Um encontro entre membros da comitiva do ex-presidente Donald Trump e aliados de Jair Bolsonaro, realizado na última semana em Brasília, gerou forte reação dentro do governo federal.
Segundo informações da repórter Bela Megale, em O Globo, interlocutores do Palácio do Planalto e do Itamaraty classificaram como exagerada e distorcida a versão divulgada por integrantes da direita brasileira, como Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tentou vincular a visita de diplomatas norte-americanos a supostas investigações contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A avaliação nos bastidores do governo Lula foi resumida por uma expressão popular: “A montanha pariu um rato”. Para os diplomatas, a tentativa de Eduardo Bolsonaro de criar um fato político internacional a partir da presença da delegação norte-americana em Brasília “não se sustentou diante da realidade da agenda”.
Na última sexta-feira, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro publicou um vídeo nas redes sociais celebrando a presença de David Gamble, chefe da Coordenação de Sanções do Departamento de Estado dos Estados Unidos, na capital federal. Segundo ele, a visita estaria relacionada à suposta coleta de informações sobre as ações do ministro Alexandre de Moraes. “Quando eu disse que a batata do Alexandre de Moraes estava esquentando nos EUA, tá esquentando de verdade”, declarou.
Contudo, conforme apuração do g1, David Gamble sequer se reuniu com Jair Bolsonaro. O encontro com o ex-presidente foi, na verdade, conduzido por Ricardo Macedo Pita, assessor sênior do Escritório de Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado americano. Além de Bolsonaro, Pita se reuniu com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e outros parlamentares conservadores.
De acordo com os próprios participantes, o tema Alexandre de Moraes não foi abordado nas conversas. O foco, segundo o senador Flávio Bolsonaro, foi o combate ao crime organizado e outras pautas de segurança pública. A tentativa de politização da agenda por parte de Eduardo foi vista com surpresa até mesmo entre parlamentares da oposição.
No Itamaraty, diplomatas ouvidos em caráter reservado consideraram que a atuação de Eduardo Bolsonaro “deturpa a função de uma visita diplomática de rotina” e pode gerar desconforto com Washington. O Departamento de Estado ainda não comentou oficialmente o conteúdo da reunião.
A movimentação ocorre num momento em que aliados de Bolsonaro enfrentam crescente pressão judicial e investigações sobre ataques às instituições democráticas. Apesar disso, o governo Lula tenta evitar dar maior visibilidade a gestos que possam parecer provocativos, tratando o episódio como uma “iniciativa marginal” sem impactos concretos.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/montanha-pariu-um-rato-governo-lula-ironiza-encontro-entre-bolsonaro-e-comitiva-de-trump/