Foto: Reprodução/Bruno Spada/Câmara dos Deputados –
Líder do PT na Câmara acionou a PGR contra o filho de Jair Bolsonaro por articular interferência dos EUA no judiciário brasileiro com sanções ao ministro Alexandre de Moraes
O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ameaçou o deputado federal Lindbergh Farias (RJ) e seu partido, o PT, após ser alvo de um pedido de prisão preventiva.
Nesta quinta-feira (22), Lindbergh, junto à bancada do PT na Câmara, protocolou na Procuradoria-Geral da República (PGR) um pedido de prisão preventiva contra Eduardo Bolsonaro por “atos e articulações com parlamentares e agentes políticos” dos Estados Unidos para provocar sanções diplomáticas, financeiras e jurídicas contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na última quarta-feira (21), o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, confirmou que o governo Trump estuda impor sanções contra Moraes.
Na representação encaminhada à PGR, Lindbergh acusa Eduardo Bolsonaro, que desde o início do ano está vivendo nos EUA para conspirar contra o judiciário brasileiro – com o claro objetivo de livrar seu pai, Jair Bolsonaro, da iminente prisão –, de crimes como atentado à soberania nacional (art. 359-I do CP), abolição violenta do Estado democrático de Direito (art. 359-L do CP) e coação no curso do processo (art. 344 do CP).
Ameaça
Ao reagir ao pedido de prisão, Eduardo Bolsonaro ameaçou Lindbergh Farias e o PT, afirmando que o deputado e seu partido também são alvos das articulações por sanções que vem travando nos EUA.
“Eu já sabia que vocês iriam querer tentar me prender e, por isso mesmo, fiquei aqui nos EUA, para não estar refém dos chiliques do capachos do tirano da ocasião. Fique tranquilo, a contribuição do seu partido, e sua, também está sendo exposta internacionalmente. O tirano não irá ser sancionado sozinho”, escreveu Eduardo através das redes sociais.
“Dê seus últimos gritos histéricos, esse regime irá acabar e vocês irão pagar pelos seus crimes – aqui e na Justiça final”, prosseguiu o deputado extremista.
Confira:
Entenda
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tem feito lobby nos EUA para que o governo de Donald Trump imponha sanções contra ministro Alexandre de Moraes, do STF. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que há uma possibilidade de audiência no Congresso estadunidense para analisar uma possível sanção Moraes.
A Lei Magnitsky é utilizada pelos EUA para punir envolvidos em corrupção ou violações graves de direitos humanos, tendo sido criada em 2012, e pode bloquear bens de autoridades estrangeiras e impedir a entrada nos territórios em que são aplicadas.
Eduardo Bolsonaro ameaça Kakay
O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se diz “autoexilado” nos EUA, reagiu com uma ameaça à declaração dada pelo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, um dos juristas mais respeitados e influentes do Brasil, à Fórum. Sobre as ações de pressão política empreendidas por Eduardo no exterior, para que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, sofra sanções por parte do governo norte-americano, o criminalista disse que o filho do ex-presidente “comete crime” e que “é inadmissível que o Ministério Público Federal e a Polícia Federal não tomem nenhuma atitude”.
Irado com a declaração de Kakay, Eduardo postou em seu perfil oficial na rede X (antigo Twitter) um printe com a chamada da Fórum onde se lê o que foi dito pelo jurista, acompanhado de uma legenda intimidatória: “Kakay, cuidado com seus diálogos cabulosos com os tiranos de ocasião, pode acabar se enrolando”.
Assim como o irmão Carlos, Eduardo tenta se expressar de forma rebuscada em sua sintaxe e léxico, muito embora ambos fracassem miseravelmente nisso. A resposta não é clara e totalmente compreensível, mas o tom de ameaça é indisfarçável, especialmente analisando o contexto da frase e do ocorrido que motivou sua publicação.
A reportagem da Fórum entrou em contato com Kakay para ouvi-lo diante da reação agressiva do parlamentar extremista. O criminalista concordou em falar, afirmou que não daria uma resposta diretamente ao filho do ex-presidente de extrema direita, mas atribuiu sua atitude ao “desespero” de quem sabe que “o pai será preso e pegará trinta anos de prisão”.
“Sinceramente, eu acho que é uma atitude que não merece uma reação. Mas eu penso que ele sabe que passou de todos os limites, e evidentemente um agente público brasileiro, nem mesmo um cidadão, muito menos um deputado federal, pode procurar o governo de outro país para pedir que se faça uma intervenção no Judiciário brasileiro… Isso aí [que Eduardo fez ao ameaçá-lo] eu entendo, porque é um momento difícil da família, né? O pai está para ser condenado, talvez até setembro, bem perto de pegar trinta anos de cadeia… E o poder se vai, e vai de uma forma muito rápida, como vai o dinheiro, vai tudo, né? Então eu prefiro não respondê-lo diretamente, porque eu sou advogado criminal e estou acostumado com o desespero daqueles que estão prestes a serem condenados, com o desespero das famílias que estão sofrendo o processo penal, é algo é muito cruel… O processo penal é necessário, mas muitas vezes é muito cruel… O pai prestes a ser condenado, o pai que é o herói da família ali, né? Deve pegar trinta anos… Mas é inadmissível o que ele faz, ir aos EUA para fazer contato junto ao governo norte-americano para interferir do Supremo Tribunal Federal, algo que é um crime extremamente evidente… Eu prefiro não discutir com quem em muito pouco tempo também estará respondendo por isso, e respondendo no poder Judiciário”, disse Kakay.