Sob pressão diante da queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, reconheceu em entrevista à Folha de S.Paulo que as recentes crises — como a do Pix e o escândalo no INSS — têm prejudicado os esforços de comunicação do governo e dificultado a recuperação da imagem do Planalto junto à população. Segundo ela, embora o governo siga com cerca de 40% de aprovação, o cenário político exige mais do que uma boa estratégia de divulgação.
“Mesmo que você queira comunicar medidas positivas, elas ficam ofuscadas pela administração das crises”, afirmou a ministra, que também preside o PT nacionalmente. Gleisi admitiu que parte da atual base governista pode migrar para o campo adversário nas eleições de 2026, e que o governo não deve contar com apoio integral de legendas que ocupam cargos na Esplanada.
A petista reforçou que o atual desafio vai além da comunicação: “Temos uma oposição militante, de extrema direita, que atua nas ruas, nas redes e no Congresso, algo que não vivenciamos nos primeiros mandatos do Lula. É um embate constante”. Ainda assim, acredita que há tempo e espaço para reverter a percepção negativa e projeta que, com maior presença de Lula nas ruas e o reforço de estratégias diretas com a população, os indicadores devem melhorar.
Ao abordar o escândalo envolvendo entidades fantasmas que realizaram descontos indevidos sobre benefícios do INSS, Gleisi atribuiu a origem do esquema ao governo anterior e negou omissão por parte da atual gestão. “Talvez tenha havido demora, mas a investigação começou ainda em 2023, e o governo tomou medidas para ressarcir os aposentados”, afirmou. Sobre a iminente instalação de uma CPMI do INSS no Congresso, com apoio inclusive de senadores governistas, minimizou o impacto: “Não temos medo da CPMI”.
Questionada sobre as tensões dentro da base aliada, Gleisi admitiu que há partidos que preferem lançar seus próprios candidatos em 2026, mesmo ocupando ministérios no governo atual. “Não adianta querer que agora venham 100% dos votos. A articulação com o Congresso tem sido pautada pelo compartilhamento de responsabilidades institucionais”, disse, citando a boa relação com os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre.
A ministra também defendeu a estratégia de estimular candidaturas próprias de ministros e parlamentares petistas nas próximas eleições. “Precisamos de chapas fortes”, argumentou, ao indicar que deve disputar um novo mandato em 2026, embora a decisão ainda não tenha sido formalizada com o presidente Lula.
Gleisi também criticou com veemência a proximidade de figuras da direita brasileira com o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. “Foi uma vergonha ver governadores como Tarcísio [de Freitas] usando boné pró-Trump. Não são nacionalistas nem um pouco”, atacou, ao comentar possíveis sanções do futuro governo Trump contra o ministro Alexandre de Moraes. “O Brasil não aceitará esse tipo de interferência.”
Ao falar sobre a primeira-dama, Janja, frequentemente alvo de críticas públicas e rumores, Gleisi saiu em defesa enfática. “Ela não é um vaso de enfeite. Tem militância, opiniões, fala de temas importantes e precisa ser respeitada por isso.”
Sobre o projeto de anistia a investigados pelos atos golpistas de 8 de janeiro, a ministra disse considerar o tema superado: “O fracasso do projeto da anistia é a maior derrota de Bolsonaro, que agora vai sentar no banco dos réus, como deve ser em um Estado democrático de Direito.”
Perfil
Gleisi Hoffmann, 59 anos, é ministra das Relações Institucionais e deputada federal licenciada pelo Paraná. Foi senadora entre 2011 e 2019, chefe da Casa Civil no governo Dilma Rousseff e presidiu o PT de 2017 até o início de 2025.
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