A diretora Anna Muylaert se pronunciou em suas redes sociais após receber críticas pela escalação da atriz Thainá Duarte, uma mulher cis, para viver Geni no filme “Geni e o Zepelim”, inspirado na música de Chico Buarque.
Desde o anúncio da produção do filme e do elenco, muitas pessoas nas redes acusaram a produção de transfobia por escalar uma atriz cis para o papel de Geni. Criada por Chico Buarque para o espetáculo “Ópera do Malandro”, a personagem de Geni na peça original representa uma travesti do Rio de Janeiro que vive da prostituição e sofre com o preconceito.
A diretora e o elenco chegaram a ser acusados de transfake – nome dado à prática de atores cis interpretando papéis trans – ao não dar a oportunidade de uma mulher trans protagonizar o longa.
No vídeo publicado em suas redes sociais nesta quarta (16), Anna Muylaert (mais conhecida por “Que Horas Ela Volta” e “A Melhor Mãe do Mundo”) explicou ter se inspirado na letra de “Geni e o Zepelim” e disse que a personagem vivida por Thainá Duarte em seu filme não seria trans, e sim uma prostituta cis, moradora na Amazônia.
“Quero explicar tudo. Durante o processo de criação deste filme, a gente entendeu que a letra do Chico e o conto do [autor francês] Guy de Maupassant, Bola de Seda, no qual o Chico diz ter se inspirado, poderiam ter várias leituras: poderia ser uma mulher trans; poderia ser uma mãe solteira; poderia ser a Fabiana Silva da Favela do Moinho, uma carroceira; poderia uma presidente tirada do poder sem crime de responsabilidade; poderia ser uma floresta atacada diariamente por oportunistas”, disse Anna.
“E a gente por uma questão de lugar de fala, escolheu fazer uma prostituta cis na Amazônia”, acrescentou ela. ” A gente entendeu que essa poesia poderia ter várias interpretações, e que a gente poderia fazer essa versão amazônica cis com a atriz Thainá Duarte.”
“Diante da reação da comunidade trans, quero vir aqui abrir o debate e jogar a pergunta: essa letra do Chico, essa poesia, hoje em 2025, o mito Geni só pode ser interpretada como um uma mulher trans?”, questionou a diretora. “Eu quero jogar essa pergunta, eu quero debater isso, porque se a sociedade, não apenas a comunidade trans, mas também todos os fãs do Chico e do conto do Guy de Maupassant, o Bola de Seda, se a gente computar que hoje me 2025 só pode interpretar a Geni como trans, a gente vai repensar o nosso filme.”
Famosos se pronunciam sobre “Geni e o Zepelim”
Nos comentários da publicação de Anna, diversos famosos se pronunciaram sobre a escolha de elenco e a decisão de fazer de Geni uma personagem cis no filme.
A cantora Liniker, uma mulher trans, escreveu: “Todo respeito ao trabalho de Tainá Duarte, mas quando trazemos a reflexão em nossos textos desde que saiu essa matéria e nos posicionamos pelo apagamento, é por espaço e oportunidade que nos colocamos, por termos atrizes trans que poderiam sim dar vida a essa personagem tão icônica e já retratada tantas vezes como uma pessoa trans em montagens pelo Brasil.”
A atriz Camila Pitanga também opinou: “Você pode fazer o filme que quiser, com certeza… mas pondero que esta interpretação serve, sim, ao apagamento doloroso de mulheres trans. São poucos personagens com esse protagonismo, entende? É uma escolha que fere. Ah, eu amo como filha a Thainá e amo acompanhar o seu trabalho e voz. Bom debate. Obs: cuidado com o argumento de liberdade de expressão, de interpretação… tem um campo inimigo que usa a beça esse léxico.”
Gabriela Medeiros, atriz trans que interpretou Buba no remake de “Renascer”, também falou sobre o assunto: “São anos e anos de apagamento da nossa comunidade Anna. Essa personagem é forte para nós. Sendo que ela é sim uma pessoa trans. Somos apagadas da cultura. E esse papel ser interpretado por uma de nós, é uma retratação importante… Geni mora no coletivo do imaginário do povo brasileiro.”
Ouça “Geni e o Zepelim”, de Chico Buarque
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/filme-de-geni-e-o-zepelim-e-acusado-de-transfobia-e-diretora-se-pronuncia/