escolas de ballet no RN

Sentir a música tocar o corpo, traduzir melodias em movimentos e ter a arte como uma extensão de si: é essa a natureza da dança, uma linguagem única que expressa com o corpo o que as palavras não conseguem dizer, como cita a coreógrafa que marcou a história da dança moderna, Martha Graham. Neste dia 29 de abril é comemorado o Dia Internacional da Dança e, para celebrar a data, a Revista Cultue conta um pouco sobre a Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão (Edtam) e da Escola Municipal de Ballet Professor Roosevelt Pimenta.

“Levar os jovens para os bons caminhos através da arte”, é como a diretora da Edtam, Wanie Rose Medeiros, define a missão da escola. Há 38 anos em atividade, a Edtam já recebeu 89 prêmios, realizou seis turnês internacionais e continua sendo destaque ao oferecer a crianças, jovens e adultos a oportunidade de entrar em contato com a arte do movimento e da música em território potiguar.

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Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão (Edtam). Foto: José Aldenir / Agora RN

Wanie é diretora do Edtam há 25 anos e conta que o papel da escola tem sido essencial no artístico potiguar, especialmente enquanto instituição formadora de bailarinos. “Temos uma formação do primeiro ao oitavo ano e, ao final, muitos deles [os alunos] tornam-se professores da própria escola ou fora do nosso estado também. Formamos bailarinos a nível profissional”.

“A Edtam prepara o aluno, seja como artista, bailarino ou professor, para o mercado de trabalho”, diz a diretora. Hoje com cerca de 400 alunos matriculados, a Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão é mantida pelo Governo do Estado, através da Fundação José Augusto e está localizada em um bairro histórico da capital potiguar, a Ribeira.

A Edtam foi criada em 1986 pelos professores Edson Claro e Carmem Borges. Até 1997, a escola ocupava uma das salas do Teatro Alberto Maranhão, mas as quatro paredes eram pequenas para tamanha expressão de arte. Em 1998, foi movida para um novo espaço na rua Chile. Com restauro e ampliação feitos em 2018 a partir de recursos viabilizados pelo Projeto Cidadão junto ao Banco Mundial, a estrutura foi entregue em 2021 com um novo piso flutuante com revestimento linear, que amortece os impactos e evita lesões nas articulações, como esclarece Wanie Rose.

Compõem a escola a Companhia de Dança do Teatro Alberto Maranhão (CDTAM) e a Cia Jovem da Edtam, que representam a instituição o ano inteiro em espetáculos e festivais de dança em diversos lugares do estado e do país. Hoje, a Edtam conta com turmas de ballet clássico, do primeiro ao oitavo ano, de dança contemporânea, de danças urbanas, de dança de salão e de jazz, com vagas para todos aqueles que têm vontade de se aventurar pelo mundo da dança. “Quem nunca teve a possibilidade de fazer dança, aqui tem essa oportunidade de realizar esse sonho”, frisa a diretora da escola.

Para fazer parte da escola, é necessário realizar a matrícula, que tem uma taxa simbólica no valor de R$ 70, preço que é igual ao da mensalidade, independente da turma. Já para os homens, como explica Wanie, a mensalidade tem o valor de R$ 35 como forma de incentivar que eles também possam ingressar na escola, uma vez que, dos 400 alunos matriculados, somente 12 são rapazes. A Edtam oferece bolsas para alunos da ONG Atitude Cooperação, instituição que busca desenvolver programas e ações socioassistenciais à comunidade com o objetivo de promover inclusão, cidadania e o enfrentamento das desigualdades sociais a partir de projetos voltados especialmente para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.

“A Edtam oferece essa experiência de se desenvolver artisticamente através de vários espetáculos realizados. Nós priorizamos também sempre proporcionar à nossa cidade e aos nossos alunos a apresentação dos espetáculos no encerramento do ano, que são os grandes ballets tradicionais, como O Quebra Nozes, o Lago dos Cisnes, o Don Quixote, que fazem parte da história da dança”, relata Wanie.

Na ponta dos pés

Apesar da beleza da arte, algumas dificuldades acabam sendo enfrentadas por quem tem a dança como mais que um hobby. Wanie Rose ressalta que o potencial dos artistas do Rio Grande do Norte é único, mas que falta oportunidade no mercado de trabalho. “Muitas vezes o bailarino, quando se forma, não consegue sobreviver da sua dança como artista aqui. Como professor, sim, mas como bailarino é muito difícil, então muitas vezes eles vão procurar audições em outros estados. Às vezes terminam indo para outro país”, relata.

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Wanie Rose é diretora da Edtam. Foto: José Aldenir / Agora RN

A Edtam, no entanto, foi e continua sendo um espaço de destaque que exporta artistas para os mais diversos lugares do mundo. São grandes nomes da dança citados por Rose, entre eles o premiado coreógrafo Clébio Oliveira, que coleciona experiências internacionais na dança, Erika Rosendo, que foi professora da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, única filial da Rússia no mundo, e Laura Vasconcelos, contratada pelo Samara Opera and Ballet Theatre como bailarina solista, também na Rússia.

No RN, a escola proporciona que alunos possam construir uma carreira enquanto professores da própria instituição. É essa a realidade de Júlia Vasques, professora das turmas de baby class (para crianças até os seis anos de idade), ballet clássico e dança contemporânea. Ela conta que sua história com o Edtam começou antes mesmo de ingressar como aluna.

“Desde criança, que eu me entendo por gente, eu gosto de dançar. Eu acho que isso veio da minha família, que sempre que se reunia estava dançando”, diz. A bailarina e professora narra que, por influência da tia, conheceu a Edtam enquanto criança e sonhava em ser aluna, mas só teve condições de ingressar na escola na adolescência em 2008, como aluna de ballet clássico.

