Um ano após comparecer a um evento esvaziado no Dia do Trabalhador, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu não participar das celebrações deste 1º de Maio organizadas pelas centrais sindicais, informa o jornal O GLOBO. Em vez disso, gravou um pronunciamento que será exibido em cadeia nacional de rádio e TV. A ausência de Lula ocorre em meio a críticas de parlamentares da esquerda por sua falta de apoio à proposta que prevê o fim da jornada de trabalho 6×1, uma das principais bandeiras das manifestações deste ano.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que busca abolir a escala de seis dias trabalhados para um de descanso está em tramitação no Congresso e tem ganhado força entre centrais sindicais e movimentos sociais. O Partido dos Trabalhadores classificou a pauta como “histórica” em seu site oficial, mas parlamentares do PSOL apontam que o tema não avança por falta de respaldo direto do presidente.
— A gente precisa de mais apoio. O que está faltando é a questão do diálogo mesmo. O governo não apoia a nossa discussão como a gente gostaria. Temos a esperança de que, em algum momento, a gente tenha uma sinalização mais incisiva ao longo deste ano. Falta, principalmente, o apoio do presidente Lula — afirmou o vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), um dos articuladores da mobilização pelo fim da escala 6×1 nas redes sociais.
Comemorado de forma dividida, o Dia do Trabalhador terá dois atos em São Paulo. A CUT organizará seu evento em São Bernardo do Campo, no berço político de Lula, com previsão de atrair cerca de 30 mil pessoas, principalmente militantes. Já as demais centrais, como UGT, Força Sindical e Nova Central, promoverão um ato unificado na Praça Campo de Bagatelle, na zona norte da capital, com expectativa de público estimada em 300 mil pessoas, segundo Ricardo Patah, presidente da UGT.
— A gente reunia 1 milhão antes — relembrou Patah, referindo-se à queda de público registrada no ano passado, quando o ato ocorreu no estacionamento da Arena Corinthians, em Itaquera, e contou com pouco mais de 1,6 mil participantes, de acordo com levantamento do Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP.
Além de reivindicar o fim da escala 6×1, as centrais sindicais devem apresentar ao governo federal uma pauta unificada. O documento, elaborado em abril, inclui a redução da jornada de trabalho, combate à carestia, isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil, juros mais baixos e igualdade salarial entre homens e mulheres. A entrega será feita nesta terça-feira, durante plenária em Brasília, aos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e ao próprio Lula, que receberá representantes da Marcha da Classe Trabalhadora no Palácio do Planalto.
A PEC contra o regime 6×1 também será defendida em manifestações organizadas pelo movimento Vida Além do Trabalho, que articula atos em nove capitais brasileiras. Na tentativa de ampliar o apoio institucional, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) levou a proposta à ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, durante uma reunião em abril. Gleisi afirmou que a pasta avaliaria o tema e buscaria interlocução com o presidente da Câmara.
Apesar da morosidade, a proposta tem adesão expressiva dentro do PT: 63 dos 66 deputados federais do partido apoiam a medida. Ainda assim, a pauta concorre com outras prioridades na agenda da legenda. Segundo o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto (PT-SP), “escolhemos ela como uma das pautas prioritárias e nós estamos compondo um grupo de trabalho para cuidar disso, conversar com os líderes e com o Motta. Agora, com o Orçamento votado, estamos com o fim da escala 6×1, a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil e a discussão da tarifa zero (para o transporte público), que estou coordenando pessoalmente”.
Mesmo sem presença física nos atos, Lula será representado por ministros de sua confiança: Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência), Luiz Marinho (Trabalho) e Cida Gonçalves (Mulheres). O evento da CUT contará com apresentações de artistas como Belo, MC Hariel, Pixote e Tiee, das 10h às 18h.
O ato unificado, por sua vez, convidou autoridades e figuras públicas de diferentes espectros políticos, incluindo adversários históricos do PT, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT). O ministro da Previdência, Carlos Lupi, também havia sido convidado, mas não deve comparecer após ser citado em operação da Polícia Federal que apura fraudes bilionárias no INSS.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/lula-nao-comparecera-ao-1o-de-maio-das-centrais-sindicais-que-tera-escala-6×1-como-pauta/