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Setor do tabaco quer reverter resolução da Anvisa que determina a proibição do uso dos dispositivos no Brasil. Estudos e especialistas apontam os elevados risco
Em abril de 2024, após consulta pública, a Anvisa decidiu manter a proibição da fabricação, importação e comercialização de dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), como os cigarros eletrônicos ou vapes. A decisão contrariou os interesses da indústria do tabaco, que vinha promovendo eventos para defender a regulamentação desses produtos.
A BAT (British American Tobacco), por exemplo, realizou em março uma conferência no RS em seu laboratório BAT Brazil Labs, defendendo os DEFs como alternativa aos cigarros convencionais. Entre os presentes, estava a ex-diretora da Anvisa, Alessandra Bastos Soares, hoje consultora da BAT. O argumento da indústria é de que os DEFs seriam menos nocivos e voltados a fumantes adultos, embora a própria Anvisa tenha declarado não haver evidências científicas de que esses produtos sejam realmente mais seguros.
Segundo a BAT, o uso de DEFs no Brasil cresceu 600% entre 2018 e 2023, saltando de 499 mil para 2,9 milhões de usuários. Ainda assim, especialistas de saúde, como a pneumologista Maria das Graças Rodrigues de Oliveira, alertam para os riscos da composição dos vapes, que inclui solventes, aditivos, nicotina altamente viciante e aerossóis. Lesões pulmonares (Evali) e efeitos cardiovasculares e psicológicos já foram associados ao uso desses dispositivos.
Adolescentes também têm sido fortemente impactados. Um parecer da USP mostrou que, em 2015, o vape já superava o cigarro entre estudantes do ensino médio. Em 2022, o IBGE apontou que 22,7% dos jovens de 16 a 17 anos já haviam experimentado. A aparência tecnológica e a variedade de sabores – mais de 16 mil – contribuem para a atração. Embora a indústria defenda que a regulamentação ajudaria a restringir o acesso dos jovens, dados mostram o oposto: nos EUA, o uso entre estudantes do ensino médio chegou a 27% em 2019 mesmo com regras.
Outro ponto levantado pela indústria é o combate ao contrabando, já que os DEFs vendidos no Brasil são ilegais. No entanto, mesmo os cigarros convencionais, legalizados, apresentaram altos índices de pirataria: 32% do mercado em 2024, com perdas de R$ 34 bilhões. A maioria dos DEFs ilegais vem da China, enquanto os cigarros contrabandeados vêm do Paraguai.
Apesar do mercado ilegal de vapes estar em crescimento, os cigarros tradicionais ainda representam maior volume de apreensão: em 2024, foram confiscados 2,9 milhões de DEFs contra 3,1 bilhões de cigarros convencionais.
Com informação do https://www.uai.com.br/