Na sessão plenária desta quarta-feira (21), na Câmara Municipal do Rio, foi arquivado o projeto de lei que concederia o título de Cidadão Honorário do Rio ao educador e ativista Daniel Cara, referência nacional na defesa de políticas públicas educacionais inspiradas na pedagogia de Paulo Freire.
A proposta, de autoria do ex-vereador Paulo Pinheiro (PSOL), havia sido protocolada ainda em seu último mandato, encerrado em 2024 — ano em que ele não conseguiu se reeleger. Sem mandato, Pinheiro não pôde defender pessoalmente a matéria. E, para piorar sua situação, nenhum dos membros da Comissão de Educação da Casa estava participando da reunião.
Ao convocar os integrantes da comissão, a presidente da sessão, vereadora Tânia Bastos (Republicanos), não obteve resposta. Entre os ausentes estava William Siri (PSOL), colega de partido de Pinheiro. Às quartas-feiras, o comparecimento às sessões é facultativo por meio remoto, o que enfraqueceu ainda mais a base de apoio ao projeto.
Diante do impasse, Tânia Bastos recorreu ao vereador Rafael Satiê (PL), conhecido por sua atuação conservadora e liderança na Juventude do Partido Liberal. Mesmo sem integrar a Comissão de Educação, Satiê foi autorizado a emitir parecer por mérito, substituindo os ausentes. Seu parecer foi contrário à homenagem, o que levou ao arquivamento imediato do projeto.
A decisão teve contornos políticos claros. Daniel Cara é crítico contundente de figuras da direita, incluindo o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), a quem já chamou de “rato” em declarações públicas. Cara também é crítico do que classifica como “fundamentalismo cristão”. Rafael Satiê, pastor evangélico e aliado ideológico de Ferreira, usou essas declarações como justificativa para rejeitar o projeto.
Segundo a assessoria de Satiê, Daniel Cara “idolatra Paulo Freire, ataca a Bíblia em sala de aula, criminaliza a fé cristã e participa de atos promovidos pela equerda, como o movimento #SemAnistia”. A equipe também lembrou que o educador foi coordenador da área de educação na equipe de transição do governo Lula e assessor do ministro Camilo Santana (PT) no MEC, onde teria colaborado com diretrizes consideradas ideológicas por setores conservadores.
O ex-prefeito do Rio e vereador Cesar Maia (PSD), chegou a participar pontualmente da sessão de forma remota. Maia, que costuma emitir pareceres técnicos em pautas da Comissão de Educação, acompanhou parte da discussão, mas se manteve em silêncio no momento da votação, contribuindo para o encerramento da tramitação da proposta.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/sem-presenca-da-comissao-de-educacao-vereador-bolsonarista-consegue-arquivar-homenagem-a-rival-de-nikolas-ferreira/