Propriedade na Zona Norte de Natal cultiva protagonismo na agricultura orgânica

Com o caráter de levar o que há de mais qualidade ao prato do consumidor, unido ao objetivo de preservação da biodiversidade local e redução de danos ao meio ambiente, o cultivo de alimentos orgânicos mostra-se como uma alternativa de alimentação consciente em crescimento.

De acordo com a Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), o mercado de produtos orgânicos brasileiro movimentou, ainda em 2023, R$ 7 bilhões. Com expectativa de crescer cada vez mais, a atividade promete impactar a saúde humana e ambiental, mas também a economia, como é o caso do agricultor potiguar Erivando Monteiro da Silva, proprietário de uma pequena granja localizada em Gramorezinho, localizada entre a Zona Norte de Natal e Extremoz.

Coordenador da Organização de Controle Social (OCS) Amigo Verde Gramorezinho, Erivando destaca que tira o sustento da família do cultivo das hortaliças orgânicas e enfatiza que preservar o solo e a vegetação natural são alguns dos diferenciais da horta situada em sua propriedade. “Quando preciso limpar o mato, tiro o mínimo que eu puder para não atrapalhar no PH da terra. A gente faz o máximo para trabalhar de acordo com o meio ambiente”, disse.

Sem a utilização de agrotóxicos, fertilizantes químicos ou o cultivo de organismos geneticamente modificados – os transgênicos –, a horta orgânica apresenta uma opção mais saudável de cultivo sem agredir o ecossistema. A fertilização é realizada a partir de adubos naturais ou da prática da compostagem, reduzindo o impacto no ambiente e a poluição da água e do solo.

O agricultor explica que, para além disso, na propriedade de 10 mil metros quadrados (1 hectare), diversas áreas foram preparadas para o cultivo pensando em evitar que pragas prejudiquem o plantio. A medida serve como uma alternativa para que os agrotóxicos sintéticos não sejam utilizados. “Às vezes, o inseto aparece aqui e eu não consigo combater, vou para outra área melhor. Tem que trabalhar desse jeito, para não matar o inseto nem a planta. Eles fazem parte do equilíbrio, se a gente matar esses bichos desconecta tudo, desequilibra”, ressaltou.

Com adubos naturais, solo é preservado e a biodiversidade local ganha fôlego – Foto: José Aldenir/Agora RN

Cuidando da biodiversidade local, assim como trabalhando para reduzir a emissão de gases poluentes, Erivando aponta que busca contribuir para a redução de maiores problemas relacionados à crise climática. Dessa forma, toda sua produção está conectada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um conjunto de ações e metas que visam uma maior sustentabilidade.

“O maior cuidado hoje é que não venha ter, daqui para 2030, por exemplo, a poluição acima do normal. É a gente trabalhar para que não venha contribuir para a subida da temperatura no nosso país por causa do desequilíbrio ambiental”, reforçou.

“[Precisamos] trabalhar de acordo com a natureza, emitir o mínimo de gases [poluentes] que puder na natureza. Essa é a vontade de todo brasileiro que conhece a realidade do clima no mundo”, argumentou. Ele ainda enfatizou que, com a atuação da tecnologia na agricultura, é preciso ter um cuidado ainda maior: “O mundo hoje vive refém da tecnologia. Ela é necessária, mas não pode extrapolar, tem que ser moderado”, completou.

Entre outros diferenciais de uma plantação de hortaliças convencional, Erivando cita que o consumo de água é menos intenso, considerando a preparação do solo realizada em uma área de cultivo de orgânicos. “A cobertura [vegetal] está um pouquinho alta até para diminuir o gasto de água e vai produzir uma verdura de mais qualidade”, frisou.

Aos 61 anos de idade e com uma propriedade que existe há mais de 15 anos, Erivando diz que gosta de trabalhar e que, apesar de todo o esforço para dar conta do cultivo da horta, toda a trajetória vale a pena. “Tive a sorte de ser um produtor rural. Eu gosto da vida do jeito que eu trabalho. Se você ver a forma de trabalho em uma horta convencional, não vai ver uma horta assim, porque o processo orgânico requer outra forma de convivência com a natureza”, mencionou.

