O que Moraes revelou ao abrir o sigilo da investigação sobre Bolsonaro

As 476 páginas do inquérito sobre a venda ilegal de presentes e joias recebidas por Jair Bolsonaro – tornados públicos nesta segunda, 8, por decisão de Alexandre de Moraes -, detalham a gravidade do esquema bolsonarista de desvios de bens públicos, com cifras que chegam a quase R$ 7 milhões.

Aliás, esse era o valor a ser embolsado ilegalmente pelo ex-presidente, de acordo com a Polícia Federal, com a ajuda de seus assessores, ex-auxiliares, militares e advogados: R$ 6,8 milhões.

E por que é muito importante analisar esse caso com detalhes? Porque uma das narrativas da extrema-direita é que este caso não é tão grave como os escândalos de corrupção que envolveram o PT em governos passados.

Ora, ora. Não é uma competição de quem roubou mais. Ou é?

Mas leiam o que diz à PF sobre as joias:

“Os elementos acostados nos autos evidenciaram a atuação de uma associação criminosa voltada para a prática de desvio de presentes de alto valor recebidos em razão do cargo pelo ex-presidente da República Jair Bolsonaro e/ou por comitivas do governo brasileiro, que estavam atuando em seu nome, em viagens internacionais, entregues por autoridades estrangeiras, para posteriormente serem vendidos no exterior”, afirma o delegado Fábio Alvares Shor no documento.

O investigador não para por aí e segue mostrando o tamanho da desfaçatez do grupo político que governou o Brasil entre 2019 e 2022. “Identificou-se, ainda, que os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”, diz Shor.

O delegado acredita – e pede o indiciamento de 12 pessoas, incluindo Jair Bolsonaro – que eles  “utilizaram a estrutura do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica [da presidência da República] para ‘legalizar’ a incorporação dos bens de alto valor, presenteados por autoridades estrangeiras, ao acervo privado do ex-presidente da República Jair Bolsonaro”.

Todo o documento da Polícia Federal mostra ainda que o ex-presidente e seus comparsas sabiam se tratar de algo ilegal, ou não haveria motivo para a tentativa de esconder o valor recebido do sistema bancário ou mesmo usar o mais alto gabinete da República para legalizar a transferência de um bem do estado para uma pessoa física. Isso é um baita golpe na estratégia de defesa do ex-presidente.

Noves fora, a divulgação do documento mostra que a cúpula do bolsonarismo resolveu pegar presentes que eram do povo brasileiro, vender em outro país para evitar que fossem descobertos, pegar esse valor e colocar no bolso – também escondido das autoridades – e sair gastando o dinheiro do contribuinte nos Estados Unidos.

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Tá bom para vocês ou querem mais da turma ideológica que tem entre suas principais bandeiras a defesa intransigente da “honestidade”? Definitivamente, o Brasil não é para amadores.

Fonte: https://veja.abril.com.br/coluna/matheus-leitao/o-que-moraes-revelou-ao-abrir-o-sigilo-da-investigacao-sobre-bolsonaro/