As cenas de destruição causadas pelas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no ano passado — com 90% do estado afetado, 183 mortos e meio milhão de pessoas desabrigadas — serviram de ponto de partida para uma audiência pública realizada nesta segunda-feira (12) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Promovido pela Comissão do Cumpra-se, o encontro debateu o papel da cultura diante das mudanças climáticas e destacou como ações culturais têm sido fundamentais tanto na resposta a tragédias quanto na prevenção de novos desastres.
Durante a audiência, a diretora do Instituto de Cultura e Clima, Laura Boreia, relatou que, logo após a tragédia no Sul, agentes culturais foram os primeiros a atuar nos abrigos.
“As ações culturais foram as primeiras a chegar aos abrigos, ajudando a acolher crianças, dar continuidade à educação e oferecer alternativas ao trauma. A cultura, juntamente com as comunidades que estão se reconstruindo, é um eixo central para que as pessoas recuperem seus propósitos de vida”, afirmou.
Ela acrescentou que a cultura pode atuar inclusive antes dos eventos extremos: “Ela promove justiça informacional, ajuda as pessoas a se organizarem e evitarem perdas maiores. A cultura já contribui muito para o campo climático, mas de forma ainda pouco reconhecida”.
O presidente da comissão, deputado Carlos Minc (PSB), reforçou a necessidade de incorporar a cultura nas políticas públicas de enfrentamento às mudanças climáticas.
“Quando você tem os efeitos das mudanças climáticas, como vimos no Rio Grande do Sul e na Amazônia, não são só casas e indústrias que são atingidas; perdem-se também pessoas, comunidades, saberes e equipamentos culturais. Tudo isso tem que estar ligado”, afirmou. Para o parlamentar, é urgente consolidar essa integração entre as áreas ambiental e cultural.
A secretária estadual de Cultura, Danielle Barros, também destacou o poder da arte diante das urgências sociais.
“A arte tem a capacidade de nos afetar profundamente. Ela é uma flecha certeira que, quando nos atinge, nos marca, nos transforma. Acredito que essa ferramenta precisa estar a serviço também das nossas mazelas e do que ainda precisamos evoluir”, disse.
Silvan Gastão, mestre de carimbó e produtor cultural, ressaltou que a cultura já mudou o rumo da história em diversos momentos e que agora precisa se posicionar frente à maior crise da atualidade.
“A cultura é uma ferramenta superpoderosa de transformação social. Tem que atravessar todas as frentes, como saúde, educação e cultura, porque essa questão da crise climática é a grande mazela do nosso tempo. Quando eu canto sobre emergência climática, estou falando do nosso futuro. A arte pode e deve ser esse canal”, afirmou.
O debate foi encerrado com um consenso entre os participantes: diante da intensificação de eventos climáticos extremos, a cultura não pode ser tratada apenas como expressão simbólica, mas como instrumento ativo de mobilização, reconstrução e cuidado com as comunidades.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/cultura-ajuda-a-reconstruir-vidas-no-rs-e-vira-tema-de-debate-sobre-mudancas-climaticas-na-alerj/