Para ela, a dança foi um ponto de partida para sua transformação como pessoa. Foi por meio da arte que ela teve contato com partes mais sensíveis de si, o que a ajudou a se expressar e externar os sentimentos. “Eu era uma criança expansiva, não tinha dificuldade de me expressar, mas em algum momento eu comecei a me fechar muito. Eu me restringia muito ao ponto de não conseguir externar meus sentimentos, me tornei uma pessoa extremamente tímida e, quando eu comecei a fazer dança, eu comecei a interagir mais com as pessoas, a fazer amizade”, relembra.

“Comecei a me expressar”, revela Júlia. A dança trouxe uma grande transformação, conta ela, e foi responsável por facilitar a expressão de seus sentimentos. “Eu achava ruim estar demonstrando o que estava sentindo. A dança me ajudou a não ter mais esse medo”, completa.

A professora foi convidada a dar aulas na escola de dança inicialmente na turma de danças urbanas, mas logo começou a ministrar as classes para crianças menores, a categoria baby class, de ballet clássico. A partir daí, foi um pulo para se tornar professora de dança contemporânea e de heels class, a categoria que pratica coreografias com salto alto.

“A Edtam teve um papel fundamental na minha formação enquanto artista e enquanto profissional. Dentro da escola, eu fui percebendo que dançar não era só estar em cima de um palco, envolvia muito mais, envolvia eu conhecer o meu corpo, eu estudar o meu corpo, eu entender do movimento, eu entender a física do movimento, como é que ele acontece”, conta.

Hoje, Júlia fala sobre a Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão com brilho nos olhos, e volta a dizer que é por causa da Edtam e da dança que ela teve a oportunidade de trabalhar com nomes de excelência da arte e ainda se desenvolver enquanto cidadã e profissional.

50 anos da Roosevelt Pimenta

Com matrículas gratuitas, a Escola Municipal de Ballet Professor Roosevelt Pimenta acaba de completar 50 anos. A instituição oferece aulas de nível iniciante e intermediário. “No período da pandemia, nós tivemos um declínio e nessa volta a gente pensou na volta dos alunos e assumimos o método Vaganova, que é um método russo. No total, atualmente, temos nove professores e um coordenador pedagógico”, explica Dimas Carlos de Lima, que dirige a escola e é chefe do núcleo de dança.

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Dimas Carlos é chefe do núcleo de dança da Roosevelt Pimenta. Foto: José Aldenir / Agora RN

O ballet clássico é um método que trabalha com disciplina e pode ajudar os alunos em todas as formas de viver. “Enquanto ballet clássico você tem que ter uma organização pessoal de muita exigência. E isso vai reverberar até no mercado de trabalho. Desde o coque, postura corporal, até a relação em grupo, tudo isso ajuda a criança a lidar com o futuro mercado de trabalho, porque a disciplina leva exatamente a superar os desafios e acabar com os estresses”.

As apresentações das bailarinas acontecem no final do ano ou nas festas cíclicas como na Semana da Dança, no São João, e outros. “A escola fez agora em 2024 50 anos de existência e nós estamos nos preparando para a comemoração com o espetáculo que tem como título Pavão Misterioso e é baseado no livro de Ronaldo Corrêa de Brito”, reitera Dimas.

A Escola Municipal de Ballet Professor Roosevelt Pimenta tem atualmente cerca de 150 alunos, a partir de 5 anos de idade. Desde a fundação até os dias atuais, o Ballet Municipal de Natal tem desempenhado um papel crucial ao atender um amplo público da cidade, proporcionando oportunidades de formação em dança.

Sua condição como uma escola financiada pela Prefeitura do Natal torna-a acessível a diversos segmentos da sociedade, contribuindo para afastar o aspecto elitista da dança. Ao longo de sua trajetória, a instituição tem transformado a vida dos residentes de Natal, permitindo que estes percebam a dança por meio de uma nova linguagem, ampliando assim perspectivas e experiências culturais.

“Ela foi a primeira escola de formação, é reconhecida pelo MEC, mas ainda não temos um corpo docente concursado. Geralmente são pessoas que vêm de outras secretarias e atualmente foi chamada pública”, relata Dimas. “Aliás, muitos professores que hoje atuam na área e dirigem as mais importantes escolas foram alunos daqui”.

Fundação

A Escola de Ballet Municipal teve sua origem em 1974, sendo oficialmente estabelecida pelo decreto municipal nº 1796 em 1976. Inicialmente, as aulas foram realizadas no Teatro Municipal Sandoval Wanderley, com a aula inaugural em março de 1974. Posteriormente, as atividades foram transferidas para o Palácio dos Esportes e, mais tarde, para a antiga Galeria de Arte na Cidade Alta, antes de se estabelecer no prédio da Fundação Capitania das Artes.

Uma significativa reestruturação ocorreu em 1985 com a aprovação da Lei N°. 3.362, em 29 de outubro, seguida pelo decreto Municipal N° 3.264, em 27 de dezembro do mesmo ano, que regulamentou especificamente as atividades do Ballet Municipal. A Lei Municipal N° 3.708, de 22 de julho de 1988, promoveu uma nova organização para o Ballet, fornecendo-lhe um corpo administrativo especializado. Nesse contexto, Roosevelt Pimenta, renomado professor, coreógrafo e bailarino, assumiu a direção da escola.

Fonte: https://agorarn.com.br/ultimas/dia-internacional-da-danca-escolas-de-ballet-no-rn/