Pós-Alquimistas, LEOA prepara disco solo com pop de raízes do RN

Em meio ao cenário urbano de São Paulo, mas com os pés fincados na areia potiguar, LEOA prepara o voo mais singular de sua trajetória. Depois de quase uma década liderando a banda com os Alquimistas e criando hits que botaram os fãs para dançar, a artista potiguar estreia, nesta quinta-feira 15, “Tropical do Brasil” — um single quente que antecipa seu aguardado primeiro álbum solo, previsto para o fim do mês.

Essa nova fase de LEOA – nome artístico de Luísa Nascim – é atravessada por recomeços. Transições estéticas, mudanças de cidade, autonomia criativa, transformações pessoais. Tudo através de batidas tropicais, que vão do reggaeton ao bregafunk, sem perder o frescor. Quem escuta LEOA reconhece a força que a consagrou com os Alquimistas, mas percebe que há algo diferente. Ela se coloca no centro do processo, que escreve, produz, escolhe com quem vai dividir o estúdio – e que não tem medo de ser íntima. Seu disco de estreia como solista, segundo a artista, é “quente como o asfalto e brisa como o mar”.

Nesta entrevista ao AGORA RN, LEOA fala sobre a criação de “Tropical do Brasil”, o reencontro com suas raízes, os desafios de assumir uma nova fase solo e o sentimento de redescobrir sua própria grandeza como artista. Confira:

AGORA RN – “Tropical do Brasil” é uma colaboração poderosa com a Uana. Como nasceu essa parceria?
LEOA – Uana e eu já tínhamos essa vontade de fazer um som juntas. Admiro o trabalho dela – e sei que essa admiração é recíproca. Quando comecei a fazer essa música, que tem tudo a ver com uma vivência litorânea, especialmente do Nordeste, pensei logo nela. A sonoridade que a gente carrega – esse pop com influências latinas e nordestinas – tem muita afinidade.

Faz todo sentido juntar nossas vozes nesse projeto. Mandei a música para ela e conseguimos nos encontrar em São Paulo. Foi muito especial, porque construímos a parte dela juntas, presencialmente. Ela ficou aqui em casa por um tempo, e a gente canetou a parte dela… depois, ela gravou a voz em Pernambuco, eu finalizei minha parte aqui em São Paulo, e o resultado ficou maravilhoso.

AGORA RN – Essa faixa tem uma sonoridade que mistura reggaeton, bregafunk e elementos tropicais. Como foi o processo de construção?
LEOA – Eu estava com muita vontade de fazer um reggaeton mais filtrado, mais lento, com uma pegada lo-fi, mais suave e gostosa de ouvir, sabe? Já tinha experimentado algo mais intenso com Luísa e os Alquimistas, naquele reggaeton mais ‘porrada’ que é Guapetona. Mas agora queria explorar um lado mais soft do gênero. Vinha ouvindo bastante a Karol G e outras divas do reggaeton melódico, e me inspirei nessa sonoridade para criar algo nessa linha.

Também quis somar com o bregafunk, que eu acho que tem tudo a ver. O reggaeton tem células rítmicas muito parecidas com o brega funk e até com o tecnomelody, que nem está presente nessa faixa, mas tem ali uma conexão que eu enxergo, essas possibilidades de fusão que me interessam muito. A música foi sendo construída aos poucos, em casa mesmo, bem devagar.

AGORA RN – Você comentou que “Tropical do Brasil” foi a primeira música que começou a produzir para o disco. Em que momento você percebeu que estava pronta para dar esse passo solo?
LEOA – Acho que foi em 2023 que eu realmente decidi seguir um novo rumo. Esse desejo já vinha aparecendo antes, era um pensamento recorrente, mas foi naquele ano que a decisão se firmou de verdade. Foi um processo lento, refletido. Eu sentia que, pra dar um novo passo, eu precisava mudar algumas coisas – abrir caminhos, ter mais autonomia no meu trabalho, nas minhas circulações, conquistar mais independência mesmo.

