Enquanto a oposição como um todo se move para tentar derrubar o decreto de armas de Lula do ano passado, a bancada da bala bolsonarista volta a lançar a covardia e o machismo como forma de embate político. Sim, como se isso fosse possível.
Nesta terça, 21, o presidente da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, o deputado Alberto Fraga, protagonizou um discurso lamentável contra dois integrantes do Ministério da Justiça: Michele dos Ramos, Diretora de Ensino e Pesquisa, e Victor Cravo, consultor jurídico.
Confundindo alhos com bugalhos e sem entender como funciona uma política de governo, resolveu fazer ironias, chamando-os de profissionais de ouro e de platina. Fraga colocou toda a responsabilidade nos dois pelos decretos do governo Lula e portarias do Exército – esta última publicada nesta semana -, que tentam diminuir o número de armas em circulação no Brasil.
É um movimento correto tanto do governo quanto do Exército após os anos Bolsonaro em que foi multiplicada descontroladamente a posse de armas no Brasil. Agora, há outro presidente eleito e com visão diferente do assunto.
Lula reduziu o quantitativo de armas e munições para atividades de caráter civil, retomou as definições de armas de uso restrito, deu registros com uma validade menor e colocou fim no funcionamento dos clubes de tiro por 24 horas, obrigando-os a terem uma distância mínima das escolas.
Ora, isso é o mínimo para quem tem uma visão diferente daquela defendida pelo lobby das armas. Mas Fraga se fez de desentendido sobre se tratar de uma política de um governo como um todo. E tentou fazer crer que Michele, na verdade, manda no próprio ministro Ricardo Lewandowski, que por sua vez determina o que Lula faz.
“Um ministério da justiça que obedece ordem de uma assessora chamada Michele [dos Ramos] e de um tal de Vitor Cravo não merece estar sentado na cadeira da Justiça”, disse primeiramente Fraga em um discurso confuso – como você mesmo pode notar, leitor -, mas que, ao fim, se revelou pusilânime.
“É um absurdo essa moça que pertencia a uma Ong desarmamentista chamada Igarapé, que está comandando. A portaria do Exército que permitia o policial, que permitia que o policial pudesse ter seis armas, foi ela que reduziu. E agora mostra a ignorância de separar o militar da ativa do da reserva. Não sabe nem quantas balas tem um revólver 38 e fica fazendo esse tipo de coisa colocando o governo em situação difícil”.
Situação difícil mesmo está o deputado. Aparentemente, ele não entende essa questão básica que envolve decretos ou portarias: passam por inúmeras pessoas dentro de ministérios ou instituições militares. Se for do governo – o que já havia gerado reação semelhante no passado contra Michele pelo também deputado Marcos Pollon -, o texto é assinado pelo próprio presidente.
Não adianta Fraga e outros parlamentares fazerem ataques contra quadros técnicos do ministério que exercem uma função pública sim que tratam de política de governo. Ou seja, uma decisão que passa por Michele, Victor, mas também por secretários-executivos, ministros e presidentes…
Fonte: https://veja.abril.com.br/coluna/matheus-leitao/a-covardia-da-bancada-da-bala-contra-diretora-do-ministerio-da-justica/