Um estudo realizado pelo instituto Democracia em Xeque, divulgado nesta semana, revela que a mobilização da direita nas redes sociais em defesa do Projeto de Lei da Anistia — que visa perdoar os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 — foi significativamente maior do que a da esquerda. Segundo o levantamento, publicado pela seção Sonar, do jornal O Globo, entre os dias 9 e 16 de abril, perfis classificados como conservadores produziram mais que o dobro de publicações relacionadas ao tema em comparação com os perfis progressistas.
Foram analisadas 5,5 mil postagens publicadas por perfis influentes nas plataformas Facebook, Instagram, Youtube, X (ex-Twitter) e TikTok, todas com menções aos termos “8 de Janeiro”, “anistia” e “golpista”. A data de maior atividade foi 11 de abril, quando o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido na Câmara, anunciou ter reunido as 257 assinaturas necessárias para protocolar o requerimento de urgência da proposta — o que de fato ocorreu três dias depois.
De acordo com o instituto, o campo conservador publicou 2,6 mil vezes sobre o tema, enquanto a esquerda somou 1,2 mil postagens no mesmo intervalo. A direita também obteve um número expressivo de interações: aproximadamente 40 milhões, contra 10,4 milhões dos perfis progressistas. “Esses dados sugerem que, no debate sobre a anistia dos presos do 8 de janeiro, os conservadores têm investido mais em presença digital, com foco nas plataformas com potencial de viralização e engajamento político”, afirma o relatório.
A disparidade foi particularmente evidente no Youtube, onde 80% das publicações sobre o PL da Anistia foram de perfis de direita, frente a apenas 17% da esquerda. No Facebook, a diferença foi mais equilibrada: 55% das postagens foram feitas por conservadores e 41% por progressistas. Em termos de interações, o padrão se repetiu: no Youtube, por exemplo, os conservadores somaram 17,2 milhões de interações, enquanto os progressistas ficaram com 3,6 milhões.
Outro destaque do estudo é o uso estratégico de vídeos e imagens para maximizar o impacto emocional e construir narrativas de injustiça em torno da prisão dos envolvidos no 8 de Janeiro. “A direita tem adotado uma comunicação visual mais estruturada para reforçar a percepção de perseguição política”, aponta o relatório.
O único espaço digital onde a esquerda superou a direita em engajamento foi o TikTok: embora com menor volume de postagens, os perfis progressistas atingiram 1 milhão de interações, superando os 700 mil registrados pela direita. Ainda assim, o instituto ressalta que a esquerda não conferiu ao tema o mesmo grau de prioridade: “A anistia não ocupa o mesmo lugar de centralidade na comunicação da esquerda”, conclui o estudo.
Além de defender a anistia, perfis da direita aproveitaram o debate para atacar o Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente o ministro Alexandre de Moraes, relator dos processos contra os envolvidos no 8 de Janeiro, e também o ministro Gilmar Mendes, que se manifestou contra o projeto, chamando-o de “consagração da impunidade”.
Por sua vez, a esquerda concentrou seus esforços em deslegitimar a urgência do projeto, destacando que a coleta de assinaturas não garante sua votação nem sua aprovação. Também circularam mensagens que sugerem possíveis retaliações do governo federal a parlamentares da base que assinaram o requerimento.
O estudo do Democracia em Xeque ilustra como o embate sobre a anistia no Congresso extrapolou os limites da política institucional, consolidando-se como uma disputa central nas arenas digitais e evidenciando o uso cada vez mais sofisticado da comunicação online como ferramenta de pressão e mobilização social.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/direita-tem-o-dobro-de-postagens-da-esquerda-em-apoio-ao-pl-da-anistia-nas-redes-sociais/