O agente da Polícia Federal Wladimir Soares, identificado em áudios como defensor de um golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder, atuou na segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o governo de transição, entre novembro e dezembro de 2022.
A revelação, feita por meio de gravações vazadas nesta quinta-feira (15), levanta sérias dúvidas sobre os critérios da Polícia Federal para selecionar integrantes da equipe de segurança do então presidente eleito.
No áudio, Wladimir afirma ter sido escalado oficialmente pela PF para a função. “Fui chamado para fazer a segurança do Lula na transição. A Polícia Federal me escalou. Depois me convidaram para continuar após a posse”, disse. A identidade de quem o escalou segue desconhecida, e a necessidade de uma investigação interna urgente é apontada por especialistas e parlamentares. A opinião e o pedido sobre quem nomeou Vladimir são do repórter Joaquim de Carvalho, do portal Brasil 247.
A nomeação de Wladimir ocorreu mesmo após declarações públicas, ainda em maio de 2022, em que ele expressava abertamente sua simpatia por Jair Bolsonaro e sua aversão a Lula e Dilma Rousseff. Em entrevista ao canal bolsonarista Diário de Honra, de João Chaves, o agente afirmou: “Trabalhei com o Lula em 2003 como candidato — na verdade, 2002. Trabalhei com a Dilma como candidata. (…) Trabalhei com o Bolsonaro também. De todos, [Bolsonaro] foi o melhor. Não é porque é o presidente Jair Messias Bolsonaro (…) é porque ele é diferente”.
Sobre a ex-presidente Dilma Rousseff, Soares foi ainda mais incisivo: “É uma mulher muito ignorante, muito grossa”. Ao se referir a Dilma e Lula, completou: “Eles eram muito ruins de trabalhar, muito mal-educados, a realidade é essa”. Na mesma entrevista, deixou clara sua torcida: “Espero que [Bolsonaro] se reeleja mesmo”.
Diante do conteúdo do áudio revelado nesta semana, a preocupação se intensifica. Em um dos trechos, Wladimir fala em “matar meio mundo” e em colaborar com militares e membros das Forças Especiais do Exército — os chamados “kids pretos” — em um plano que incluía a prisão do ministro Alexandre de Moraes e a eliminação de Lula e Geraldo Alckmin, a fim de impedir suas posses.
Outro áudio, atribuído ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, coronel Mauro Cid, aponta que o ex-presidente sabia da infiltração de aliados na equipe de transição de Lula. O envolvimento de Wladimir Soares seria uma peça-chave nesse esquema.
A permanência de um policial com histórico bolsonarista radical e elogios públicos a ações antidemocráticas na linha de frente da segurança presidencial evidencia, segundo especialistas, falhas graves de triagem e riscos à integridade institucional da transição democrática.
O caso reacende o debate sobre a necessidade de controle rigoroso nos processos de nomeação de agentes para cargos sensíveis — especialmente no contexto de um país que, em 2022, viveu a ameaça real de ruptura institucional. O silêncio da Polícia Federal sobre quem autorizou a designação de Wladimir Soares para proteger o presidente eleito alimenta ainda mais os questionamentos.
A pressão por explicações deve se intensificar nos próximos dias no Congresso Nacional. A oposição ao bolsonarismo já articula pedidos formais de apuração sobre a cadeia de comando que permitiu a presença de um agente comprometido com ideias golpistas tão perto do núcleo de poder.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/policial-que-defendia-golpe-e-exaltava-bolsonaro-atuou-na-seguranca-de-lula-durante-a-transicao/