Foto: Reprodução –
Uma troca de mensagens inédita obtida pela Polícia Federal mostra que o ex-presidente Jair Bolsonaro resistiu a apelos para condenar, em tempo real, a invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023. A revelação consta em registros extraídos do celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente, apreendido em uma operação da PF no ano passado. As informações são do colunista Aguirre Talento, do portal UOL.
Às 16h36 daquele domingo, enquanto os atos de depredação estavam em curso, Cid recebeu uma mensagem de Paulo Figueiredo Filho, neto do ex-presidente da ditadura João Figueiredo e influenciador bolsonarista, em tom de urgência.
“Estupidez sem tamanho. O presidente Bolsonaro precisa se manifestar contra isso AGORA. Pelo amor de Deus. Eu estou no ar na Jovem Pan”, escreveu Figueiredo, que demonstrava preocupação com as consequências políticas para o campo bolsonarista e sugeria que Bolsonaro falasse imediatamente, ao vivo, na rádio onde atuava.
Naquele momento, Bolsonaro estava nos Estados Unidos, país para o qual embarcou em 30 de dezembro de 2022, evitando passar a faixa presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a Polícia Federal, antes de deixar o Brasil, o ex-presidente buscou apoio de comandantes das Forças Armadas para uma ação que impediria a posse do novo governo.
A resposta de Cid, também obtida pelo UOL, confirma que Bolsonaro optou por permanecer em silêncio durante a execução dos atos.
“Não vai [se manifestar]… Acabei de falar com ele”, escreveu o tenente-coronel. Em seguida, acrescentou: “Isso já deixou de ser por ele. O povo já não aguenta mais tanta arbitrariedade”.
A mensagem levanta dúvidas sobre a posição do ex-presidente diante da escalada violenta dos seus apoiadores. A primeira manifestação pública de Bolsonaro sobre os ataques foi publicada somente às 21h17 daquele dia em suas redes sociais, quando os atos já haviam sido contidos pela Polícia Militar e o governo federal havia decretado intervenção na segurança pública do Distrito Federal.
“Manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia. Contudo, depredações e invasões de prédios públicos como ocorridos no dia de hoje, assim como os praticados pela esquerda em 2013 e 2017, fogem à regra”, escreveu o ex-presidente.
A conversa entre Cid e Figueiredo faz parte de um acervo de 77 gigabytes de dados apreendidos no celular do militar em 3 de maio de 2023, em uma investigação sobre fraudes em certificados de vacinação. O material inclui mais de 158 mil mensagens trocadas por WhatsApp, das quais apenas uma parte foi divulgada após a conclusão de inquéritos anteriores.
Procurado, Paulo Figueiredo confirmou o conteúdo do diálogo e reiterou seu posicionamento contrário aos atos do 8 de janeiro.
“O diálogo corrobora o meu posicionamento que é público: o 8 de janeiro foi uma armadilha na qual alguns caíram de forma estúpida. O presidente Bolsonaro, felizmente, ouviu o meu conselho e reviu sua posição, condenando os atos em seguida. O que é interessante e curioso para mim é: se a PF tinha acesso a estes diálogos e sabia da minha posição, por que aparentemente me indiciaram sem base alguma? E por que a PGR me denunciou? É claro que o motivo é político”, afirmou.
A defesa de Bolsonaro disse ao UOL que não teve acesso aos diálogos mencionados, mas reiterou que o ex-presidente se manifestou publicamente contra as invasões naquela noite.
Atualmente, Jair Bolsonaro é réu no Supremo Tribunal Federal, acusado de tentativa de golpe de Estado. Segundo o procurador-geral da República, Paulo Gonet, os atos antidemocráticos do 8 de janeiro foram estimulados diretamente pelas articulações feitas no fim do mandato do ex-presidente.
Paulo Figueiredo também figura entre os denunciados pela PGR, por suposta vinculação com as ações golpistas.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/mensagens-ineditas-revelam-que-bolsonaro-ignorou-apelos-de-aliados-e-se-recusou-a-desmobilizar-o-8-1/