Governo decide trocar comando da Codevasf em meio a investigação da PF sobre fraudes na Bahia

O governo federal decidiu substituir o diretor-presidente da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), Marcelo Moreira, em meio ao avanço das investigações da Polícia Federal sobre suspeitas de corrupção em convênios firmados pela estatal com prefeituras no interior da Bahia. A mudança no comando da empresa, que administra recursos bilionários de emendas parlamentares, ocorre no momento em que o nome de Moreira é citado por investigados ligados ao deputado Elmar Nascimento (União-BA), seu padrinho político. As informações foram são da coluna de Natália Portinari no portal UOL.

A saída de Moreira ainda não foi oficializada, mas o processo de escolha de um novo nome está em curso. A substituição ocorre semanas após o engenheiro Miled Cussa Filho, ex-superintendente da Codevasf em Juazeiro (BA), afirmar que foi pressionado e assediado por Moreira após colaborar com a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União em investigações sobre contratos suspeitos na região.

Em entrevista ao UOL, publicada na última sexta-feira, Cussa disse ter sido exonerado após cobrar explicações da Prefeitura de Campo Formoso sobre convênios firmados com verbas de emendas de Elmar Nascimento, que totalizam R$ 57 milhões. Ele afirmou que o prefeito Elmo Nascimento, irmão do deputado, levou dois empresários à sede da estatal, que depois venceriam licitações sob suspeita de fraude. Segundo Cussa, os visitantes não se identificaram como representantes da Allpha Pavimentações, empresa apontada pela PF como favorecida nos certames.

A Codevasf, em nota, negou que tenha havido pressão sobre o ex-superintendente e disse que ele foi demitido após confirmação de sua participação em uma reunião com os empresários que mais tarde seriam beneficiados pelos convênios. Cussa, por sua vez, informou à CGU e ao MPF que a visita foi agendada por Elmo Nascimento e comprovada por registros de entrada no prédio da estatal, nos quais consta a presença de dois empresários e um lobista.

As suspeitas fazem parte da Operação Overclean, que apura fraudes em licitações, corrupção e desvio de recursos em contratos entre a Codevasf e a Prefeitura de Campo Formoso. Durante as investigações, a PF apreendeu mensagens nas quais Francisco Nascimento, primo do deputado Elmar Nascimento e preso na operação, afirma que Marcelo Moreira é “amigo e indicação nossa”. A operação foi remetida ao Supremo Tribunal Federal após surgirem indícios de que um assessor de Elmar recebeu propina, o que aciona o foro privilegiado do parlamentar.

A Codevasf, vinculada ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), é uma das estatais mais cobiçadas por congressistas, em especial pelas possibilidades de destinação de emendas para obras de pavimentação e aquisição de maquinário agrícola. O orçamento previsto para a empresa em 2025 é de R$ 1 bilhão.

Apesar de aliados de Marcelo Moreira afirmarem que ele teria manifestado desejo de sair para retornar à iniciativa privada, a substituição ocorre em meio à maior crise de credibilidade da estatal desde que passou a operar com emendas do chamado “orçamento secreto”. Moreira, que foi executivo da Odebrecht, comanda a empresa desde 2021, quando foi indicado durante o governo Jair Bolsonaro.

A escolha de seu sucessor deve ser conduzida pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que tem influência direta sobre o MIDR. O ministro da Integração, Waldez Góes (PDT), ex-governador do Amapá, é um nome de confiança de Alcolumbre. Para definir o novo diretor, o senador pretende ouvir também o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o líder do União Brasil no Senado, Efraim Filho (PB). O primeiro nome sondado, Valder Ribeiro de Moura, atual secretário-executivo do MIDR, recusou o convite.

A indicação do novo presidente da Codevasf passará por análise da Casa Civil e será submetida ao comitê de elegibilidade da estatal. O nome precisa ainda ser aprovado pelo conselho de administração da companhia, cuja próxima reunião está marcada para o dia 26 de maio.

Enquanto isso, as investigações da Polícia Federal avançam e podem ampliar o alcance do escândalo em torno dos convênios da Codevasf, com foco especial em municípios baianos ligados a aliados do deputado Elmar Nascimento, hoje um dos principais articuladores do União Brasil no Congresso. O parlamentar nega qualquer irregularidade.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/governo-decide-trocar-comando-da-codevasf-em-meio-a-investigacao-da-pf-sobre-fraudes-na-bahia/