoas já pedem mais histórias sobre o cotidiano e de biografias”, comentou.

Através da grande procura por diversos temas, o quadrinista relata que o início sempre será por gostar do que faz, até que o mercado ensine os profissionais a venderem suas obras. Dessa forma, Jotinha afirma que o mercado tem se intensificado cada vez mais devido ao surgimento e crescimento de eventos voltados à cultura nerd e literatura no estado, como a Good Game Convention (GGCON) e a Feira de Livros e Quadrinhos (FLIQ), e em outros lugares do país, assim como a fidelidade de clientes e união dos profissionais.

“A gente já tem pessoas que nos conhecem pelo Instagram, pelas feiras. Muitas vezes, a gente lança alguma coisa, ele já diz, ‘onde é que você vai estar, em qual evento?’ Ou então a gente marca de se encontrar para autografa. Vamos formando a clientela […] A gente vai aos poucos. Um evento, por exemplo, que eu vou e um colega não vai, eu divulgo o material dele, ele faz o mesmo. A gente vem aqui fazendo trabalho e um vai divulgando o outro. É assim que a gente vai começando a fazer uma rede de vendas”.

Um meio machista (ainda)

Cristal Moura iniciou sua carreira nos quadrinhos no ano de 2016. Foto: Isabelly Noemi

Tatuadora e professora de Artes da rede estadual de ensino, Cristal Moura iniciou sua carreira nos quadrinhos em 2016. Sua paixão começou ainda enquanto cursava Artes Visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) quando, em um grupo de pesquisa, ela fazia páginas de quadrinhos e histórias curtas. Mas, sua primeira publicação saiu apenas em 2016, através da editora Escribas.

De lá para cá, ela conta que as produções aumentaram, assim como o reconhecimento, não só de premiações, mas também de seu público. “É muito satisfatório você publicar e ver que várias pessoas estão lendo sua história, que mesmo você sendo nordestina e mulher, você tem um público que vai lhe acompanhar. É maravilhoso você publicar e encontrar o seu público.

Com um estilo de desenho específico, Cristal conta que se inspira muito na Xilogravura e que sua técnica foi aperfeiçoada com muito estudo e inspiração de artistas que admira, com uso frequente de contraste entre luz e sombras. Tudo isso, levou a artista a um gênero específico: o terror. “É um gênero que realmente me apetece bastante. Sempre produzindo e pesquisando, a gente vai desenvolvendo um traço específico. Então, ao longo dos anos, o traço vai mudando. Do ano passado pra cá, eu também comecei a estudar roteiro, porque até então você fazia roteiro de outras pessoas”, disse.

Ao olhar o cenário dos quadrinhos no RN e incluir a valorização da profissão como mulher, a quadrinista afirma que o cenário está cada vez mais aquecido e que a leitura das HQs vem sendo passada de geração em geração. “Eu vejo que os filhos dos nossos leitores estão chegando para ler também e ver esse crescimento é muito bom. Ver cada vez mais mulheres chegando nesse meio dos quadrinhos, que até então era um meio muito machista, ainda é muito machista. Tem os seus preconceitos ainda, mas que dá para você lidar de uma forma mais tranquila”, relatou.

Apesar disso, as vendas também não param. Com isso, Cristal conta que desde que iniciou sua carreira de quadrinista e passou a publicar as obras junto com seu esposo, as HQs sempre chegam a esgotar. No entanto, ela afirma, os livros não se vendem sozinhos e por isso, eventos que priorizam essa cultura dos quadrinhos e o universo literário tendem a crescer cada vez mais por causa da grande procura do público e da valorização dos artistas.

“Histórias em quadrinhos vendem bem. Boas histórias vendem bem. Mas você precisa saber vender seu trabalho. Você tem que estar nos eventos, você tem que encontrar o seu público, faz parte de debates, conversas, eventos nas universidades, nas escolas, que é onde dá o seu público […] Os eventos são muito bons. São muito bons de venda. A GGCON, por exemplo, é um evento que vem crescendo cada vez mais e é um dos eventos que mais valoriza o artista da casa. Então, a gente se sente acolhido. As pessoas são muito receptivas ao novo”.

Em meio a tudo isso, e mesmo tendo inspirações e memórias afetivas que deem forças para continuar no ramo, Cristal ressalta que um de seus principais motivos para continuar está no simples fato de incentivar cada vez mais mulheres a crescerem nesse meio. “O que motiva? Eu ver em sala de aula as minhas alunas se interessando por desenho, se interessando por escrita. Ver minhas alunas, meus alunos interessados, me dá mais vontade de sempre publicar”, falou.

Fonte: https://agorarn.com.br/ultimas/profissionais-destacam-avanco-quadrinhos-rn/