Ibovespa recua com receios fiscais no radar; dólar sobe a R$ 5,56

O Ibovespa recuava nesta sexta-feira (28), no último pregão do semestre, após marcar máxima em um mês na véspera, com ações sensíveis à economia doméstica sofrendo diante de nova alta na curva de juros por preocupações com o cenário fiscal.

Por volta de 11h46, o Ibovespa recuava 0,24%, a 124.010,53 pontos, mas ainda caminhando para um resultado positivo na semana, com um ganho de 1,68% acumulado até o momento. Já o dólar, no mesmo horário, registrava forte alta de 1,07%, cotado a R$ 5,560.

Nesta manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar o patamar atual da taxa Selic, a 10,50% ao ano, afirmando que o nível dos juros é “irreal” diante de uma inflação que está “controlada”.

Também reiterou que os recentes ganhos do dólar contra o real são consequência de especulação com derivativos.

A pauta doméstica, por sua vez, mostrou que o setor público consolidado registrou um déficit primário de 63,895 bilhões de reais, pior do que as expectativas no mercado e acima do saldo negativo um ano antes.

De acordo com um gestor ouvido pela Reuters, o que está realmente preocupando o investidor no médio e longo prazos, principalmente os locais, é o quadro fiscal, quais os próximos passos do governo em relação a medidas fiscais.

“E, obviamente, as palavras do presidente têm um peso grande em relação ao que pode acontecer… então, o mercado se antecipa a isso e se vê eventualmente estresse no dólar, principalmente, mas também na curva de juros, e depois na bolsa.”

As preocupações com o quadro doméstico ofuscavam o potencial efeito positivo do exterior, onde dados mostrando desaceleração na inflação ao consumidor dos Estados Unidos apoiavam ganhos em Wall Street e variações modestas nos Treasuries.

O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) ficou estável em maio, após aumento de 0,3% em abril, em linha com o esperado, segundo dados do Departamento de Comércio dos EUA. Em 12 meses, passou de 2,7% para 2,6%.

De acordo com o estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves, a leitura do PCE parece ser positiva sob o ponto de vista do combate à inflação, ainda que a queda dos gastos pessoais denote uma desaceleração da economia.

“Ainda é prematuro para afirmar em cortes de juros, mas o dado de hoje deixa o cenário aberto para que tal possibilidade possa se materializar na reunião de setembro, caso vejamos mais evolução positiva na inflação até lá”, acrescentou.

Juros futuros

As taxas dos DIs têm fortes altas nesta sexta-feira, superior a 10 pontos-base em vários vencimentos, dando continuidade ao movimento mais recente de aumento de prêmios na curva a termo em meio ao desconforto dos investidores com a área fiscal e com as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Às 10h39, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2027 — um dos mais líquidos — estava em 11,865%, em alta de 15 pontos-base ante o ajuste anterior. No mesmo horário, o dólar à vista disparava 1,03%, aos 5,5648 reais, impulsionado pela disputa pela formação da Ptax de fim de mês.

Mais cedo, Lula voltou a criticar o Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto. Em entrevista à rádio FM O Tempo, de Minas Gerais, ele afirmou que o atual patamar da taxa básica Selic, de 10,50% ao ano, é “irreal” diante de uma inflação que está controlada.

Lula também pontuou que Campos Neto foi indicado pelo governo anterior, de Jair Bolsonaro, e disse que o presidente do BC “não está fazendo o que deveria ter feito corretamente”.

Ao tratar do câmbio, cobrou providências do BC.

“Por que o dólar está subindo? Porque tem especulação com derivativos na perspectiva de valorizar o dólar e desvalorizar o real. E o Banco Central tem a obrigação de investigar isso”, disse.

Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/mercado/mercado-financeiro-28-junho-2024/