Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) afirmou que Jair Bolsonaro estava pronto para realizar a transição do governo para Luiz Inácio Lula da Silva, eleito presidente em 2022. Mourão também negou ter discutido ou participado da elaboração da chamada “minuta golpista”, documento que propunha medidas para contestar o resultado eleitoral.
A informação foi dada nesta sexta-feira (23) durante a oitiva de Mourão, que depôs como testemunha indicada pela defesa do general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Segundo o senador, “em todas as oportunidades, em nenhum momento Bolsonaro mencionou qualquer medida que representasse ruptura do ‘status quo’. As nossas conversas sempre foram em torno da transição”.
Ainda conforme o relato, Mourão disse ter conversado com Bolsonaro logo após o segundo turno das eleições de 2022, quando prometeu estabelecer contato com Geraldo Alckmin (PSDB) para iniciar a transição para o novo governo. “Bolsonaro estava pronto para entregar o governo para o presidente recém-eleito”, declarou.
Apesar disso, Bolsonaro viajou aos Estados Unidos em 30 de dezembro de 2022, poucos dias antes da posse de Lula, que ocorreu em 1º de janeiro de 2023. Mourão, que na ocasião era vice-presidente e deveria entregar a faixa presidencial ao petista, optou por não comparecer à cerimônia.
O ex-vice-presidente também negou ter sofrido pressões de apoiadores bolsonaristas para aderir a qualquer tentativa de golpe. Segundo ele, as ofensas que recebeu nas redes sociais “fazem parte do jogo político”, mas não partiram de militares. “Tenho certeza que não partem de companheiros que tive dentro do Exército, partem desses grupos que vicejam nesse pântano das redes sociais”, afirmou.
No entanto, a postura de Mourão apresenta nuances. Reportagem do jornal nipo-britânico Financial Times revelou que, durante visita a Nova York em julho de 2022, o então vice-presidente demonstrou preocupação com a possibilidade de um golpe no Brasil. Em encontro com investidores, Mourão evitou comentar diretamente sobre riscos golpistas, mas, em conversa reservada no elevador com o diplomata Thomas Shannon — ex-embaixador dos EUA no Brasil e subsecretário para Assuntos Políticos do Departamento de Estado americano — admitiu estar “muito preocupado”.
Essa declaração contrasta com o depoimento de outra testemunha da trama golpista, o ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), Carlos Almeida Baptista Júnior, que confirmou a apresentação da “minuta golpista” aos líderes das Forças Armadas durante reuniões em 2022.
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