Agente da Abin diz à PF que foi constrangido a trazer relógios de luxo do Qatar para Ramagem

Um funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) afirmou em depoimento à Polícia Federal que foi obrigado a transportar do Qatar para o Brasil três relógios de luxo com o objetivo de entregá-los ao então diretor do órgão, Alexandre Ramagem. A revelação foi publicada pelo colunista Aguirre Talento, do portal UOL, e integra a investigação sobre a chamada “Abin paralela”, que apura supostos desvios de função durante a gestão de Ramagem, no governo Jair Bolsonaro (PL).

De acordo com o agente, o transporte foi determinado por uma assessora de confiança de Ramagem, o que o teria deixado desconfortável. “Em uma das viagens, o declarante foi constrangido a trazer um presente do Qatar para Ramagem”, afirmou o servidor. Segundo ele, a ordem era clara: “a assessora determinou ao declarante que levasse o presente de Ramagem”, referindo-se aos relógios. O agente, porém, não especificou o modelo dos itens nem informou se os declarou na chegada ao país, o que, em caso negativo, pode configurar sonegação fiscal.

A Polícia Federal está na fase final da apuração e deve ouvir nesta quinta-feira o atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa. O depoimento ocorre em meio a suspeitas de que Corrêa teria determinado a destruição de provas que poderiam comprometer integrantes da antiga gestão, dificultando o avanço das investigações.

Em nota enviada à reportagem, a defesa de Alexandre Ramagem declarou que o ex-diretor “esclareceu em seu depoimento à PF que esses relógios foram recebidos, catalogados pela Abin e encaminhados ao museu da instituição”.

A investigação também apura a existência de possíveis vínculos entre servidores nomeados por Ramagem e uma empresa contratada pela própria Abin. A PF tenta esclarecer se houve repasses financeiros a esses funcionários em troca de favorecimentos indevidos.

Alexandre Ramagem, que atualmente exerce mandato como deputado federal pelo PL, tem sido um dos alvos centrais da investigação sobre a atuação paralela da Abin, que inclui ainda denúncias de espionagem ilegal e favorecimento de aliados políticos. A conclusão do inquérito pode ter desdobramentos jurídicos e políticos para figuras do alto escalão da gestão anterior.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/agente-da-abin-diz-a-pf-que-foi-constrangido-a-trazer-relogios-de-luxo-do-qatar-para-ramagem/