“Eu sou feliz pelo que eu faço e me orgulho disso, sem dúvida nenhuma”, disse Erivando. Toda essa felicidade vem não só do cultivo, mas também de uma colheita de sucesso e de uma distribuição ainda melhor. O agricultor contou que os elogios dos compradores sempre se fazem presentes para regar a motivação de continuar plantando e guiando o pequeno negócio para o protagonismo da região.

O comércio das alfaces, cebolinhas, coentros, rúculas e outras verduras cultivadas na granja acontece quando o cliente vai até a propriedade, com a oportunidade de conhecer e ver de perto o trabalho de Erivando e a qualidade das hortaliças. “O meu cliente vem na minha horta de vez em quando para ver meu trabalho, a gente gera um certificado participativo de garantia”, explicou, ao citar que vende os produtos para supermercados, restaurantes e outros mercados menores da região.

Sebrae impulsiona agricultura orgânica

Para ser destaque entre o cultivo de orgânicos hoje, Erivando conta que precisou plantar a semente da agricultura sem química há muito tempo, quando sofreu um acidente e foi intoxicado por uma substância utilizada como inseticida na agropecuária. O composto químico fez com que ele passasse dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas desde então tem buscado a agricultura orgânica como escolha para o não uso dessas substâncias.

O apoio para a atividade, segundo ele, foi dado especialmente pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do RN (Sebrae-RN) e pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que atuaram em conjunto para desenvolver aquela área onde hoje ele cultiva seus produtos. “Nós tivemos a Universidade fazendo um levantamento sobre o Rio Doce e naquela época algumas parcelas de culpa da contaminação eram dos agricultores. O Sebrae fez essa parte de qualificar os agricultores”, narrou.

“Nós tivemos apoio do Sebrae, também tivemos ajuda de custo da Petrobras, sendo quase como uma bolsa-escola e o Sebrae Nacional investiu mais de R$ 1,5 milhão, com a qualificação rural, e eu me enquadrei nesse meio”, informou. Com o desenvolvimento apoiado pelo Sebrae, ele conta que foi levado pela entidade para palestrar em diversos lugares do Rio Grande do Norte e do país, entre eles São Paulo. No território potiguar, ele palestrou em Mossoró.

“Eu me sinto feliz por fazer parte do Sebrae, eles me ajudaram muito e eu continuo aqui.  Ficou muita aprendizagem, a gente lucra exatamente com a aprendizagem, isso para mim conta muito. Sou muito feliz com o Sebrae e estou sempre à disposição, sempre para contribuir também”, disse.

O agricultor fala, entre agradecimentos, que também se sente orgulhoso de todo o trabalho que tem feito até então, incentivando outros pequenos negócios a procurarem um desenvolvimento sustentável. Alguns deles, conta Erivando, são membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e aprenderam, com ele, a cultivar. “Já tivemos pessoas que estudavam na área de engenharia agronômica, que estavam na universidade e fizeram pesquisa com a gente também e tiraram nota máxima lá”, comentou.

Com muito estudo sobre a área onde trabalha hoje, Erivando defende que estudar é fundamental para um bom trabalho. “Estudo bastante ainda, porque é necessário que a gente esteja em conformidade com a legislação brasileira. Eu me sinto qualificado, me sinto feliz por ser ‘cria’ do Sebrae e tudo o que eu aprendi eu aplico aqui dentro. Eu vendo meus produtos, eu faço minha propaganda, me tornei especialista, o Sebrae me preparou. O Sebrae me ensinou que a propaganda é a alma do negócio”, concluiu.

Fonte: https://agorarn.com.br/ultimas/propriedade-na-zona-norte-de-natal-cultiva-protagonismo-na-agricultura-organica/