De certa forma, esse álbum marca esse processo. É um retrato dessas mudanças: eu já era o guia do meu próprio trabalho, mas dessa vez senti que precisava transformar tudo – rever a forma de criar, de produzir, de existir artisticamente. Acho que esse álbum é bem íntimo. Vou mesclando vivências pessoais com outras que são mais roteirizadas ou levemente modificadas. É como um quebra-cabeça que vai se formando aos poucos. Ao mesmo tempo, ele é todo escrachado também. Eu nunca fui uma artista de meias palavras – o que eu faço é direto e nítido. Gosto de brincar com metáforas, claro, mas também gosto dessa coisa mais crua.

AGORA RN – A sua carreira sempre teve uma conexão com o Nordeste. Como você equilibra tradição e inovação?
LEOA – Isso sempre foi uma pira minha, sabe? Beber das tradições, mergulhar nessas raízes, e misturar com ritmos e sonoridades mais contemporâneas, com o que está rolando agora. Acho que faço um pop do meu jeito, e essa mistura é muito parte da minha identidade, faz parte de como eu construo minha sonoridade e das direções musicais que venho propondo ao longo do tempo.

Então, nesse álbum, por exemplo, você vai ouvir um aboio, uma ladainha de capoeira, elementos bem tradicionais, dentro de uma sonoridade super atual, urbana, com beats eletrônicos. Continuo propondo essas misturas, esse diálogo entre o regional e o internacional. Gosto dessa brincadeira, de cruzar fronteiras mesmo.

AGORA RN – Você também sente que esse trabalho solo marca um momento de virada artística?
LEOA – Com certeza. Acho que todo álbum, quando está para ser lançado, carrega uma importância única dentro do processo de um artista. Cada disco marca um momento: a gente vive nessa busca constante por se reinventar. Esse é o meu quinto álbum nesses dez anos de carreira. Mas é o primeiro como LEOA, como artista solo. Tem quem chame de “rebrand”, mas para mim é mais profundo do que isso. É fruto de um movimento interno, tem essa fase de transformação pessoal.

Desde que fiz a transição capilar, tirei os dreads, deixei o cabelo crescer, decidi encerrar a banda… venho me propondo mudanças profundas. E esse álbum nasce desse lugar. É um disco que fala sobre mim, mas também sobre minha relação com a arte e minha caminhada até aqui. É como se, através dele, eu conseguisse olhar pra minha trajetória e dizer: “caramba, eu tenho um trabalho massa”.

AGORA RN – O público potiguar te acompanha desde os primeiros passos. O que você diria para quem está te redescobrindo agora como LEOA?
LEOA – Eu diria para o público potiguar que não tem nada mais gratificante, para uma artista como eu, que está fora do estado, correndo atrás das coisas, do que sentir essa conexão viva com a minha terra. Hoje estou em São Paulo, que é uma cidade que me acolheu e continua me acolhendo, mas que também é desafiadora. E poder manter esse vínculo com o público do meu estado, da minha casa, é um presente.

Todas as vezes que fiz show com Luísa e os Alquimistas, e até nos lançamentos mais recentes, sempre tem uma galera que chega e faz questão de dizer: “estou contigo desde aquele primeiro show, lá no barzinho, quando tu cantava cover”. Isso mexe comigo de um jeito profundo. Quero dizer para essas pessoas que toda a força que eu tenho para ousar, nesse processo de resistência e de luta pela música potiguar, devo muito ao público do RN. Vocês são a minha base. É esse afeto que me alimenta, que me impulsiona a continuar criando. É também o que me faz seguir tentando entender o que é ser uma artista pop potiguar no Brasil, sem abrir mão da minha identidade, sem esquecer de onde eu vim. Ser abraçada por vocês, dessa forma tão verdadeira, é o que me mantém firme.

Fonte: https://agorarn.com.br/ultimas/leoa-disco-solo-pop-de-raizes-do-rn/