Em Londres, líder indígena defende vítimas da catástrofe em Mariana

A corte de Londres, responsável pelo julgamento da mineradora BHP pelo desastre de Mariana, realiza nesta semana uma audiência preparatória para um novo processo sobre os danos provocados pelo rompimento da barragem de Fundão (MG).

Quase 10 anos após a catástrofe que matou 19 pessoas e causou um desastre ecológico, o solo e a água da região ainda estão poluídos. O líder indígena Marcelo Krenak está na capital britânica para acompanhar a audiência e manifestar seu apoio às vítimas.

“Meu povo, minha cultura, sempre estiveram ligados ao rio”, afirma Marcelo Krenak, enquanto exibe um cocar tradicional que chama a atenção no coração da capital britânica. Representante do povo indígena Krenak, Marcelo está em Londres para acompanhar uma audiência que aconteceu na quarta (2/7) e nesta quinta-feira (3/7), como parte de um amplo processo judicial que busca reparação contra a mineradora australiana BHP — que, à época dos fatos, tinha uma de suas sedes globais no Reino Unido.

“As plantas medicinais que só existiam no rio estão contaminadas, o solo está contaminado, então não podemos plantar, não podemos usar a água do rio para os animais ou para as plantas”, relata Krenak. “Todo o ecossistema ao redor do rio foi destruído.”

O líder indígena afirma que os advogados dos moradores apresentarão “provas visuais, fotos e vídeos do que foi feito, dos danos que a ruptura da barragem ainda causa hoje”. Ele também cita estudos que comprovam que “o rio está contaminado”, assim como “os peixes”.

“Aqui, na Inglaterra, estamos fazendo história, porque uma grande empresa — uma das maiores mineradoras do mundo — está sendo levada à Justiça. Isso pode criar um precedente para garantir que crimes como esse não se repitam em outras partes do planeta”, declarou Krenak.

A cidade de Mariana, uma das mais afetadas pelo desastre, espera obter, por meio do processo britânico, o equivalente a R$ 28 bilhões em indenizações.

“Não aceitaremos migalhas”

“Nossa esperança é que aqui, em Londres, a prefeitura seja ouvida, porque no Brasil nós não fomos”, disse o prefeito de Mariana Juliano Duarte, também presente na audiência preparatória. Segundo ele, a Justiça britânica está prestes a reconhecer a responsabilidade da BHP, o que pode levar a empresa a buscar um acordo direto com os autores da ação. “A prefeitura está aberta ao diálogo e às negociações, mas não aceitaremos migalhas como as que foram oferecidas no Brasil”, decretou.

As sessões contam com a participação do escritório de advocacia internacional Pogust Goodhead, que representa mais de 620 mil vítimas, 31 municípios, comunidades indígenas e quilombolas, empresas e autoridades locais; e advogados da mineradora anglo-australiana BHP, a ré no caso.

Após um megaprocesso encerrado em março, a decisão da Justiça britânica sobre a responsabilidade da BHP é aguardada para as próximas semanas. A empresa, junto da brasileira Vale, era proprietária da barragem cuja ruptura destruiu as casas de mais de 600 pessoas.

Paralelamente, a Corte de Londres organiza a segunda fase do processo, que visa determinar os eventuais valores de indenização. Essa etapa — tema da audiência desta semana — poderá ser iniciada em outubro de 2026, caso a responsabilidade da BHP seja reconhecida.

A empresa declarou à AFP que a recuperação do rio Doce, cuja qualidade da água teria, segundo ela, “retornado aos níveis anteriores à ruptura da barragem”, continua sendo uma prioridade. Reconhecendo tratar-se de uma “tragédia terrível”, a BHP afirma que sempre esteve “comprometida em apoiar a Samarco” — sua joint venture com a Vale — para “fazer o que é certo” pelas comunidades atingidas e pelo meio ambiente.

A mineradora defende que a solução está no acordo de reparação e compensação de R$ 170 bilhões assinado no Brasil no ano passado.

No entanto, a maioria dos 620 mil participantes da ação em Londres — entre eles 46 prefeituras — alega não estar contemplada nesse acordo e busca obter cerca de 36 bilhões de libras (mais de R$ 230 bilhões) adicionais por meio da Justiça britânica.

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Fonte: https://www.metropoles.com/brasil/em-londres-lider-indigena-defende-vitimas-da-catastrofe-em-mariana