O policial federal Wladimir Soares, preso desde novembro do ano passado por envolvimento em uma suposta trama golpista, afirmou em um áudio obtido pela Polícia Federal que a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 1º de janeiro de 2023, não deveria ter ocorrido. “Nós não íamos deixar”, disse Soares em uma das mensagens de voz analisadas pela corporação. A informação foi revelada nesta quinta-feira (15) pelo jornal O Globo.
De acordo com a reportagem, a gravação faz parte do material extraído do celular de Soares, apreendido durante as investigações. O conteúdo foi enviado nesta semana ao Supremo Tribunal Federal (STF), que julgará na próxima semana a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Soares e outros 11 acusados — integrantes do chamado “núcleo 3” do suposto grupo que planejou um golpe de Estado após as eleições de 2022.
Nos áudios, o policial critica a postura do então presidente Jair Bolsonaro (PL), alegando que o plano de impedir a posse de Lula só não foi adiante porque “faltou pulso” ao ex-mandatário. Segundo Soares, o apoio da base do Exército estava garantido, mas a decisão de não agir foi tomada por conta da resistência dos generais.
“O povo aqui está desolado, ninguém entende. O próprio MRE [Ministério das Relações Exteriores], velho, os caras não se prepararam para essa posse, porque não ia ter posse, cara, nós não íamos deixar. Mas aconteceu. E Bolsonaro faltou um pulso para dizer: não tem um general? Tem um coronel. Vamos com os coronéis, porque a tropa toda queria. Toda. 100%. Só os generais que não deixavam.”
Em outro trecho, Soares afirma que apenas a Marinha teria apoiado integralmente a tentativa de golpe, por meio do então comandante Almir Garnier Santos.
“Garnier foi o único, cara, o único. A Marinha desde o começo, foi a única que apoiou ele 100%. O resto tirou o corpo.”
As declarações coincidem com elementos da investigação conduzida pela PF e com a denúncia da PGR, segundo as quais os ex-comandantes do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, teriam se recusado a aderir ao plano golpista proposto por Bolsonaro. Garnier, por sua vez, teria sinalizado apoio.
Tanto Jair Bolsonaro quanto Almir Garnier já são réus no STF, acusados de participação na articulação golpista. Em manifestações enviadas ao Supremo, as defesas dos dois negam envolvimento em qualquer tentativa de ruptura institucional.
Já os advogados de Wladimir Soares, em resposta à denúncia apresentada pela PGR, argumentaram que “não há nos autos qualquer evidência de que o acusado tenha participado de atos preparatórios ou executórios de qualquer plano contra autoridades públicas ou contra o Estado Democrático de Direito”.
O julgamento sobre a admissibilidade da denúncia contra os membros do chamado “núcleo 3” deve ocorrer nos próximos dias no STF, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes.
Ouças os áudios:
Fonte: https://agendadopoder.com.br/policial-federal-diz-em-audio-que-nao-ia-ter-posse-de-lula-e-responsabiliza-bolsonaro-por-falta-de-acao/